Ig Catu - Museu Vivo: Nos trilhos da cultura 2025 - Rita de Souza

4 de fev. de 2025

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Senhora Rita de Souza, filha do casal Antônio Bernardo e Joaquina de Souza, naturais da cidade de Jericó na Paraíba, nasci no dia 26 de junho de 1933, o meu marido João Almeida de Araújo conhecido por João do Ó, era um padeiro fino de muito conhecimento na arte do pão e o seu Cirino contratou ele para trabalhar em sua padaria na cidade de Campos Sales, eu já tinha dois filhos com ele e ele se transferiu para trabalhar em Iguatu, numa padaria também pertencente ao Seu Cirino. O senhor Pedrosa, um paraibano que possuía caminhão, inventou uma viagem para as bandas do Maranhão, mas iria passar pelo Iguatu, eu não contei conversa, disse que vinha com ele nem que fosse no platinado do pneu, e assim subi com meus filhos Joilson e Joíra na carroceria do caminhão, e assim chegamos ao Iguatu. Quando aqui, fui convidada pela Matilde, mulher do carreteiro Zé Camilo, para ir lavar roupa no rio, roupas das casas de família, lavei roupa da Maria de Nelson, da Terezinha de Zé Correia, da Lindalva do Zé Adolfo do Dr. Antônio Alcântara e de sua mãe dona Consuelo, do Vereador João Rabelo. Saía do Tabuleiro em direção a uma dessas residências, depois de colocar a trouxa de roupa na cabeça seguia para a ladeira do Bugi, para os torrões, atravessava o rio e lá naquele areal colocava as roupas para quarar, depois de secar começa uma outra luta para engomar, às vezes passava a noite engomando para no outro dia cedinho estar com as roupas prontas para os patrões, aí recebia meu dinheirinho para diminuir as dificuldades dentro de casa. Aqui nasceram 12 filhos meus, mas a maioria deles foram enterrados quando criança, quem fazia o caixão para o anjo do momento era o velho Evaristo e sua esposa Lídia, aqui do Tabuleiro, dos nascidos aqui só se criaram quatro, com os dois nascidos na Paraíba foram seis, o Joilton, o Josivan, a Joelinha e Joelma, mas já estão com Deus no céu. Meu filho é meu companheiro e meu amigo, é uma graça maior que Deus me deu, meu filho primogênito e meu companheiro na velhice. Minhas últimas palavras são estas, se eu estiver viva vou estar lá para ouvir estas histórias, agradeço demais, eu nunca pensei, quem é que vai pensar que o povo de hoje em dia vai ter essa preocupação com a gente? Um dos sonhos que eu ainda tenho é poder rever o monsenhor Queiroga, esse padre e um grande amigo.

É esta a minha história.




Ig Catu - Museu Vivo: Nos trilhos da cultura 2025 - Júlia Mourão da Silva

4 de fev. de 2025

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Meu nome é Júlia Mourão da Silva, a minha história se eu soubesse ler eu ia escrever ela, seria um romance. Logo que chegamos aqui no Iguatu eu tinha uns 10 anos, viemos de São Paulo, meu pai havia juntamente com minha mãe ido morar naquelas terras no lugar por nome de Laranja Doce, na cidade de padre Feijó, ele, mamãe e mais quatro filhos, numa plantação de café, plantavam cuidavam e colhiam. Eu já nasci lá com mais dois irmãos meus, o resto da família que se compunha de 16 filhos já nasceram por aqui, morreram seis na infância, se criaram 10, meu pai chamava-se Pedro Mourão da Silva e minha mãe chamava-se Maria Francisca de Jesus. Eu nasci no dia 22 de agosto de 1951 viemos embora para o Ceará porque meu pai decidiu vir embora para perto dos seus pais que já estavam velhos e ele não queria que morressem longe dele, viemos para o sítio Caldeirão, depois do Quixelô, trabalhar na terra, plantar o milho, o feijão, o algodão, o arroz. Só viemos para o Iguatu quando meus avós morreram, viemos trabalhar nas terras do velho Valdir, irmão de Zé Nogueira e do Valci. Aqui começou o meu sofrimento, quando meu pai me jogou no meio da rua ao saber que eu estava em estado interessante, ele não aceitava esta condição, dizia que preferia sair morto do caixão de dentro de casa do que me ver com filho sem pai na casa dele. Meu pai foi muito carrasco comigo, minha barriga já estava crescida eu não tinha um vestido de bucho, mamãe pediu para ele comprar um tecido para fazer um vestido apropriado para minha gravidez e ele disse que comprava, mas eu teria que encoivarar quatro tarefas de terra para merecer, aí eu fui com a barriga pelas goelas, só eu e Deus.

