De Zopiro a Bolsonaro

5 de abr. de 2022

 

Legítimo de Braga

De Zopiro a Bolsonaro

 

“Não digas tantas vezes que estás com a razão

Deixa que o reconheçam os alunos

Não forces com demasia a verdade:

É que ela não resiste...

Escuta, quando falas.”

(Brecht)

 

- Greve! Greve!! Greve!!!

- Querem tomar nossos direitos!!

- É nosso! Foi papai Bolsonaro que mandou!

- Fique do lado de sua classe professor! Você está vereador mas é um professor!

Era este o cenário de nossa Câmara Municipal, na noite de Terça-Feira, 22 de Fevereiro, gritos, gritos, gritos de professores que tentavam desta forma pressionarem o legislativo municipal, ou antes, os vereadores situacionistas a não votarem um projeto de lei municipal que legalizou um aumento de pouco mais de 10% em cima do seu salário base. Estão em pé, diante da vidraça que separa o plenário do auditório, auditório que estava lotado no início da sessão ordinária, às 17:30 daquela tarde, por grande número de beneficiados  por outras medidas, outros projetos de lei que também estavam sendo votados, e que foi devagar e paulatinamente esvaziando. Naquele momento, um número que não chegava a vinte, era a quantidade de professores que insistentemente impediam o debate do projeto pelos edis no pleno. O vereador Pedro Lavor, num gesto de coragem, afirmou:

- Queria dizer aos professores que o prefeito Ednaldo foi que tirou vocês da geladeira.

No que foi seguido por uma tempestade de vaias. Numa nova tentativa de buscar a razão, o vereador João Torres lembrou que o prefeito Ednaldo Lavor, desde o início de sua primeira gestão, tem desobrigado a muitos de encargos tributários beneficiando taxistas, moto-taxistas, transportes intermunicipais, delivery, moto-fretes. Que naquele momento outras classes como agentes de saúde, guardas municipais, profissionais do trânsito, também estavam sendo beneficiados, gente que saía todo dia para trabalhar debaixo de sol e chuva para ganhar o pão de cada dia, e que eles próprios, os professores tiveram seus direitos assegurados quando o prefeito Ednaldo Lavor descongelou o anuênio  da classe.

Nova tempestade de vaias. A coisa só mudava de cenário quando os vereadores da base oposicionista usam o microfone para afirmarem que estavam ali para defenderem os professores, defendendo seus direitos e votando tudo que fosse para benefício da classe. Aí sim, os aplausos e gritos de apoio eram incontestes.

Em meio a tanta discórdia, discussões e decepções lembrei Zopiro, general de Dário na Pérsia, que era leal, mas quis parecer traidor:

Quando Dário ordenou o cerco à Babilônia, as previsões de uma rápida rendição da cidade não se confirmaram, prolongando-se o cerco em demasia. Zopiro, afastando-se do exército, se auto flagelou com um chicote até se tornar uma ferida viva, depois com uma faca cortou o nariz e as orelhas. E assim se apresentou ao seu rei, que logo o interpelou:

- Quem afrontou assim o meu mais valente soldado!?

- Ninguém senhor, fui eu mesmo que fiz. Eu sabia que se te pedisse permissão para tal, tu não me darias. Agora peço-te, deixe que eu siga com meu plano.

E assim, sangrando, ferido e mutilado, Zopiro foi bater diante de um dos portões de Babilônia, dizendo-se uma vítima de Dário, que o castigara daquela forma porque afirmara em uma reunião com o estado maior do exército que Babilônia jamais cairia em suas mãos, melhor seria levantarem o cerco e voltarem para casa.

Agora estava ali louco de ódio e de vingança.

Os babilônios acolhem-no, curam suas feridas, e quando forte e sarado entregam à sua coragem a responsabilidade de um dos portões da cidade, para que se um dia Dário passasse por ali, tivesse ele a sua vingança.

E à noite, quando toda Babilônia dormia, Zopiro abriu os portões a Dário, que entrou com seu exército em Babilônia.

Na opinião de Dário, Zopiro foi o maior dos persas depois de seu pai Ciro. Eu não invejo a atitude deste persa, que era leal e quis parecer traidor, mas naquele momento, naquela casa do povo, quantos traidores querendo parecer leais...?

Quantos ali naquele pleno foram leais ao déspota Agenor Neto nos seus 12 anos de tirania? Quantos legalizaram através do seu voto a imposição do medo, medo crônico, imposto a gerações, sempre com o predomínio da violência, quantos não votaram a toque de caixa a tomada de terrenos, ou antes, a paga de um preço irrisório, por estes? Quantos não votaram pela retirada de direitos como os já citados? Quantos não se omitiram, calaram-se e até defenderam neste mesmo pleno o referido déspota, quando algoz das liberdades cívicas, sequestrou e torturou cinco filhos desta amada terra do Iguatu?

Quantos? Quantos mais crimes? Quantos mais defensores? Quantos traidores querendo parecer leais? Quantos Bolsonaros? Cortando direitos trabalhistas, congelando salários e agora a oito meses da sua reeleição seduz a classe com o “cheiro do queijo” desses aumentos. As más colocadas palavras saídas da boca do meu antigo companheiro de lutas petistas, o vereador Rômulo Fernandes, e das quais já pediu desculpas publicamente, foram ditas num momento de enlouquecida pressão de alguns profissionais do magistério, e este deve ser perdoado. Numa visão minha, entendi que o nobre parlamentar quis afirmar que numa sociedade socialista, diferentemente de uma capitalista, os trabalhadores já não atuam pressionados pelo temor do desemprego, sendo esta a razão de muitos ali presentes, nem pela cobiça. Outros motores os impulsionam, como a solidariedade, a responsabilidade coletiva, a consciência dos deveres e direitos que levam o Homem além do egoísmo. Lembrando que o direito é o mesmo ou não existe, e nestes quase três anos de pandemia, muitos milhares de famílias tem num emprego público municipal a única tábua de salvação para não afundarem neste tumultuoso mar das necessidades.

Gritar para que o vereador professor seja solidário à sua classe, fazendo-o esquecer do compromisso com toda coletividade é no mínimo uma loucura. Seja um militar corporativista e veja, em segundos, toda a sociedade o apedrejar.

Que seja este pois, um momento de discussão, muita discussão. Que nos separe as ideias, as visões diferentes. Mas que não se separem as nossas mãos, na certeza de que nos cabe a construção de uma nova sociedade e sua educação. Que seja um momento de pôr a claro tantas ideias, e descobrirmos caminhos. Caminhos que nos levem à medida que o façamos à conquista de uma sociedade de iguais.

Parabéns pois aos vereadores da bancada situacionista em nossa Câmara municipal! Parabéns a Ednaldo Lavor, que tem enquanto gestor se mantido firme nesse fino e frio fio, como bom equilibrista.

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