13 de jan. de 2019


                                                             Legítimo de Braga

 Ahasverus, de Assis Diniz e a Civilização do Couro.
         O gênio é como Ahasverus ... Solitário
              A marchar, a marchar no  itinerário
              Sem termo de existir.
              Invejado! A invejar os invejosos...
              Vendo a sombra dos álamos frondosos....
               E sempre a caminhar... Sempre a seguir...

               Pede-lhe uma mão... Dão-lhe palmas
               Pede um beijo de amor – e as outras almas
               Fogem pasmas de si
               E o misero de gloria em gloria corre...
              Mas quando a terra diz:  “ Ele não morre “
             Responde o desgraçado: “ Eu nunca vivi! “...

Em minhas andanças no ano que hoje finda, pela ribeira do Jaguaribe, mas precisamente no distrito do Gadelha em Iguatu, buscando os gigantes filhos da terra que foram homenageados com o Troféu Anteu a 27 de novembro, encontrei-me com Ahasverus imortal, não, não se identificou como tal, nem mesmo pelo nome com que o conheceu um bispo da Pérsia que relatou existir em sua terra um contemporâneo da crucificação de Jesus, quando no Concilio de Niceia no ano de 325 d.c., nem mesmo pelo nome com que se apresentou ao bispo de Hamburgo na Alemanha, ainda no século XVI quando teve uma conversa com este, nem mesmo por aquele nome com que muitos o conheceram quando de passagem pela Península Ibérica, Juan Esperendios ( Espera em Deus ), nem mesmo por aquele que usou quando na Itália durante o período medieval, Giovanni Buttadeo ( o que bota fora Deus ), não, não se apresentou pelo nome que usava quando aportou em Pernambuco no tempo das invasões Holandesas, nem mesmo pelo nome que usou quando de passagem por Minas Gerais, foi visto chorando lagrimas de sangue diante de uma igreja num dia de sexta-feira da paixão. Confiado na pouca memoria dos povos, nos quase dois mil anos de peregrinação, na pele negra queimada pelo sol do tempo e do sertão cearense, nada nele lembra o Judeu que trabalhava num curtume em Jerusalém, condenado por Jesus a caminhar, caminhar sempre, ate que este volta-se. Firmando-se na misericórdia divina e nos quase dois mil anos de penitencia, agora adotou um nome que lembra vida, vida em abundancia, denomina-se Antônio Vidal. Reconheci-o, entretanto, por ter ainda uma ligação muito grande com o curtume onde trabalhou, pois apesar dos anos transcorridos, é um legítimo representante da civilização do couro, tendo sido apontado como o primeiro vaqueiro, o numero um daqueles sertões do Gadelha. Durante a nossa entrevista colhi frases que nos deixam ver bem o eterno penitente, caminhante e errante Homem:
...Um dia durante uma pescaria na lagoa do Barro Alto, por causa de um pequeno erro meu, que deixei fugir um peixe, ele me humilhou e quase me afogou na lama da lagoa. Voltei de lá a pé para o sitio Tanque e disse a minha tia:
_ Faça a minha trouxa que eu vou embora.
...
Sai pelo mundo sem destino, nesta viagem me encontrei com um cidadão montado a cavalo que tangia um garrote no rumo do Cariús e me perguntou para onde eu ia:
_ Vou sem destino, se eu achar alguém que possa pagar um dia de serviço, então, vou trabalhar.
_ Pois você quer me ajudara deixar este garrote lá no Cipó dos Vicentes?
Eram três léguas do Cariús para lá, fui a pé. Na volta, tangendo duas vacas com bezerros que ele adquiriu, comprou na feira do Cariús um chapéu e uma alpercata de couro, coisa simples, mas foi a primeira coisa que calcei na vida e já tinha meus 14 anos... Fui muitas vezes a pé com ele á cavalo, tangendo boiadas de 50, 60, e ate de 100 bois para Fortaleza, Pombal na Paraíba...
