Josefa Alves da Silva (Helena dos Tapetes)

23 de abr. de 2025

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 Sou filha natural das Alagoas, nasci em 23 de agosto de 1953, perdi meu pai aos 08 anos de idade e minha mãe quando tinha 17 anos, ficamos 09 irmãos bolando pelo mundo, cheguei ao Iguatu no ano de 1970, depois que meu marido que era metido a pastor fugiu com a esposa do nosso patrão, abandonando a mim e nossas três filhas. Vim morar na Vila Neuma, na casa de dona Maria Gomes, seu marido também era pastor, pastor Geraldo.

 Na enchente de 1974 eu morava num quartinho alugado ao pastor, com minhas três filhas, ficamos arranchadas no Gadelha. Nosso destino aqui era trabalhar nas cozinhas dos outros, era lavando roupa no rio, ariando alumínio, fazendo uma coisa pra um, outra coisa para outro, varrendo um quintal alheio, pelejando, até criar minhas filhas, elas trabalhavam também, cuidavam de crianças, iam pro rio e me ajudavam a lavar roupa, e assim se criaram graças a Deus, são donas de suas casas, têm a responsabilidade delas, eu tô na peleja, já tenho das minhas três filhas, cinco netos e um bisneto.

 O rio no começo foi muito bom, a gente lavava roupa, ganhava o tostãozinho da gente, não pagava nem água nem luz, aí depois que o IBAMA começou a proibir o povo de tomar areia o rio foi tomado pelo mato, aí acabou-se tudo, acabou-se a lavagem de roupa.

 No poço comprido acabaram com os lajedos, arrancaram tudo para fazer calçamento, fazer estrada, quebrando pedra para ganhar dinheiros, botavam aquelas bombas para esbagaçar as pedreiras mode tirar as pedras pra vender, pra mode fazer calçamento, fazer ponte, fazer tudo. Aí pronto, acabou-se a lavagem de roupas. Ali na ponte não dá para lavar mais roupa não, porque os esgotos da rua caem tudo dentro do rio, do Alto do Jucá, da Vila Neuma, não tem mais onde cavar uma cacimba. A gente plantava uma vazantezinha de feijão, de batata, comia alguma coisa, os vagabundos roubavam mas sobrava, tinha o peixe, hoje acabou-se a alegria do rio.

É esta a minha história



Os comprachicos, as dores fundas, as agonias lentas e o deputado De Assis Diniz

19 de abr. de 2025

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“A exploração dos infelizes pelos felizes. ”

 

Nas últimas semanas do ano passado, atendendo ao pedido do amigo Valderon a frente do COMDEMA, participei de seis reuniões deste conselho municipal do meio ambiente, a matéria que mais se discutiu naquele momento foi a poluição sonora de motos, paredões de som, bares e casas de show. Quando se mora em grandes cidades, pagam-se pesados tributos em energias, em bom humor, em tranquilidade a isto que se chama de civilização, de progresso, que está bem longe do conforto e da comodidade, ingredientes básicos da felicidade humana. Criou-se, nestes buliçosos centros urbanos, o que se chama de vida noturna, e para dar-lhe tonalidades atrativas e despertar o interesse coletivo, haja ruído, haja movimentação de luzes, de sons, haja tumulto de pessoas. Dolorosas as circunstâncias das famílias, que são obrigadas a viver nas proximidades destes lugares, porque são infernizadas durante a noite toda, e seguidamente durante todas as noites pelo frenesi e loucura das batucadas, dos gritos, das músicas estridentes, de toda uma parafernalha que mais parece uma extensão do próprio inferno.

Eu, nestes meus sonhos de senhor só, com minha indumentária de revoltoso, quase um selvagem, tendo esta visão grotesca da cidade, alimento em mim a Caatinga, com sua mata braba, enfezada mesmo, seus boqueirões, grotas, xique-xiques, mandacarus e outros cactos, fazendo  da mata ciliar do nosso rio minha casa, minha calçada onde recebo muitos que se sentem deslocados em meio ao murmúrio das praças públicas. Solitários que são o diminutivo dos selvagens, aceitos pela civilização.

