Vaqueiro Elói Lavor de Araújo

13 de jan. de 2019


Troféu Anteu

 Ao Homem com H maiúsculo, Honrado, Honesto. Ao gigante filho da terra.
Nos 60 anos do IFCE (campus Iguatu)
Quando o sertanejo chegou à porta da cabana, estava deitado no catre um Homem que pela sua imobilidade parecia dormir. O parecer era o de um velho na decrepitude.
Arnaldo aproximou-se do catre e apertou a mão do velho:
_ Bem-vindo Arnaldo. Já sabias que estavas de volta, disse o velho sem mover-se
_ Como o soubeste, Jó, se acabo de chegar?
_ Não careço de abrir os olhos para ver-te filho. Desde esta manhã é que eu te sinto chegar, ouço os teus passos.
_ E quando eu chego não te ergues dai para dar-me um abraço depois de tão longa ausência!
_Também já te abracei, filho, quando entraste, e ainda o tenho dentro d’alma.
(o sertanejo-José de Alencar)

Vaqueiro Elói Lavor de Araújo nasceu a 13 de outubro de 1943, no sitio Casquilho, filho do casal Francisco Medeiro de Araújo e Julieta Alves de Lavor. Casou-se a 23 de outubro de 1968 na igreja de nossa senhora de Perpetuo Socorro, no Prado, com a senhorita Marinalva Guedes de Araújo, tendo com ela 11 filhos, a citar: Elias, Maria do Socorro, Sebastião, Jesualdo (falecido), Julieta, Maria Amélia, Dinamerica, Gemerias, Antônio Guedes, Jeanne e Ana Paula.
Estas terras aqui na Malhada Limpa, papai recebeu de herança do meu avô Isidio Severino de Araújo, mas eu nasci no sitio Casquilho próximo ao Alencar, na época, pertencia ao Senhor Chico Montenegro. Antigamente, o povo sofria muito, eu não, meu pai toda vida foi rico, eu nunca sofri nada, eu nunca tive esse dia pra dizer, nos não temos o que comer. Papai tinha um gadim, plantava fumo, e fazia aquelas varas de fumo pra vender, nesta região, todo mundo fazia fumo, também era construtor, trabalhou na feitoria do açude Juscelino Kubitscheck que construiu de vila de casa na cidade do Orós.
Minha mãe a dona Julieta, morreu no parto do seu sexto filho, minha única irmã também faleceu aos 22 anos de um parto mal sucedido, papai constituiu uma nova família, casando-se com a senhora Edite Vieira Ibiapina, de onde vieram mais 14 irmãos meus, criaram-se 8. Minha madrasta foi a melhor pessoa que eu conheci no mundo, num podia haver uma pessoa melhor do que ela.
Papai nasceu no dia 10 de janeiro de 1915. Em 1971, vendeu estas terras e foram todas para uma nova propriedade, na cidade de são João do Piauí.
Na minha infância estudei muito com o mestre Zé Francisco na Várzea Grande, com a professora Marilia no sitio estrada, mas nunca tive a cabeça muito boa para essas coisas, só aprendi a assinar o nome em 1968, umas safras de algodão muito grande vieram uns parentes de papai ajudar na colheita, entre eles minha prima Marinalva, esta paraibana de Patos que está lhe aprontando o almoço, com dois meses nos casamos.
Quando papai se resolveu a morar no Piauí, ela me pediu para não ir, queria ficar mais perto da família na Paraíba, fiquei morando numa tapera velha de barro, que pertenceu a meu avô, muito procotó (barbeiro). Papai deixou um coberto, e em terras de minhas tias, que fiquei por conta plantei muito algodão. Hoje, é 8 ou 10 pessoas dentro de casa, esperando esta aposentadoriazinha, antigamente, era 8, 10 pessoas no curral, na capoeira de algodão. Toda vida fui muito trabalhador, nunca gostei de moleza não, era dias e dias, na capoeira, apanhando algodão, dentro da jurema tangendo o gado. Tenho um pedacinho de terra dentro do açude, quando o Orós enche, ai tenho minha vasasante, passava a noite toda agoando arroz, as aguas difíceis, mas ai chegava o Aracati (vento), as águas aumentavam, era bom demais. Uma vez, eu vinha com a canoa cheia de batata, as ondas maiores do mundo, quase morri, quando cheguei na beira do açude, a canoa afundou.
Meu neto Ivo (Higor Emanuel), às 4 horas da madrugada, já está no curral mais eu, desde os oito anos é um cabra trabalhador, estuda no sitio estrada, tem 15 anos e já faz o nono ano. Mas a seca está se prolongando, conheço casa de gente, que tinha uma maromba de gado, hoje, não tem nenhuma, meu caçula o Antônio Guedes, comprou uma roça que era de papai e me entregou, minha menina, a Maria Amelia, comprou outro pedaço de terra que pertenceu a minha tia. Nosso primeiro neto se formou agora em psicologia na Paraíba, temos 19 netos e 01 bisneto.
Papai morreu em fevereiro de 2013, na cidade de são João do Piaui. Mas todos os anos mas, todos os anos eu ia onde estava papai, depois que ele adoeceu eu ia duas vezes no ano, levava um dos meus meninos, deixava cuidando dele dois três meses. Já tava caducando. Não conhecia mais a gente. Oito horas da noite, acordava, sentava na rede, batia palma e gritava:
_Opa! Faça um cafezinho, me feche um cigarro.
Pronto, ali agora, era a noite toda conversando.
As doenças foram chegando, teve que amputar uma perna, depois a paralisia em uma parte do corpo e finalmente a próstata que o matou. Mijava sangue, chorava e gritava como uma criança. Eu não gosto nem de falar nisso, todos os anos eu faço meu exame de próstata.
Eu sou um Homem feliz graças a deus, nunca fiquei devendo uma prata a ninguém. Nunca recebi uma cobrança em minha porta.
_O senhor se considera um Homem livre?
_Eu!? Graças a Deus, me considero. Nunca tive má querência com ninguém, em todo canto que eu ando todo mundo gosta deu. Tenho meus filhos, meus netos, pra mim tá bom demais, com setenta e tantos anos tá bom demais.

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