Com tempo meu pai fez um casamento arranjado para mim, numa tentativa de me dar uma família, seu nome era Cícero Francisco da Silva, com ele tive seis filhos, Deus levou três e também a minha filha fora do casamento, meus outros três filhos, criei-os trabalhando dentro do Rio, lavando roupas das famílias do Iguatu, porque meu marido me trocou pela cachaça e nunca teve responsabilidade nenhuma com a família, eu batia o tijolo, encoivarava o tijolo, eu queimava as caieiras, tudo mais ele nos primeiros tempos do casamento, mas quando íamos receber o dinheiro ele recebia todo, por ser meu esposo, aí ia para o cabaré no sábado e só voltava na segunda-feira, sem deixar nunca nada em casa nem para mim nem para os meninos. O rio naquela época era um areal só até onde a vista alcançava, era só areia não tinha moita nem lixo. Levava meus filhos comigo, colocava os dois mais novos em uma banheira e os dois mais velhos sentados perto de mim, aí passava até as três, quatro horas da tarde. Nunca faltou uma trouxa de roupa para eu lavar, trazia tudo para dentro de casa e engomava no ferro a brasa, só então muitas vezes ia deixar em casas como a do senhor Toinho Alencar, a do Demar à noite. Quando a estiagem era grande e o rio secava, restavam alguns poços, como o mais próximo daqui, na passagem para a Beira Fresca, lá embaixo da ponte férrea, lá no poço comprido, no Bugi. Andávamos este mundão sempre buscando o sustento para dentro de casa, passei muitos momentos agonizantes aqui na vila Moura, estou aqui desde 1968, na grande cheia de 1974 fomos escapar todos lá dentro da CIDAO, o rio derrubou a grande maioria de nossas casas que eram todas de taipa. Só depois que conheci a  Associação dos Idosos  foi que comecei a ter uma vida social, onde nos reunimos com muitos outros idosos para dançar, viajar, palestrar e isso me tem dado momentos felizes na minha velhice. Tenho dos meus três filhos oito netos e um bisneto, transformei todo o sofrimento com muito trabalho com muita fé em uma família linda.

É esta a minha história.




Ig Catu - Museu Vivo: Nos trilhos da cultura 2025 - Francisca Gonçalves da Silva

4 de fev. de 2025

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Meu nome é Francisca Gonçalves da Silva, mas todos me conhecem mesmo é por Fransquinha de dona Edite. Nasci no dia 31 de Dezembro de 1951, aqui mesmo no Iguatu, filha do casal Pedro Gonçalves de Oliveira e Edite Simeão da Silva, mas quem me criou mesmo foi meus avós José Camilo Simeão da Silva e Maria das dores Porfírio da Silva, meu pai trabalhava como agricultor, ele dizia que enquanto ele vivesse filho dele e mulher não iam trabalhar para ninguém, nem na cozinha de ninguém, mas depois de sua morte mamãe se obrigou a ir lavar roupa no Rio para poder ganhar o pão e criar os filhos como muitas das mulheres daquela época.  Não havia água em casa só existia o rio. Eu seguia mamãe nessa luta pois já tinha 11 anos, lá em casa eram oito irmãos morreram dois e criaram-se seis, três homens e três mulheres, as mais novas ficavam na responsabilidade de Dora, minha vó, eu e mamãe passávamos cada dia por uma família diferente, menos no sábado e no domingo, durante a semana tínhamos as casas certas a casa de dona Conceição e de seu de Correinha, ou na casa de sua mãe dona Terezinha, na casa de sua tia Almira. Tínhamos muita amizade pois nosso pai quando vivo já trabalhava com sua avó, dona Conceição, nas terras do Cruiri, quando no inverno tinha a roça, no verão plantavam as vazantes durante o dia e à noite pescavam. Lembro de dois pés de jenipapos lá nas barrancas do Rio, uns pés de cajá, quando chovia nós crianças corríamos todos para catar cajá, a chuva formava o grande poço no tronco das Cajazeiras, as frutas caíam e não se machucavam, quando lá chegávamos papai já havia catado e colocado no cantinho de moita. Ô, quanta saudade eu tenho daqueles tempos, do meu pai.  Na grande cheia de 1974, eu morava no tabuleiro, umas casinhas de taipa do seu Doca Coura, lá não foi água mas todo mundo ao redor até ali na bodega do senhor Antônio Bezerra tiveram que abandonar suas casas e retirar seus móveis, guardando nas casas de algum conhecido.  Eram muitas as mulheres, nós atravessavamos o poço do Bugi ali na altura dos torrões e colocávamos as roupas para quarar naqueles areais depois de já termos lavado, batido em tábuas, cada uma tinha a sua, na falta tinha que procurar uma pedra. Com o tempo a necessidade obrigou-me a abandonar minha terra e fui em busca de trabalho em Brasília.