Uma dessas manhãs do mês que se inicia, sentado na minha calçada, lendo “O homem que ri”, de Victor Hugo, e cumprimentando os transeuntes da avenida, aceno para um jovem senhora que passava guiando uma bicicleta, ela correspondeu ao meu aceno, parando sua bicicleta um pouco mais a frente, descendo desta e a empurrando, veio em minha direção , eu levantei-me e fui ao seu encontro. Conversamos:

- O senhor me cumprimentou, eu decidi parar, estou tão angustiada, preciso conversar com alguém.

- Pois estou pronto e às ordens, senhora, obrigado pela confiança e saiba que para lhe ouvir eu tenho todo o tempo do mundo.

- Não vai precisar de tanto, mas estou amargurada, me sentindo tão mal, talvez conversando alivie-me um pouco. Hoje é o dia do autista, eu sou mãe de uma criança autista, deixei de trabalhar para me dedicar mais ainda a ela, mais ao meu marido, aos meus pais já idosos que também precisam muito de minha atenção, de todo um conjunto da família.

- E este trabalho e obrigações têm lhe levado à exaustão, está cansada?

- Sim! Não! Não é isto, cansada e exausta estou, mas isto me dá orgulho, saber que me dedico, me entrego de corpo e alma a esta causa que é maior, bem maior que qualquer outra.

- Então o que te acabrunha?

- São as cobranças, as injustiças, não veem nada do que faço. Só me apontam, me cobram.

- E a senhora tem cobrado a si mesma? Tua consciência te condena?

- Não! Eu sei que tenho feito tudo que posso.

Naquele instante, lágrimas da fonte do desespero caíam de seus olhos, molhando o seu rosto, abracei-a e lhe disse:

- Se tem a consciência tranquila do dever cumprido, parte para teus afazeres. Ninguém pode te condenar e saiba que lá em cima há um velho de longas barbas fazendo as contas do mundo, e ele nunca erra, e com certeza está vendo a sua renúncia, a sua luta.

Quando partiu, lembrei o poeta, “Há dores fundas e agonias lentas, dramas pungentes que ninguém suspeita sequer...”. Agora o estrondoso som dos canos de motos, os paredões de som, tudo mais diminuiu de tamanho diante daquele quadro.

Dores fundas, agonias lentas vistas pelo Dep. De Assis Diniz, que apresentou junto à assembleia legislativa estadual, Projeto de Lei que cria o Programa Amigo do Autista, no âmbito da administração pública direta e indireta dos poderes do Estado do Ceará. Por meio desta proposta pretende implementar o programa Servidor amigo do autista, cujo objetivo é capacitar servidores públicos no acolhimento dessas pessoas, garantindo o atendimento mais qualificado e humanizado, promovendo a inclusão social destas pessoas.

“É nosso compromisso diário como representantes do povo, nesta casa, ser capaz de enxergar as necessidades e demandas mais urgentes e também elaborar propostas públicas que venham beneficiar a população.”, disse o deputado De Assis Diniz.

Necessidades e demandas enxergadas pela equoterapeuta Euda, no belo trabalho à frente da AME – Atendimento Multiprofissional Equoterapêutico, com sua escolinha de equitação sob a responsabilidade do amigo Tatá Locutor, no bairro Fomento.

Necessidades e demandas enxergadas pela APAE, Associação dos pais e amigos dos excepcionais, que tem na sua direção em Iguatu a Sra. Ieda Couras, e que foi impedida de desenvolver seus trabalhos junto a esta classe de excepcionais com a devida maestria, depois de ter esta associação sido roubada no montante de R$ 180.000,00 que lhe foi direcionado por uma emenda parlamentar do congresso nacional, no apagar das luzes da administração Ednaldo Lavor, fechando assim, um espetáculo de oito anos de corrupção, onde o povo só teve permissão para sofrer.

