Ig Catu - Museu Vivo: Nos trilhos da cultura 2025 - Maria Benedita Gonçalves

4 de fev. de 2025

 

Meu nome é Maria Benedita Gonçalves, sou filha de Antônia Benedita André de Souza, meu pai chamava-se Eliseu Gabriel Gonçalves, sou natural do sítio Marizeira município do Cariús. Tive uma irmã caçula que morreu muito nova, só se criou, sou filha única. Vim para o Iguatu muito nova, meu pai havia falecido e as coisas ficaram muito difíceis para eu e mamãe, que também trabalhava na roça.  Aqui encontrei trabalho na casa de Sindufo, pai da Efigênia e da Neuma, moravam em um casarão na praça da matriz e ainda moram. Foi uma felicidade, uma nova história, uma casa de família todos muito bons para mim, me colocaram para estudar, queriam fazer de mim gente, eu fui quem não quis. Nasci a 29 de junho de 1957, engravidei de um caminhoneiro aluguei um quartinho e fui morar num cantinho ali próximo à rua do Cruzeiro, era uma fila de quartos que pertenciam ao Seu Expedito. Ali conheci o Virgínio, me apaixonei me juntei e fomos morar na vila Neuma, ele tinha uma bodega, me ajudou a criar a minha primeira filha e com ele tive duas outras a Virgiana e a Virgínia, a minha primeira filha chama-se Cícera. Ele sofria do vício da embriaguez, muitas vezes fui expulsa de casa. No ano de 1988 eu estava grávida de minha terceira filha, ele me botou para correr eu com a barriga pelas goelas, saí ali em meio à escuridão, por dentro do rio com os pés inchados, me sentei encostada naquele Pilar grande embaixo da ponte, sentindo muitas dores, ali um homem de calça e camisa branca se aproximou de mim, me assustei e ele me disse:

-Não tenha medo, eu sou o padre Patrício, você vai ficar bem.

 Eu voltei, tentei seguir pela ponte, um caminhão gaiola que vinha das bandas do Icó parou vendo a minha situação e me levou para a Casa de Saúde, lá minha filha nasceu.

 A bodega não progrediu, lembro que numa dessas grandes cheias do rio, a bodega foi invadida pelas águas, mas o Virgínio teimou em não sair, a água subindo e ele dentro da bodega, a polícia já o retirou a água acima do peito. Viemos morar na rua Padre Cícero, sem nada, a água carregou tudo até os porcos que criávamos. Aqui ele foi trabalhar de táxi lá na casa de saúde e eu fui lavar roupa nas casas de família, hoje continua o trabalho faço faxina nas casas.

De uma feita me contrataram para fazer a faxina na casa paroquial, haviam alguns quadros com imagens de pessoas na parede, em um deles, reconheci a pessoa que me apareceu no rio, perguntei a alguém que lá estava quem era, e me responderam:

 -Este é o padre Patrício que morreu afogado em uma das grandes cheias do rio Jaguaribe. Soube então que havia sido um milagre do padre.

Hoje estou em casa com minha filha Virgínia e meu neto Mateus, mas tenho três outros netos, meu marido faleceu há nove anos e apesar de todo sofrimento ainda sinto muita falta dele, ele amava estas três filhas.

É esta a minha história.






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