Esta é a minha história




Ig Catu - Museu Vivo: Nos trilhos da cultura 2025 - Josefa Alexandre Ferreira

4 de fev. de 2025

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Meu nome é Josefa Alexandre Ferreira, conhecida por Nizeuda, nasci há  26 de março de 1943, quem me criou foi minha avó Filomena, no sítio Cotia pertencente a Acopiara. Viemos para o Iguatu depois de eu ter casado, minha vó já havia morrido. Eram eu, meu esposo Manoel Cândido Ferreira e meus três filhos, o José Silvio, a Maria Ferreira e a Josefa Silvio, conhecida por Nem.  Primeiramente fomos morar no fechado, depois Mulungu, nós se levantávamos às 5 horas da manhã, tomávamos um cafezinho quando tinha, limpo. Não tinha nada, nem onde comprar. Comida só o almoço, depois voltávamos para a roça. Nas colheitas de algodão tínhamos direito à refeição, lembro da senhora Alda e do seu marido, o Borrego, lá no sítio Recanto. As coisas sempre muito difíceis na roça, resolvemos vir morar na cidade. Primeiramente moramos no tabuleiro, a minha cozinha era ligada à cozinha do seu Chico enfermeiro, fui trabalhar na casa do Vicente Araújo e de dona Núbia, com o tempo decidi arriscar a sorte com a lavagem de roupa dentro do Rio, lavava e engomava no ferro a brasa. As despesas eram muitas, todo dia eu estava dentro do rio, o dinheirinho era melhor.

Depois fomos morar numa vilinha de casas próxima ao parque de vaquejada, eram muitas as famílias, pessoas como a do senhor José Nobre, João Dias, Vicente Araújo e tantas outras sempre lavei as roupas no poço do Bugi, quando não na lagoa da Bastiana, no açudinho do Bevenuto, muitas vezes saíamos de casa sem ter o que comer, muitas vezes chegávamos em casa eu e minha filha Nem, com muita fome o dia todo no Rio só tomando água de cacimba e com dinheirinho ganho eu comprava o que comer dentro de casa, a gente ganhava pouco mas dava. Hoje o povo ganha muito e não dá para nada lá no Bugi era um ambiente agradável, aquele monte de lavadeiras colocando as roupas para quarar nos torrões, os meninos tomando banho e pulando do canal uma alegria contagiante tudo muito bonito, gostoso mesmo. Meu marido primeiramente foi vender picolé depois trabalhar de guarda na casa do Dr. Bandeira, por último montou uma banca na feira mas quando pegava no dinheiro ia direto para o cabaré. O pai dos meus filhos foi o Rio Jaguaribe, foi ele com o meu trabalho que me ajudou a criar meus filhos devo tudo a ele.  Dos meus filhos tem oito netos e 18 bisnetos.

É esta a minha história.




Ig Catu - Museu Vivo: Nos trilhos da cultura 2025 - Terezinha Ricarte de Oliveira

4 de fev. de 2025

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Eu trabalhava na roça, lavava, engomava, criei meus filhos todos, mas nunca fui empregada de ninguém.  Sou filha de Pedro Ricarte de Lima, conhecido por Doca e minha mãe chamava-se Ana Olegário de Oliveira, minha infância foi no sítio fomento, quando jovem lavei muitas roupas e os utensílios de casa, pratos panelas, tudo no Rio Jaguaribe. Houve uma época que eu só tinha um vestido, tirava, lavava, botava para secar, ia para dentro di rio com a água no pescoço, só quando o vestido secava eu saía, colocava o vestido, tirava a calcinha e lavava, mas nunca reclamei de nada na vida, sempre tive coragem e forças para trabalhar e sempre fui conformada com a vida, sempre fui feliz.  Casei-me no ano de 1961 com o senhor José Zuilo Vieira da Silva e tive sete filhos dele, o Francisco, o Pedro Neto, o Cícero, o Bento, a Maria Gorete e a Maria Socorro. Destes filhos tenho 14 netos e nove bisnetos logo que me casei fui morar com ele no sítio Varzinha, onde ele trabalhava nas plantações de algodão do velho Nelzinho Matias, vinha gente de todo canto, eram homens, mulheres e meninos, vinha gente de trem do Juazeiro, era um tempo de riqueza.

