Senhora
Maria Alves da Silva, conhecida por Rosa de Mundô, nascida a 13 de janeiro de
1945, no Crato, filha de Miguel Alves Vieira e Judith Alexandre de Lima, uma
família de três irmãs e um irmão.
“Eu nasci no Crato, meus irmãos já nasceram no
riacho fechado, para baixo do Quixelô uma légua. minha mãe era vítima da
violência de meu pai e um dia pegou meu irmão mais novo ainda de braço e voltou
para o Crato, nós ficamos em casa esperando por papai, que quando chegou
decidiu deixar minhas irmãs com os tios, seus irmãos e me trouxe com ele para o
Iguatu. Aqui fiquei com a minha tia Maria, mulher de João macaco, meu pai arranjou
um patrão que o levou para Capanema no Estado do Pará, nunca mais tivemos
notícias dele, se morreu, se ainda está vivo.
Cresci e casei-me com Raimundo
Evilásio da Silva, que trabalhava com calçamento, gostava muito de bola, tinha
o seu time e gastava todo seu dinheiro, eu tinha raiva, os meninos passando
fome, eu perguntava pelo dinheiro e ele
dizia:
- Comprei uma chuteira e uns meiões,
coloquei uns biscoitos nas chuteiras gastei o dinheiro lá com o sapateiro
Monteiro.
Também fretava caminhão para ir por toda parte
onde tinha jogo de futebol, os meninos com fome em casa e ele dizia “Hoje é meu
pagamento”, e saía para a
Rua, ficávamos esperando pela sua volta, uma feira. Ele demorava, eu perguntava a alguém do povo por Mundô, e a resposta era sempre que ele está no campo treinando. Aí foi o jeito eu arranjar freguesia de roupa para lavar no rio, passava de segunda a sexta-feira no rio, ali por trás do matadouro antigo, na ladeira do Bugi.
O meu primeiro filho quase tive no rio, saí de lá umas três horas da tarde com uma trouxa de roupa lavada na cabeça, o pescoço quase que se sumia com o peso, o Seu Pedro, meu sogro foi ao meu encontro para me ajudar a trazer a roupa. Quando foi às nove horas da noite meu filho nasceu na casa de saúde, eu tive nove filhos, criei-os junto ao rio, lá era uma beleza, muitas mulheres lavando roupa, na hora da merenda cada uma trazia alguma coisa, um café, outra farinha, rapadura, outra trazia bucho e tripa, era aquela fartura, comíamos nós e os nossos filhos, era sofrido mas era bom. Quando era no outro dia já estávamos ansiosas para voltar, e assim passaram os anos. Até que aconteceu uma tragédia, meu filho caçula, o Luiz Carlos, com apenas sete anos se afogou ali no poço do Bugi, eles tinham saído para brincar, eu já havia aconselhado para eles não irem para as águas fundas. Estava lá, com as obrigações, quando meu filho Pedrinho chegou correndo aos gritos:
- Mamãe, mamãe, o Luiz Carlos
morreu!
Eu perdi o chão, não tive outra reação que não
fosse chorar, me desesperei, meu filho ali escangotado, as pontas dos dedinhos
roxos. Eu só sei que chegou um caminhão que retirava areia por lá, e me
colocaram dentro da cabine, me entregaram meu filho ao colo e corremos para a
casa de saúde, mas já estava morto. Todas as minhas boas lembranças dos tempos
felizes no rio me remetem àquele momento trágico e cruel da minha vida, nunca
mais fui lá.
É esta a
minha história.
0 comentários:
Postar um comentário