Ao gigante filho da
terra
Apoio:
Secretaria do Meio
Ambiente e Urbanismo – Dr. Marcos Ageu
Secretaria de Cultura
e Turismo – Lucinha Felipe
Secretaria de
Agricultura e Pecuária – Hildernando Barreto
Lions Clube
Centenário João Alves Bezerra
Associação dos idosos
de Santa Edwiges
Prefeitura de um novo
tempo
Secretaria de
Desenvolvimento Agrário do Governo do Estado (SDA) – AGROPOLOS – De Assis
Diniz.
Sítio Itans
“"O senhor não tem com que tirar
água, e o poço é fundo. Onde pode conseguir essa água viva? Acaso o senhor é
maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, do qual ele mesmo bebeu, bem
como seus filhos e seu gado?"
José Vieira de Souza (Zé Vieira) filho do casal Manuel
Vieira de Souza e Maria Cândida de Souza.
- Nasci a 15 de Março de 1931, aqui mesmo no sítio Itans,
mas meu pai contava que chegou aqui com idade de 5 anos, tendo nascido em 23 de
Maio de 1877, numa seca muito grande, com idade de 28 anos partiu daqui para o
Norte, com o sonho de enricar com a extração da borracha, levado por um irmão
que tinha o nome de Guilherme e que já vivia por lá com um outro irmão seu por
nome de Casimiro. Infelizmente, a viagem não foi propicia, tendo o Guilherme
falecido na viagem, tendo sido enterrado num vilarejo as margens do rio
amazonas. Mas papai, ainda passou por lá 8 anos, dizia que tinha achado muito
bom, trouxe uma condição boa, dois filhos que nasceram no Norte, mas a sua
primeira esposa Antônia, nunca teve saúde por lá, vivia pedindo para virem para
o Ceará. Chegou aqui em Junho de 1913. Nasci do segundo casamento do meu pai, eu e
minha irmã Amália Vieira de Souza, do primeiro casamento meu pai me deixou quatro irmãos Francisca,
Veneranda, Alcides e Nazaré. Minha infância foi construída de trabalho, meu pai
além de agricultor era carpinteiro, aprendi com ele as duas profissões, com
idade de seis anos já estava ao seu lado com uma enxada, trabalhando na terra.
Com idade de 15 anos, era cambiteiro, tínhamos 4 jumentos, com que carregávamos
lenha para usinas como a Boris, as Caldeiras
que impulsionavam as válvulas a vapor para os canais de irrigação da
Penha. Na Penha, tinha um engenho que trabalhava seis meses, fazendo rapadura,
pertencia a família Bezerra, era um mundo de cana de açúcar, naquele tempo não
existia estas plantações de arroz e capim, era uns canos de 12 polegadas
jogando muita água em cima destas plantações de cana, de dia e de noite. Estas
bombas, puxavam água, não era de cacimbão, era de poços naturais do Jaguaribe,
poço de Giquini, poço de Quiko Chavier, Poço comprido, poço da caieira, poço do
Bugi, Poço grande da Penha.
Me pus rapaz, nunca
tive infância boa, com idade de 18 anos fiquei com a responsabilidade da casa,
pois o meu pai ficou paralitico, tendo eu ficado responsável pelas despesas com
papai, mamãe, minha irmã e duas netas
dele que são minhas irmãs de criação. Me casei no ano de 1959, no dia 11 de
Junho, com a senhorita Maria Cardoso de Araújo, natural do sítio Cajazeiras,
casamento civil, ai tome um filho todos os anos, o primeiro foi o Evilazio,
depois a Efigênia, Estácio, Erlandio, Erlaudio, Eudezia, o derradeiro foi o
Evandro. Ai trabalhei como jumento para criar estes filhos e não vê-los passar
fome. Papai já havia morrido em março de 1956, minhas irmãs casaram. Fiquei com
minha mãe e minha esposa, no verão ia fazer cadeiras de couro, naquele tempo
tinha muita saída, então fazia uma economiazinha para no inverno trabalhar na
roça, que era pra manter o alimento na mesa, plantava o milho, o feijão, o
arroz e o algodão para cobrir alguma despesa, tinha que ter a feira para
comprarmos o café, açúcar, farinha, tempero. Toda vida criei umas vaquinhas.
Nunca tive muita liberdade em minha vida não, sempre tive muita canseira de
trabalho, mas meu pai já me advertia quando eu era criança, dizia que eu era
mole, com o tempo passou a me gaba.
Em 1974, eu com esta
família, os meninos tudo pequeno, o rio entrou dentro de casa, depois da
enchente resolvi construir uma nova casa, pois a antiga levantada pelo meu avô
estava impropria, ai aconteceu um verdadeiro mutirão, vinha ajuda de todos os
lados, meus cunhados das Cajazeiras, pessoas aqui das Itanhs, o Antônio
Birranha que muito fez, o Creozete que tinha uma rural e foi buscar madeira num
sítio próximo a serra do Bravo. Sem nenhuma despesa minha, o que fiz em verdade
foi vender um garrote para comprar prego, arame e dar de comer as
trabalhadores. Entrei dento desta casa no dia 11 de Junho de 1974, a casa ainda
sem portas faltando alguma coisa, mas com o tempo fui ajeitando.
Hoje, estou
aposentado, mas quando ficou difícil a venda das cadeiras, inventei de plantar
arroz, na seca e no inverno. Dr. Hildernando cavou um cacimbão aqui na
associação quando prefeito, era água a vontade, água de dia e de noite e hoje
nos nós encontramos nessa situação não se pode plantar mais nada. Também estou
quase cego, a velhice machuca, mas tem pessoas que ainda gostam de mim. Tenho 2
filhos em São Paulo, mas os outros 5 estão aqui, 4 do meu lado e 1 filha no
sítio Cajazeiras.
- O senhor é feliz?
- Assim, não sei nem dizer, numa parte sou, noutra não, mas
fazer o quê? É assim que Deus quer. Tem dia que da uma tristeza na gente. Quando viemos morar nesta casa éramos 10
pessoas, eu minha mulher, sete filhos e mamãe. Hoje, quando fechamos as portas
é só eu e ela, dois velhos. Mas de dia é cheio de gente, filhos e netos.
- O senhor se considera um homem livre?
- Sou livre! Graças a Deus sou livre, não devo dinheiro, nem
tenho mau querência com ninguém. O que eu tenho são estas garras de terra, onde
lutam meus filhos, apesar de alguns
terem emprego na rua.
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