Quando ainda morava no fomento fui procurada pelo senhor Chico Luzia, me perguntando se eu não queria rarear 25 tarefas de algodão dele, afirmei que sim, quando fomos tratar do preço eu lhe disse que só queria o dinheiro todo, mas só quando terminasse o serviço, e assim foi feito, no dia que recebi o pagamento fui no comércio do Iguatu e comprei nove vestidos, era na época do novenário de nossa senhora do perpétuo Socorro no Prado, toda noite eu fui com um vestido novo e bonito, recordando daqueles momentos quando só tinha um vestido.

Na última noite de festa, lembro bem, deu um chuveiro muito grande e a sandália nova que eu havia comprado foi levada pelas águas.

 Quando viemos morar na cidade fui para uma casa na rua Orígenes Rabelo, bem próximo ao rio, ali comecei a lavar roupas das famílias, como a da dona Marlene, que era a diretora da escola do Prado,  Dona Maria José e muitas outras famílias. Lavava e engomava no ferro a brasa, era um magote de lavadeiras de roupa ali debaixo da ponte férrea, passávamos o dia por lá fazíamos a refeição, os filhos pescavam e se banhavam, lá era uma praia de verdade um verdadeiro paraíso.

É esta a minha história.

Reminiscências da senhora Terezinha Ricarte de Oliveira (Teresa), nascida em 06 de dezembro de 1931.







Ig Catu - Museu Vivo: Nos trilhos da cultura 2025 - Maria Benedita Gonçalves

4 de fev. de 2025

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Meu nome é Maria Benedita Gonçalves, sou filha de Antônia Benedita André de Souza, meu pai chamava-se Eliseu Gabriel Gonçalves, sou natural do sítio Marizeira município do Cariús. Tive uma irmã caçula que morreu muito nova, só se criou, sou filha única. Vim para o Iguatu muito nova, meu pai havia falecido e as coisas ficaram muito difíceis para eu e mamãe, que também trabalhava na roça.  Aqui encontrei trabalho na casa de Sindufo, pai da Efigênia e da Neuma, moravam em um casarão na praça da matriz e ainda moram. Foi uma felicidade, uma nova história, uma casa de família todos muito bons para mim, me colocaram para estudar, queriam fazer de mim gente, eu fui quem não quis. Nasci a 29 de junho de 1957, engravidei de um caminhoneiro aluguei um quartinho e fui morar num cantinho ali próximo à rua do Cruzeiro, era uma fila de quartos que pertenciam ao Seu Expedito. Ali conheci o Virgínio, me apaixonei me juntei e fomos morar na vila Neuma, ele tinha uma bodega, me ajudou a criar a minha primeira filha e com ele tive duas outras a Virgiana e a Virgínia, a minha primeira filha chama-se Cícera. Ele sofria do vício da embriaguez, muitas vezes fui expulsa de casa. No ano de 1988 eu estava grávida de minha terceira filha, ele me botou para correr eu com a barriga pelas goelas, saí ali em meio à escuridão, por dentro do rio com os pés inchados, me sentei encostada naquele Pilar grande embaixo da ponte, sentindo muitas dores, ali um homem de calça e camisa branca se aproximou de mim, me assustei e ele me disse:

-Não tenha medo, eu sou o padre Patrício, você vai ficar bem.

 Eu voltei, tentei seguir pela ponte, um caminhão gaiola que vinha das bandas do Icó parou vendo a minha situação e me levou para a Casa de Saúde, lá minha filha nasceu.

 A bodega não progrediu, lembro que numa dessas grandes cheias do rio, a bodega foi invadida pelas águas, mas o Virgínio teimou em não sair, a água subindo e ele dentro da bodega, a polícia já o retirou a água acima do peito. Viemos morar na rua Padre Cícero, sem nada, a água carregou tudo até os porcos que criávamos. Aqui ele foi trabalhar de táxi lá na casa de saúde e eu fui lavar roupa nas casas de família, hoje continua o trabalho faço faxina nas casas.

