Legitimo de Braga
O Rio Jaguaribe e os seus centauros
“...Éramos nós e os cavalos, vindos do mesmo feitio, todos os outros já mortos, por esta causa contraria que se chamou poderio. Eu com uma bala no peito, no meu cavalo baixio, caímos na cordilheira, deixando a causa nas lendas para quem quiser desafio.”
Na segunda-feira 12 de Outubro participei a convite do meu amigo e companheiro de lutas Tatá Locutor da VI Cavalgada na cidade de Orós, lá conheci o idealizador deste evento, o vereador Samuel Romão, juntamente com outros parceiros como os locutores Carlos de Biba da nossa FM e Márcio Freitas, o cantor Guto Pereira, o padre Luís Henrique. Na oportunidade seguimos em carro aberto, o Tatá Locutor, eu e o poeta Zé Humberto do vizinho município do Icó, com a finalidade de enriquecer o evento dando a este um manto histórico-cultural, então conclamei os cidadãos da cidade de Orós a abraçarem esta luta pelo nascedouro desta contra cultura do lixo, afirmando que se a cidade de Iguatu é a maior poluidora do rio Jaguaribe, por ser a maior cidade as suas margens, com seus mais de 100.000 habitantes, a cidade de Orós é a mais prejudicada, pois lá fica estagnada toda a podridão jogada no rio pelas cidades que compõem o comitê da sub bacia do alto Jaguaribe, convidando ao vereador Samuel Romão a abraçar a causa ecológica, dando a cavalgada uma finalidade histórica, como a grande guerra, a maior guerra entre famílias de todo o sertão nordestino, a guerra entre os Montes do Icó e os Feitosas dos Inhamuns, tendo como cenário o rio Jaguaribe e sendo ali no boqueirão do Orós o ultimo refugio dos Montes, onde se entrincheiraram naquelas montanhas numa tentativa de suportarem as escaramuças, as investidas sanguinárias, onde os cachorros dos Feitosas eram trazidos para beberem o sangue dos Montes. A própria construção do açude, no governo Juscelino Kubitschek como também as fazendas e as vilas que foram cobertas pelas águas do grande açude, colocando a nossa historia na pauta escolar, para que nossos filhos conheçam nossa historia, nossa fauna, nossa caatinga, nosso rio Jaguaribe e conhecendo possam amar e amando possam salvar, quebrando com esta cultura imposta pelo estrangeiro que nós não somos nada, não valemos nada e que só é importante aquilo que vem de fora, alienando nosso povo, estupidificando nossa juventude, fazendo nascer com isto uma nação de escravos, e os mais desgraçados dos escravos, que é aquele que é escravo em sua própria terra, e que sem se aperceber disso vive a aplaudir o seu senhor.
Convidei então ao vereador Samuel Romão a criar comigo, se o povo do Iguatu me der a honra de levar esta bandeira ecológica para o nosso legislativo e ser lá uma atalaia em defesa da vida, sim, porque água é vida, a criarmos uma comissão de notáveis , vereadores comprometidos com a causa ecológica e visitarmos todas as câmaras municipais convidando-as a entrarem nesta grande luta, fazendo votar leis que propalem a consciência ambiental, que no currículo das escolas constem aulas de campo as margens do rio Jaguaribe, que conheçam nosso mundo, o mundo dos seus pais, o mundo dos seus avôs, a nossa civilização, a civilização do couro, de quem nosso maior historiador Capistrano de Abreu afirmou: “Quem povoou o Sul e o Sudeste Brasileiro foi a ganância pelo lucro. Quem povoou o sertão Nordestino foi a ânsia pela liberdade”. Aqui nasce a figura indômita do vaqueiro, aqui nasce o conselheiro em canudos, o caldeirão de José Lourenço no Cariri, aqui nascem os centauros como o vereador Samuel Romão do Orós, o vereador Jozias Lucas do Iguatu, o padre Anastácio no Iguatu, o padre Luís Henrique no Orós, que já se comprometeram a participarem da nossa IV Cavalgada Cívica Ecológica, trazendo do Orós alguns cavaleiros, vaqueiros, amantes da liberdade. Mas como não existe centauro sem amazonas, nem lampião sem Maria Bonita, quero terminar elogiando a beleza das mulheres sertanejas, como também a coragem e intrepidez inerente a todas elas na pessoa da jovem Ana Julia que participou por todo o trajeto da cavalgada e com quem tive o prazer de conversar, no final desta, no sitio Cacimba da Areia, contando essa historia:
“Era comum na grande guerra entre Montes e Feitosas, os casamentos a força de armas, quando uma família tinha em sua propriedade uma filha já moça com idade de 15 para 16 anos eram assaltados pelos adversários que levavam a jovem como despojos de guerra e como forma de humilhar a família. O chefe da família ofendida, por sua vez, esperava mais 15 ou 20 anos, até que daquela união nascesse uma filha e se fizesse moça para que ele fosse buscar a força de armas e casar com um de seus filhos. Neste contexto conta Humberto de Campos que um filho da família Montes, tentando frear aquela mortandade que já durava séculos aconselhou o pai a parar com aquilo, ouvindo deste:
- Meu filho, nem a tua santa mãezinha, que eu conquistei a força de armas, tendo como paga o sangue do meu irmão que tombou morto aos meus pés na grande empleita, nem a tua santa mãezinha que eu amo tanto. Nem a ela eu perdoo ser uma Feitosa.
Tenho dito
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