“A exploração dos infelizes
pelos felizes. ”
Nas últimas semanas do ano passado,
atendendo ao pedido do amigo Valderon a frente do COMDEMA, participei de seis
reuniões deste conselho municipal do meio ambiente, a matéria que mais se
discutiu naquele momento foi a poluição sonora de motos, paredões de som, bares
e casas de show. Quando se mora em grandes cidades, pagam-se pesados tributos
em energias, em bom humor, em tranquilidade a isto que se chama de civilização,
de progresso, que está bem longe do conforto e da comodidade, ingredientes
básicos da felicidade humana. Criou-se, nestes buliçosos centros urbanos, o que
se chama de vida noturna, e para dar-lhe tonalidades atrativas e despertar o
interesse coletivo, haja ruído, haja movimentação de luzes, de sons, haja
tumulto de pessoas. Dolorosas as circunstâncias das famílias, que são obrigadas
a viver nas proximidades destes lugares, porque são infernizadas durante a
noite toda, e seguidamente durante todas as noites pelo frenesi e loucura das
batucadas, dos gritos, das músicas estridentes, de toda uma parafernalha que
mais parece uma extensão do próprio inferno.
Eu, nestes meus sonhos de senhor
só, com minha indumentária de revoltoso, quase um selvagem, tendo esta visão
grotesca da cidade, alimento em mim a Caatinga, com sua mata braba, enfezada
mesmo, seus boqueirões, grotas, xique-xiques, mandacarus e outros cactos,
fazendo da mata ciliar do nosso rio minha
casa, minha calçada onde recebo muitos que se sentem deslocados em meio ao
murmúrio das praças públicas. Solitários que são o diminutivo dos selvagens,
aceitos pela civilização.
Uma dessas manhãs do mês que se
inicia, sentado na minha calçada, lendo “O homem que ri”, de Victor Hugo, e
cumprimentando os transeuntes da avenida, aceno para um jovem senhora que
passava guiando uma bicicleta, ela correspondeu ao meu aceno, parando sua
bicicleta um pouco mais a frente, descendo desta e a empurrando, veio em minha
direção , eu levantei-me e fui ao seu encontro. Conversamos:
- O senhor me cumprimentou, eu
decidi parar, estou tão angustiada, preciso conversar com alguém.
- Pois estou pronto e às ordens,
senhora, obrigado pela confiança e saiba que para lhe ouvir eu tenho todo o
tempo do mundo.
- Não vai precisar de tanto, mas
estou amargurada, me sentindo tão mal, talvez conversando alivie-me um pouco.
Hoje é o dia do autista, eu sou mãe de uma criança autista, deixei de trabalhar
para me dedicar mais ainda a ela, mais ao meu marido, aos meus pais já idosos
que também precisam muito de minha atenção, de todo um conjunto da família.
- E este trabalho e obrigações têm
lhe levado à exaustão, está cansada?
- Sim! Não! Não é isto, cansada e
exausta estou, mas isto me dá orgulho, saber que me dedico, me entrego de corpo
e alma a esta causa que é maior, bem maior que qualquer outra.
- Então o que te acabrunha?
- São as cobranças, as injustiças,
não veem nada do que faço. Só me apontam, me cobram.
- E a senhora tem cobrado a si
mesma? Tua consciência te condena?
- Não! Eu sei que tenho feito tudo
que posso.
Naquele instante, lágrimas da fonte
do desespero caíam de seus olhos, molhando o seu rosto, abracei-a e lhe disse:
- Se tem a consciência tranquila do
dever cumprido, parte para teus afazeres. Ninguém pode te condenar e saiba que
lá em cima há um velho de longas barbas fazendo as contas do mundo, e ele nunca
erra, e com certeza está vendo a sua renúncia, a sua luta.
Quando partiu, lembrei o poeta, “Há
dores fundas e agonias lentas, dramas pungentes que ninguém suspeita sequer...”.
Agora o estrondoso som dos canos de motos, os paredões de som, tudo mais
diminuiu de tamanho diante daquele quadro.
Dores fundas, agonias lentas vistas
pelo Dep. De Assis Diniz, que apresentou junto à assembleia legislativa
estadual, Projeto de Lei que cria o Programa Amigo do Autista, no âmbito da
administração pública direta e indireta dos poderes do Estado do Ceará. Por
meio desta proposta pretende implementar o programa Servidor amigo do autista,
cujo objetivo é capacitar servidores públicos no acolhimento dessas pessoas,
garantindo o atendimento mais qualificado e humanizado, promovendo a inclusão
social destas pessoas.
“É nosso compromisso diário como
representantes do povo, nesta casa, ser capaz de enxergar as necessidades e
demandas mais urgentes e também elaborar propostas públicas que venham
beneficiar a população.”, disse o deputado De Assis Diniz.
Necessidades e demandas enxergadas
pela equoterapeuta Euda, no belo trabalho à frente da AME – Atendimento Multiprofissional
Equoterapêutico, com sua escolinha de equitação sob a responsabilidade do amigo
Tatá Locutor, no bairro Fomento.
Necessidades e demandas enxergadas
pela APAE, Associação dos pais e amigos dos excepcionais, que tem na sua
direção em Iguatu a Sra. Ieda Couras, e que foi impedida de desenvolver seus
trabalhos junto a esta classe de excepcionais com a devida maestria, depois de
ter esta associação sido roubada no montante de R$ 180.000,00 que lhe foi
direcionado por uma emenda parlamentar do congresso nacional, no apagar das
luzes da administração Ednaldo Lavor, fechando assim, um espetáculo de oito
anos de corrupção, onde o povo só teve permissão para sofrer.
Recordando-me dos comprachicos, uma
associação nômade, famosa no século XVII, esquecida no século XVIII, mas ainda não
ignorada nos dias de hoje. Fazem parte da velha fealdade humana. Os
comprachicos comercializavam crianças, compravam-nas e vendiam-nas. Não as
roubavam, o roubo de crianças era um outro negócio. E o que faziam dessas
crianças? Monstros! Para rir deles. O povo precisa rir, as esquinas precisam do
seu arlequim, os Louvres precisam do seu bufão, as autoridades constituídas de
direito precisam fechar os olhos para isso, como o rei James da Irlanda, pois
precisava rir. Que o ex-prefeito Ednaldo Lavor continue rindo, rindo do bobo,
rindo do povo.
Tenho dito
Cícero
Correia Lima
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