Recordando-me dos comprachicos, uma associação nômade, famosa no século XVII, esquecida no século XVIII, mas ainda não ignorada nos dias de hoje. Fazem parte da velha fealdade humana. Os comprachicos comercializavam crianças, compravam-nas e vendiam-nas. Não as roubavam, o roubo de crianças era um outro negócio. E o que faziam dessas crianças? Monstros! Para rir deles. O povo precisa rir, as esquinas precisam do seu arlequim, os Louvres precisam do seu bufão, as autoridades constituídas de direito precisam fechar os olhos para isso, como o rei James da Irlanda, pois precisava rir. Que o ex-prefeito Ednaldo Lavor continue rindo, rindo do bobo, rindo do povo.

 

Tenho dito

Cícero Correia Lima



Ig Catu - Museu Vivo: Nos trilhos da cultura 2025 - Rita de Souza

4 de fev. de 2025

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Senhora Rita de Souza, filha do casal Antônio Bernardo e Joaquina de Souza, naturais da cidade de Jericó na Paraíba, nasci no dia 26 de junho de 1933, o meu marido João Almeida de Araújo conhecido por João do Ó, era um padeiro fino de muito conhecimento na arte do pão e o seu Cirino contratou ele para trabalhar em sua padaria na cidade de Campos Sales, eu já tinha dois filhos com ele e ele se transferiu para trabalhar em Iguatu, numa padaria também pertencente ao Seu Cirino. O senhor Pedrosa, um paraibano que possuía caminhão, inventou uma viagem para as bandas do Maranhão, mas iria passar pelo Iguatu, eu não contei conversa, disse que vinha com ele nem que fosse no platinado do pneu, e assim subi com meus filhos Joilson e Joíra na carroceria do caminhão, e assim chegamos ao Iguatu. Quando aqui, fui convidada pela Matilde, mulher do carreteiro Zé Camilo, para ir lavar roupa no rio, roupas das casas de família, lavei roupa da Maria de Nelson, da Terezinha de Zé Correia, da Lindalva do Zé Adolfo do Dr. Antônio Alcântara e de sua mãe dona Consuelo, do Vereador João Rabelo. Saía do Tabuleiro em direção a uma dessas residências, depois de colocar a trouxa de roupa na cabeça seguia para a ladeira do Bugi, para os torrões, atravessava o rio e lá naquele areal colocava as roupas para quarar, depois de secar começa uma outra luta para engomar, às vezes passava a noite engomando para no outro dia cedinho estar com as roupas prontas para os patrões, aí recebia meu dinheirinho para diminuir as dificuldades dentro de casa. Aqui nasceram 12 filhos meus, mas a maioria deles foram enterrados quando criança, quem fazia o caixão para o anjo do momento era o velho Evaristo e sua esposa Lídia, aqui do Tabuleiro, dos nascidos aqui só se criaram quatro, com os dois nascidos na Paraíba foram seis, o Joilton, o Josivan, a Joelinha e Joelma, mas já estão com Deus no céu. Meu filho é meu companheiro e meu amigo, é uma graça maior que Deus me deu, meu filho primogênito e meu companheiro na velhice. Minhas últimas palavras são estas, se eu estiver viva vou estar lá para ouvir estas histórias, agradeço demais, eu nunca pensei, quem é que vai pensar que o povo de hoje em dia vai ter essa preocupação com a gente? Um dos sonhos que eu ainda tenho é poder rever o monsenhor Queiroga, esse padre e um grande amigo.

É esta a minha história.