Ao ouvir estas palavras de resignação, de sofrimento, de luta, de coragem, lembrei o Cristo Jesus, quando em Betânia na casa de Simão o leproso:7. Aproximou-se dele uma mulher com um frasco de alabastro contendo um perfume muito caro. Ela derramou sobre a cabeça de Jesus quando ele se encontrava reclinado a mesa.8. Os discípulos ao verem isso, ficaram indignados e perguntaram: “ Por que este desperdício?”9. Este perfume poderia ser vendido por alto preço, e o dinheiro dado aos pobres.10. Percebendo isso, Jesus lhes disse: “ Por que vocês estão perturbando essa mulher? Ela praticou uma boa ação para comigo.11. Pois os pobres vocês sempre terão consigo, mas a mim vocês nem sempre terão.
Fiquei a meditar onde estaria o elo quebrado da corrente, lembrei a minha infância, o curtume de Antônio Lucio, vizinho ao matadouro público, ambos construídos nas barrancas do Jaguaribe, na curva do rio, no Bugi, ou antes na antiga estrada nova das boiadas, ou estrada dos Inhamus, foi por ali que chegaram nossos primeiros vaqueiros forçados pela carta regia assinado por Pedro II de Portugal, que em 1701 proibiu a criação de gado em todo o litoral brasileiro, priorizando a monocultura da cana de açúcar e o lucro obtido com o seu comercio, obrigando os criadores de gado a entrarem Jaguaribe a dentro em busca de novas terras para criação. Nascia ai, a civilização do couro, com o vaqueiro, os currais, as fazendas, as vilas, as contendas com os nativos, primeiros habitantes destas terras, onde praticamente tudo, cama, cadeiras, mesas, portas, vestimentas, chapéus, tudo era fabricado com couro, desenvolveu-se assim  no sertão, uma civilização com caracteres próprios que determinaram a originalidade de um povo forte que luta de forma estoica contra os ditames da natureza inclemente.
A ânsia pelo lucro nunca deixou que priorizassem o SER Humano, nem o nosso meio ambiente, como prova maior estar ai a principal artéria fluvial do sertão cearense ( Jaguaribe ), transformado num lixão, num verdadeiro esgoto a céu aberto e os nossos homenzinhos venais distantes dos Homens Honrados, Honestos, Humildes, Hospitaleiros, Humanos propagados pelo troféu Anteu, que o Instituto AGROPOLOS do Ceará sobre a presidência da senhora Ana Teresa Barbosa, jogando  luz na vida e na historia de tantos valentes, patrocinou o jantar para 400 talheres e as comendas para 10 agricultores, 10 vaqueiros e 10 camponesas no ano de 2018, onde cada um deles teve sua mesa particular luxuosamente ornamentada, com todos os seus familiares ao redor, dando-lhes dignidade, praticando uma boa ação para com esta gente que faz a nossa agricultura familiar, produz o leite, a carne e o artesanato contribuindo em muito para o desenvolvimento sustentável da nossa sociedade.
Hoje, no primeiro dia, do segundo governo do senhor Camilo Santana, escrevo esta crônica para agradecer ao secretario de Desenvolvimento Agrário De Assis Diniz pelo empenho em causa tão grandiosa que é o Projeto de Revitalização do Rio da Onça ( Jaguaribe ), mas no meio de tantos valentes e gigantes não seria de admirar se encontra-se nele um imortal, não a imortalidade de Ahasverus arrastada através dos tempos como penitencia e castigo, mas, a imortalidade do gênio, como Castro Alves, filho da musa, ou Napoleão Bonaparte com sua gloria, deixando um legado ou na poesia ou na arte militar, mas um legado, é na impossibilidade de driblar a morte que o sujeito, angustiado diante de sua construção individual, se volta para o legado, ou seja, para a herança que garantirá a memoria do seu nome após o fim de sua vida. É para a construção deste legado que convoco hoje o secretario da SDA, De Assis Diniz para que juntos, Associação dos idosos de Santa Edwiges, LIONS CLUBE Centenário João Alves Bezerra, Secretaria do Meio Ambiente e Urbanismo desta administração de um novo tempo adotemos o nosso rio da Onça, no Iguatu, fazendo dele a grande liça, a grande arena, onde possamos trabalhar a formação do SER Humano, replantando a sua mata ciliar, conhecendo a nossa fauna, nossa flora, nossa historia, criando uma trilha cívica-ecológica, fazendo com que nossas famílias voltem a frequentar nosso Jaguaribe, para que no futuro possa afirmar como Cesar:
_ Vim! Vi! E venci!!!
Vamos pro rio!!!!!

Tenho dito.
Cícero Correia Lima.

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