4 de nov. de 2018

Legítimo de Braga
TROFÉU ANTEU
Aos gigantes filhos da terra.
Apoio:
Secretaria do meio ambiente e desenvolvimento urbano – Dr. Marcos Ageu
Secretaria de Agricultura e pecuária – Hildernando Barreto.
Secretaria de Cultura e turismo – Lucinha Felipe.
LIONS Clube Centenário João Alves Bezerra.
Associação dos idosos de santa Edwiges.
Prefeitura de um novo tempo.

Antônia Alves da Silva, conhecida por Antonieta, nasceu a 18 de março de 1941, filha do casal João Alves da Silva e Maria Monica da Conceição, numa prole de 16 filhos, 04 destes morreram ainda na pequena infância, segundo ela, de doença de menino, criando-se 12, 11 mulheres e 01 homem, todos criados na roça.
Moramos 26 anos na ribeira do Jaguaribe, bebi muita água do rio, tirada de cacimba, cavada na areia, com uma cuia de Coité. Naquela época o rio Jaguaribe era limpo, era de ouro, não tinha lixo, não tinha bicho morto, não tinha esta exploração de areia. Nasci no sitio Amapá, nas terras do senhor Stenio Clementino, quando criança, ouvia muito ele contar da origem do nome do riacho dos defuntos. Dizia que lá no começo do século XX, houve um tiroteio muito grande numa mata próxima ao Amapá, entre a polícia e o cangaço, deixando muitos mortos e feridos, estes feridos, sedentos, se arrastavam até a margem do riacho e lá muitos morreram, foi daquele tempo que a região ganhou estes 02 nomes, Várzea do Fogo e Riacho dos Defuntos.
O pessoal lá chamava papai era de mestre João e sua rapaziada de saia, eu sou a sétima filha, nesta ordem, Maria das Dores, Mariquinha, Francisca, Irene, Auderiza, Berenice, eu, Cândida, Elisabete, Socorro, Francisco e a Julia. Papai nos levava tudo de manhã para a roça, uma cabaça d’água na cintura, mamãe ficava para fazer a merenda, massa de milho com goma, fazia o beiju, depois ia nos deixar, trazia também um bule de café. Plantávamos milho, feijão, fava, algodão, amendoim, arroz, gergelim era muita fartura. Todos nós tínhamos a nossa enxada, papai não pagava trabalhador, ficávamos na roca até as 11 horas, depois, almoçar em casa, a tarde a mesma lida. Com o tempo fomos crescendo, aí veio a necessidade de estudar, então nos dividimos para não deixar papai sozinho na luta, umas estudavam de manhã, outras a tarde. Quando o rio estava seco íamos a pé, quando tinha água, durante o inverno, nos servia a canoa dos Rodrigues, estudávamos no grupo escolar do Cardozo I, meu primeiro professor foi o senhor Manuel Carlos, esposo de Dona Aurineide, lá em casa todos aprenderam a ler e escrever. Não tinha a mordomia de hoje, com ônibus na porta, merenda, farda e bolsa. Nós não tínhamos isto, era muito sacrifício para conseguir, e olha que papai além de agricultor era carpinteiro e pedreiro. O material, papai comprava dois cadernos pequenos e partia as folhas com os filhos, um lápis, uma borracha e a recomendação que não era para perder. Se perdesse, castigo e peia. Com idade de 7 anos, eu já pastorava o arroz na vazante, para evitar os passarinhos. Hoje a gente planta uma melanciazinha, quando estiver vingando, vem um de fora e carrega, você fica só na vontade. Hoje eles carregam o jerimum, a melancia, o celular, a vida.
Para mim só existe 3 maravilhas, a vida, a chuva e a terra molhada para mim trabalhar. Quando chegávamos da luta, por volta de quatro e meia, cinco horas, íamos tomar banho no riacho dos defuntos, que passava nas costas lá de casa. Depois, papai chamava nós todos e sentávamos no chão do terreiro, em círculo, ele sentava no meio e íamos tirar o terço de nossa senhora, isso, todo dia. Hoje, eu estou com 77 anos e ainda trabalho na roça, graças a Deus tenho muita saúde. Durante os anos de 2012 e 2013, plantei nas terras do senhor Tobias, o feijão já estava florando, eu andando dentro da roça de bota, esta enganchou numa rama de feijão, caí em cima de um toco, perfurando minha barriga. Mas, graças a deus me recuperei, ainda tenho muita saúde e ainda estou na roça. O meu companheiro Antônio Francisco da Silva, trabalha fora, só me acompanha na roça, no sábado e no domingo, durante a semana sou eu só, mas cato o feijão todo e boto dentro de casa.
Casei-me no dia 30 de setembro de 1962, duas horas da tarde, na catedral de Senhora Santana, com o Antônio Ferreira Lima, já falecido, que foi pai de 2 filhos meus, o Francisco Vando que faleceu aos 7 meses e o José Alves Ferreira, que estar em São Paulo, mas já me deu 2 netos, o Rodolfo e a Rebeca, esta já me deu a primeira bisneta a Alice, moram em Guarulhos, mas de vez enquanto estão aqui. Já fui escrava de patrão em São Paulo, lá é completamente fechado, você não tem liberdade de andar, aqui nas terras do Piripiri eu sou livre e muito feliz, muito, muito!!! Eu amo a vida demais. Sou muito feliz, gosto de viver.


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