Ig Catu - Museu Vivo: Nos trilhos da cultura 2025 - Júlia Mourão da Silva

4 de fev. de 2025

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Meu nome é Júlia Mourão da Silva, a minha história se eu soubesse ler eu ia escrever ela, seria um romance. Logo que chegamos aqui no Iguatu eu tinha uns 10 anos, viemos de São Paulo, meu pai havia juntamente com minha mãe ido morar naquelas terras no lugar por nome de Laranja Doce, na cidade de padre Feijó, ele, mamãe e mais quatro filhos, numa plantação de café, plantavam cuidavam e colhiam. Eu já nasci lá com mais dois irmãos meus, o resto da família que se compunha de 16 filhos já nasceram por aqui, morreram seis na infância, se criaram 10, meu pai chamava-se Pedro Mourão da Silva e minha mãe chamava-se Maria Francisca de Jesus. Eu nasci no dia 22 de agosto de 1951 viemos embora para o Ceará porque meu pai decidiu vir embora para perto dos seus pais que já estavam velhos e ele não queria que morressem longe dele, viemos para o sítio Caldeirão, depois do Quixelô, trabalhar na terra, plantar o milho, o feijão, o algodão, o arroz. Só viemos para o Iguatu quando meus avós morreram, viemos trabalhar nas terras do velho Valdir, irmão de Zé Nogueira e do Valci. Aqui começou o meu sofrimento, quando meu pai me jogou no meio da rua ao saber que eu estava em estado interessante, ele não aceitava esta condição, dizia que preferia sair morto do caixão de dentro de casa do que me ver com filho sem pai na casa dele. Meu pai foi muito carrasco comigo, minha barriga já estava crescida eu não tinha um vestido de bucho, mamãe pediu para ele comprar um tecido para fazer um vestido apropriado para minha gravidez e ele disse que comprava, mas eu teria que encoivarar quatro tarefas de terra para merecer, aí eu fui com a barriga pelas goelas, só eu e Deus.

Com tempo meu pai fez um casamento arranjado para mim, numa tentativa de me dar uma família, seu nome era Cícero Francisco da Silva, com ele tive seis filhos, Deus levou três e também a minha filha fora do casamento, meus outros três filhos, criei-os trabalhando dentro do Rio, lavando roupas das famílias do Iguatu, porque meu marido me trocou pela cachaça e nunca teve responsabilidade nenhuma com a família, eu batia o tijolo, encoivarava o tijolo, eu queimava as caieiras, tudo mais ele nos primeiros tempos do casamento, mas quando íamos receber o dinheiro ele recebia todo, por ser meu esposo, aí ia para o cabaré no sábado e só voltava na segunda-feira, sem deixar nunca nada em casa nem para mim nem para os meninos. O rio naquela época era um areal só até onde a vista alcançava, era só areia não tinha moita nem lixo. Levava meus filhos comigo, colocava os dois mais novos em uma banheira e os dois mais velhos sentados perto de mim, aí passava até as três, quatro horas da tarde. Nunca faltou uma trouxa de roupa para eu lavar, trazia tudo para dentro de casa e engomava no ferro a brasa, só então muitas vezes ia deixar em casas como a do senhor Toinho Alencar, a do Demar à noite. Quando a estiagem era grande e o rio secava, restavam alguns poços, como o mais próximo daqui, na passagem para a Beira Fresca, lá embaixo da ponte férrea, lá no poço comprido, no Bugi. Andávamos este mundão sempre buscando o sustento para dentro de casa, passei muitos momentos agonizantes aqui na vila Moura, estou aqui desde 1968, na grande cheia de 1974 fomos escapar todos lá dentro da CIDAO, o rio derrubou a grande maioria de nossas casas que eram todas de taipa. Só depois que conheci a  Associação dos Idosos  foi que comecei a ter uma vida social, onde nos reunimos com muitos outros idosos para dançar, viajar, palestrar e isso me tem dado momentos felizes na minha velhice. Tenho dos meus três filhos oito netos e um bisneto, transformei todo o sofrimento com muito trabalho com muita fé em uma família linda.

É esta a minha história.




