Cícero Correia Lima – Legítimo de Braga
“Senhor Deus dos desgraçados / dizei-me vós Senhor Deus / se é loucura, se é verdade / tanto horror perante os céus/ …” (Castro Alves)
No momento em que todo mundo, dito civilizado, realiza ações propagadoras de uma contracultura do lixo pela salvação do planeta, na defesa da vida em toda sua extensão; no momento em que a bandeira da causa ecológica tremula ao vento e ao sol dos cinco continentes, nós, no Brasil, cometemos uma incivilidade, um crime bárbaro, cruel, horripilante: o assassinato de dois defensores da causa ecológica na Floresta Amazônica, o jornalista Dom Philips e o indigenista Bruno Pereira. Um crime monstruoso, vergonhoso, mas que tem a finalidade de intimidar outros defensores das bandeiras ecológicas, da vida. Os dois homicídios, não por coincidência, foram efetivados na Semana Do Meio Ambiente. Seus corpos foram esquartejados, queimados e jogados em uma vala na terra indígena do Vale do Javari, no Amazonas.
No momento em que todo mundo, dito cristão, escuta do Papa Francisco sobre o grito da Terra no âmbito da espiritualidade ecológica, sobre o colapso da biodiversidade, sobre a morte do planeta, sobre acolher os pobres na nossa vida diária, lembrando que quando Jesus iniciou sua missão de salvar a humanidade, o povo de Israel ia ao rio Jordão com a alma e os pés descalços para serem batizados. E pergunta: Como começa a vida pública de Jesus!? Ele que é o filho de Deus e o Messias vai às margens do rio Jordão e se faz batizar por João Batista. Após cerca de 30 anos vivendo escondido, Jesus não se apresenta com algum milagre ou subindo numa cátedra para ensinar, Ele coloca-se em fila com o povo que ia receber o batismo de João. O povo ia se batizar com a alma e os pés nus, e Jesus compartilha a sorte do povo. Ele não sobe acima de nós, mas desce com aquele povo humilde para o rio, com a alma e os pés nus. No momento em que nós, enquanto Secretaria do Meio Ambiente, Sustentabilidade e Proteção Animal e enquanto Associação dos Idosos de Santa Edwiges, descemos as barrancas do Rio Jaguaribe com alunos das escolas do município, do estado, particulares e universidades para conhecerem o imenso cinturão social, que hoje é o nosso rio, marginalizando as populações pobres das Vilas Neuma, Moura, São Gabriel e Chapadinha, com o projeto Jardins de Aristóteles, neste momento, o maior posto público do Brasil, a Presidência da República ocupado pelo senhor Jair Messias Bolsonaro, afirma, numa reunião com lideranças evangélicas, que ele (Jesus) não comprou pistola porque não tinha. Zurros de um estupidificado.
No momento em que todos os povos e nacionalidades têm ciência da proximidade do Ragnarok, do final do universo, da destruição dos deuses, da consumação dos destinos dos poderes supremos, trazidos pelo lixo que qual lobo Fenrir, cresce e fica cada vez maior e cada dia mais agressivo atacando a todos, enquanto humanidade. No momento em que todas as outras tentativas de se forjarem correntes que pudessem sofrear a ganância, a avareza, a cobiça, a traição, o medo, o lixo humano – responsável maior pela degradação do planeta e no planeta, se mostraram ineficazes, ineficientes, uma terceira e última tentativa se firma com a educação ambiental na formação do ser humano: construir em nós próprios, com elos da solidariedade, da caridade, da racionalidade, da humildade, da constância, do amor, como os anões do reino subterrâneo, possuidores de estranhos conhecimentos forjaram, com materiais mais fáceis de se encontrar do que os nossos, a exemplo do som da queda de um gato, uma barba de mulher, as raízes de uma montanha, os tendões de um urso, a respiração de um peixe, a saliva de um pássaro, uma corrente impossível de ser quebrada, mágica e macia como a seda, com que se prendeu a personificação do mal – o lobo Fenrir, fazer nascer uma contracultura do lixo, com a Educação Ambiental, formando em nós todos o ser humano, o ser honrado, o ser honesto, o ser humilde, o ser hospitaleiro.
No momento anterior à semana do Meio Ambiente saí entristecido, cabisbaixo, a pé daquela secretaria, onde ocupo o cargo de diretor do Núcleo de Educação Ambiental. O motivo era que a programação sob minha responsabilidade, se resumia, a um dia com os alunos do município nos Jardins de Aristóteles, com aulas empíricas e peripatéticas nas barrancas do nosso Rio. Na minha visão, muito pouco para real necessidade do nosso Rio da Onça, nosso Jaguaribe. Segui para UniFIC, busquei a sua diretora, a doutora Sandra Belchior, contei-lhe de minhas decepções, minhas fragilidades. E ouvi dela estas palavras:
– Pois faça mais, Neto Braga! Faça um cronograma para o Jardins de Aristóteles na Semana do Meio Ambiente. Coloque aí a UniFIC, a escola do futuro, o Fórum de sustentabilidade. Escreva uma crônica para que eu possa divulgar em nosso site. Vamos publicar um livro seu.
Aquelas palavras saíam da boca de Kianumaka Manã, aquele espírito livre, aquela deusa de liberdade que abençoava os guerreiros indígenas, trazendo o poder e a força para que enfrentassem os medos, vencendo as batalhas. Aquela mulher, deusa e onça.
Levantei-me e afirmei qual Deus Odin, revigorado de força:
– O que tiver de ser, será!!!
Tenho dito!
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