Meu nome é Maria Benedita Gonçalves,
sou filha de Antônia Benedita André de Souza, meu pai chamava-se Eliseu Gabriel
Gonçalves, sou natural do sítio Marizeira município do Cariús. Tive uma irmã
caçula que morreu muito nova, só se criou, sou filha única. Vim para o Iguatu
muito nova, meu pai havia falecido e as coisas ficaram muito difíceis para eu e
mamãe, que também trabalhava na roça.
Aqui encontrei trabalho na casa de Sindufo, pai da Efigênia e da Neuma,
moravam em um casarão na praça da matriz e ainda moram. Foi uma felicidade, uma
nova história, uma casa de família todos muito bons para mim, me colocaram para
estudar, queriam fazer de mim gente, eu fui quem não quis. Nasci a 29 de junho
de 1957, engravidei de um caminhoneiro aluguei um quartinho e fui morar num
cantinho ali próximo à rua do Cruzeiro, era uma fila de quartos que pertenciam
ao Seu Expedito. Ali conheci o Virgínio, me apaixonei me juntei e fomos morar
na vila Neuma, ele tinha uma bodega, me ajudou a criar a minha primeira filha e
com ele tive duas outras a Virgiana e a Virgínia, a minha primeira filha
chama-se Cícera. Ele sofria do vício da embriaguez, muitas vezes fui expulsa de
casa. No ano de 1988 eu estava grávida de minha terceira filha, ele me botou
para correr eu com a barriga pelas goelas, saí ali em meio à escuridão, por
dentro do rio com os pés inchados, me sentei encostada naquele Pilar grande
embaixo da ponte, sentindo muitas dores, ali um homem de calça e camisa branca
se aproximou de mim, me assustei e ele me disse:
-Não tenha medo, eu sou o padre
Patrício, você vai ficar bem.
Eu voltei, tentei seguir pela ponte, um
caminhão gaiola que vinha das bandas do Icó parou vendo a minha situação e me
levou para a Casa de Saúde, lá minha filha nasceu.
A bodega não progrediu, lembro que numa dessas
grandes cheias do rio, a bodega foi invadida pelas águas, mas o Virgínio teimou
em não sair, a água subindo e ele dentro da bodega, a polícia já o retirou a
água acima do peito. Viemos morar na rua Padre Cícero, sem nada, a água
carregou tudo até os porcos que criávamos. Aqui ele foi trabalhar de táxi lá na
casa de saúde e eu fui lavar roupa nas casas de família, hoje continua o
trabalho faço faxina nas casas.
De uma feita me contrataram para
fazer a faxina na casa paroquial, haviam alguns quadros com imagens de pessoas
na parede, em um deles, reconheci a pessoa que me apareceu no rio, perguntei a
alguém que lá estava quem era, e me responderam:
-Este é o padre Patrício que morreu afogado em
uma das grandes cheias do rio Jaguaribe. Soube então que havia sido um milagre
do padre.
Hoje estou em casa com minha filha
Virgínia e meu neto Mateus, mas tenho três outros netos, meu marido faleceu há
nove anos e apesar de todo sofrimento ainda sinto muita falta dele, ele amava
estas três filhas.
É esta a
minha história.
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