Ig Catu - Museu Vivo: Nos trilhos da cultura 2025 - Francisca Gonçalves da Silva

4 de fev. de 2025

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Meu nome é Francisca Gonçalves da Silva, mas todos me conhecem mesmo é por Fransquinha de dona Edite. Nasci no dia 31 de Dezembro de 1951, aqui mesmo no Iguatu, filha do casal Pedro Gonçalves de Oliveira e Edite Simeão da Silva, mas quem me criou mesmo foi meus avós José Camilo Simeão da Silva e Maria das dores Porfírio da Silva, meu pai trabalhava como agricultor, ele dizia que enquanto ele vivesse filho dele e mulher não iam trabalhar para ninguém, nem na cozinha de ninguém, mas depois de sua morte mamãe se obrigou a ir lavar roupa no Rio para poder ganhar o pão e criar os filhos como muitas das mulheres daquela época.  Não havia água em casa só existia o rio. Eu seguia mamãe nessa luta pois já tinha 11 anos, lá em casa eram oito irmãos morreram dois e criaram-se seis, três homens e três mulheres, as mais novas ficavam na responsabilidade de Dora, minha vó, eu e mamãe passávamos cada dia por uma família diferente, menos no sábado e no domingo, durante a semana tínhamos as casas certas a casa de dona Conceição e de seu de Correinha, ou na casa de sua mãe dona Terezinha, na casa de sua tia Almira. Tínhamos muita amizade pois nosso pai quando vivo já trabalhava com sua avó, dona Conceição, nas terras do Cruiri, quando no inverno tinha a roça, no verão plantavam as vazantes durante o dia e à noite pescavam. Lembro de dois pés de jenipapos lá nas barrancas do Rio, uns pés de cajá, quando chovia nós crianças corríamos todos para catar cajá, a chuva formava o grande poço no tronco das Cajazeiras, as frutas caíam e não se machucavam, quando lá chegávamos papai já havia catado e colocado no cantinho de moita. Ô, quanta saudade eu tenho daqueles tempos, do meu pai.  Na grande cheia de 1974, eu morava no tabuleiro, umas casinhas de taipa do seu Doca Coura, lá não foi água mas todo mundo ao redor até ali na bodega do senhor Antônio Bezerra tiveram que abandonar suas casas e retirar seus móveis, guardando nas casas de algum conhecido.  Eram muitas as mulheres, nós atravessavamos o poço do Bugi ali na altura dos torrões e colocávamos as roupas para quarar naqueles areais depois de já termos lavado, batido em tábuas, cada uma tinha a sua, na falta tinha que procurar uma pedra. Com o tempo a necessidade obrigou-me a abandonar minha terra e fui em busca de trabalho em Brasília.

Esta é a minha história




Ig Catu - Museu Vivo: Nos trilhos da cultura 2025 - Josefa Alexandre Ferreira

4 de fev. de 2025

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Meu nome é Josefa Alexandre Ferreira, conhecida por Nizeuda, nasci há  26 de março de 1943, quem me criou foi minha avó Filomena, no sítio Cotia pertencente a Acopiara. Viemos para o Iguatu depois de eu ter casado, minha vó já havia morrido. Eram eu, meu esposo Manoel Cândido Ferreira e meus três filhos, o José Silvio, a Maria Ferreira e a Josefa Silvio, conhecida por Nem.  Primeiramente fomos morar no fechado, depois Mulungu, nós se levantávamos às 5 horas da manhã, tomávamos um cafezinho quando tinha, limpo. Não tinha nada, nem onde comprar. Comida só o almoço, depois voltávamos para a roça. Nas colheitas de algodão tínhamos direito à refeição, lembro da senhora Alda e do seu marido, o Borrego, lá no sítio Recanto. As coisas sempre muito difíceis na roça, resolvemos vir morar na cidade. Primeiramente moramos no tabuleiro, a minha cozinha era ligada à cozinha do seu Chico enfermeiro, fui trabalhar na casa do Vicente Araújo e de dona Núbia, com o tempo decidi arriscar a sorte com a lavagem de roupa dentro do Rio, lavava e engomava no ferro a brasa. As despesas eram muitas, todo dia eu estava dentro do rio, o dinheirinho era melhor.