De uma feita me contrataram para fazer a faxina na casa paroquial, haviam alguns quadros com imagens de pessoas na parede, em um deles, reconheci a pessoa que me apareceu no rio, perguntei a alguém que lá estava quem era, e me responderam:

 -Este é o padre Patrício que morreu afogado em uma das grandes cheias do rio Jaguaribe. Soube então que havia sido um milagre do padre.

Hoje estou em casa com minha filha Virgínia e meu neto Mateus, mas tenho três outros netos, meu marido faleceu há nove anos e apesar de todo sofrimento ainda sinto muita falta dele, ele amava estas três filhas.

É esta a minha história.






Ig Catu - Museu Vivo: Nos trilhos da cultura 2025 - Maria Alves da Silva

4 de fev. de 2025

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Senhora Maria Alves da Silva, conhecida por Rosa de Mundô, nascida a 13 de janeiro de 1945, no Crato, filha de Miguel Alves Vieira e Judith Alexandre de Lima, uma família de três irmãs e um irmão.

 “Eu nasci no Crato, meus irmãos já nasceram no riacho fechado, para baixo do Quixelô uma légua. minha mãe era vítima da violência de meu pai e um dia pegou meu irmão mais novo ainda de braço e voltou para o Crato, nós ficamos em casa esperando por papai, que quando chegou decidiu deixar minhas irmãs com os tios, seus irmãos e me trouxe com ele para o Iguatu. Aqui fiquei com a minha tia Maria, mulher de João macaco, meu pai arranjou um patrão que o levou para Capanema no Estado do Pará, nunca mais tivemos notícias dele, se morreu, se ainda está vivo.

Cresci e casei-me com Raimundo Evilásio da Silva, que trabalhava com calçamento, gostava muito de bola, tinha o seu time e gastava todo seu dinheiro, eu tinha raiva, os meninos passando fome, eu perguntava pelo dinheiro  e ele dizia:

- Comprei uma chuteira e uns meiões, coloquei uns biscoitos nas chuteiras gastei o dinheiro lá com o sapateiro Monteiro.

 Também fretava caminhão para ir por toda parte onde tinha jogo de futebol, os meninos com fome em casa e ele dizia “Hoje é meu pagamento”, e saía para a

Rua, ficávamos esperando pela sua volta, uma feira. Ele demorava, eu perguntava a alguém do povo por Mundô, e a resposta era sempre que ele está no campo treinando. Aí foi o jeito eu arranjar freguesia de roupa para lavar no rio, passava de segunda a sexta-feira no rio, ali por trás do matadouro antigo, na ladeira do Bugi.

O meu primeiro filho quase tive no rio, saí de lá umas três horas da tarde com uma trouxa de roupa lavada na cabeça, o pescoço quase que se sumia com  o peso, o Seu Pedro, meu sogro foi ao meu encontro para me ajudar a trazer a roupa. Quando foi às nove horas da noite meu filho nasceu na casa de saúde, eu tive nove filhos, criei-os junto ao rio, lá era uma beleza, muitas mulheres lavando roupa, na hora da merenda cada uma trazia alguma coisa, um café, outra farinha, rapadura, outra trazia bucho e tripa, era aquela fartura, comíamos nós e os nossos filhos, era sofrido mas era bom. Quando era no outro dia já estávamos ansiosas para voltar, e assim passaram os anos. Até que aconteceu uma tragédia, meu filho caçula, o Luiz Carlos, com apenas sete anos se afogou ali no poço do Bugi, eles tinham saído para brincar, eu já  havia aconselhado para eles não irem para as águas fundas. Estava lá, com as obrigações, quando meu filho Pedrinho chegou correndo aos gritos:

- Mamãe, mamãe, o Luiz Carlos morreu!

 Eu perdi o chão, não tive outra reação que não fosse chorar, me desesperei, meu filho ali escangotado, as pontas dos dedinhos roxos. Eu só sei que chegou um caminhão que retirava areia por lá, e me colocaram dentro da cabine, me entregaram meu filho ao colo e corremos para a casa de saúde, mas já estava morto. Todas as minhas boas lembranças dos tempos felizes no rio me remetem àquele momento trágico e cruel da minha vida, nunca mais fui lá.

É esta a minha história.