Depois fomos morar numa vilinha de casas próxima ao parque de vaquejada, eram muitas as famílias, pessoas como a do senhor José Nobre, João Dias, Vicente Araújo e tantas outras sempre lavei as roupas no poço do Bugi, quando não na lagoa da Bastiana, no açudinho do Bevenuto, muitas vezes saíamos de casa sem ter o que comer, muitas vezes chegávamos em casa eu e minha filha Nem, com muita fome o dia todo no Rio só tomando água de cacimba e com dinheirinho ganho eu comprava o que comer dentro de casa, a gente ganhava pouco mas dava. Hoje o povo ganha muito e não dá para nada lá no Bugi era um ambiente agradável, aquele monte de lavadeiras colocando as roupas para quarar nos torrões, os meninos tomando banho e pulando do canal uma alegria contagiante tudo muito bonito, gostoso mesmo. Meu marido primeiramente foi vender picolé depois trabalhar de guarda na casa do Dr. Bandeira, por último montou uma banca na feira mas quando pegava no dinheiro ia direto para o cabaré. O pai dos meus filhos foi o Rio Jaguaribe, foi ele com o meu trabalho que me ajudou a criar meus filhos devo tudo a ele.  Dos meus filhos tem oito netos e 18 bisnetos.

É esta a minha história.




Ig Catu - Museu Vivo: Nos trilhos da cultura 2025 - Terezinha Ricarte de Oliveira

4 de fev. de 2025

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Eu trabalhava na roça, lavava, engomava, criei meus filhos todos, mas nunca fui empregada de ninguém.  Sou filha de Pedro Ricarte de Lima, conhecido por Doca e minha mãe chamava-se Ana Olegário de Oliveira, minha infância foi no sítio fomento, quando jovem lavei muitas roupas e os utensílios de casa, pratos panelas, tudo no Rio Jaguaribe. Houve uma época que eu só tinha um vestido, tirava, lavava, botava para secar, ia para dentro di rio com a água no pescoço, só quando o vestido secava eu saía, colocava o vestido, tirava a calcinha e lavava, mas nunca reclamei de nada na vida, sempre tive coragem e forças para trabalhar e sempre fui conformada com a vida, sempre fui feliz.  Casei-me no ano de 1961 com o senhor José Zuilo Vieira da Silva e tive sete filhos dele, o Francisco, o Pedro Neto, o Cícero, o Bento, a Maria Gorete e a Maria Socorro. Destes filhos tenho 14 netos e nove bisnetos logo que me casei fui morar com ele no sítio Varzinha, onde ele trabalhava nas plantações de algodão do velho Nelzinho Matias, vinha gente de todo canto, eram homens, mulheres e meninos, vinha gente de trem do Juazeiro, era um tempo de riqueza.

Quando ainda morava no fomento fui procurada pelo senhor Chico Luzia, me perguntando se eu não queria rarear 25 tarefas de algodão dele, afirmei que sim, quando fomos tratar do preço eu lhe disse que só queria o dinheiro todo, mas só quando terminasse o serviço, e assim foi feito, no dia que recebi o pagamento fui no comércio do Iguatu e comprei nove vestidos, era na época do novenário de nossa senhora do perpétuo Socorro no Prado, toda noite eu fui com um vestido novo e bonito, recordando daqueles momentos quando só tinha um vestido.

Na última noite de festa, lembro bem, deu um chuveiro muito grande e a sandália nova que eu havia comprado foi levada pelas águas.

 Quando viemos morar na cidade fui para uma casa na rua Orígenes Rabelo, bem próximo ao rio, ali comecei a lavar roupas das famílias, como a da dona Marlene, que era a diretora da escola do Prado,  Dona Maria José e muitas outras famílias. Lavava e engomava no ferro a brasa, era um magote de lavadeiras de roupa ali debaixo da ponte férrea, passávamos o dia por lá fazíamos a refeição, os filhos pescavam e se banhavam, lá era uma praia de verdade um verdadeiro paraíso.

É esta a minha história.

Reminiscências da senhora Terezinha Ricarte de Oliveira (Teresa), nascida em 06 de dezembro de 1931.