Troféu Anteu
Ao Homem com H
maiúsculo, Honrado, Honesto.
Ao gigante filho da
terra.
Nos 60 anos do
IFCE-Campus Iguatu
...
- O que posso
asseverar ao Sr. Capitão-mor é que não serei nunca nem vaqueiro de fazenda, nem
marido de mulher alguma.
- Há de ser!
- Outro Arnaldo sim, este não!
- Há de ser, e quem diz é o Capitão-mor Gonçalo Pires
Campelo.
O primeiro impulso de
Arnaldo foi desabrir-se contra a resolução que o velho acabava de anunciar com
a fórmula solene da vontade inabalável. Mas ele queria e venerava aquele velho com
amor de filho. Reservando-se para defender mais tarde e no momento preciso sua
liberdade conteve-se nesta ocasião. Se opusesse á tenacidade do fazendeiro seu
cará ter indomável, o choque havia de ser terrível.
Limitou-se o sertanejo
a dizer:
- Sabe Deus o que será.
- Com ele o deixo, e rogue-lhe, Arnaldo, que o faça um Homem
para honrar a memoria de seu pai.
Agricultor José Honório Neto, por alcunha “Zé Preto”,
nascido a 29 de Outubro de 1953, no sítio Carrapicho, na propriedade do seu
Avô, o velho José Honório, filho primogênito do casal Afonso Honório da Silva e
Ana Alves de Araújo, numa linhagem de nove irmãos. Casou-se com a senhorita
Estefânia Quinio de Souza no dia 02 de Janeiro de 1974, na Igreja de Nossa
Senhora do Perpétuo Socorro, no bairro Prado, criando com ela sete filhos, a
citar: Elson, Elton, Mariza, Diana, Ademir, Janecleia e Maria José.
Na época de papai a
coisa era difícil, não tínhamos nem uma chinela pra ir a escola, roupa, se
tivesse era um pano velho deteriorado. Mas, falando de outro modo, fomos
criados de barriga cheia, num tinha era esse negocio de luxo, não. Tínhamos
prazer em viver. Milho, feijão e arroz, a gente tinha sobrando, em 58 não,
época de seca, no amanhecer do dia papai arriava um jumento, me botava no meio
da cangalha e nós íamos pro Alencar, trabalhar na rodagem, ficava só encostando
os carrinhos de mão, seco, nos barrancos de terra, pros pião encher. Água,
vinha numa pipa, vermelha que só ela, mas nós agradecia, nossa merenda era
pipoca e a tarde um pirão de farinha com caldo. O feijão que papai levava para
casa como forma de pagamento, mamãe, cozinhava, depois pilava, passava na
peneira e fazia uma papa para nós comer. Com idade de sete anos, ficava em cima
de um burro, pra aprumar a carreira do cultivador, mode não cortar o legume, de
oito pra nove anos, eu e meu irmão Zenir, já ganhamos de papai de presente, uma enxada de uma libra, nós era
quem pedíamos pra ele comprar, nós víamos todo mundo trabalhando, nosso destino
era trabalhar, não tinha esse negocio não. Ainda hoje, gosto, meu negocio é
trabalhar. A partir de Quinze anos, já passamos pra foice e pra roçadeira,
antes não, a nossa mentalidade era de criança, ele não deixava a gente lutar
com ferro. Depois, veio o machado, perigoso, a arma mais perigosa do mundo,
qualquer vacilo, as mãos suadas, dava logo na canela, só depois a Chibanca, o
serviço mais difícil na roça, o mais pesado é arrancar toco. Sem esquecer o pau de lata, um serviço pesado,
na aguação do arroz, era o dia todo com a noite, cavava um bojo e passava o
tempo todo jogando água dentro da Vazante de arroz. Neste tempo, ninguém podia
comprar motor, não tinha energia elétrica, depois que o Orós encheu todo mundo
tinha sua vazante de arroz aguada na lata. Não tinha esse negocio de
facilidade, não.
Vovô, tinha umas 40
tarefas de terra, este baixio aqui na nossa frente, ele enchia de batata, eu
vinha com ele, guiando ele, já tava quase cego, ele dizia:
- Isto aqui um dia, ainda vai ser tudo seu.
Como de fato, foi! Os filhos foram vendendo, foram morar
fora, eu fui comprando. Uma safra boa juntava um dinheirinho, hoje, tenho umas
trinta tarefas de terra.
Aos vinte anos decidi
que ia pra São Paulo, comuniquei a papai, ele disse:
- Vai não! Você vai é
casar.
Hoje tá bom, porque a
medicina tem remédio pra tudo. Aqui foram 12 filhos, a mulher teve dois
abortos, e perdi três filhos nos cueiro, de doença de menino. A gente nem sabia o que era, adoecia de manhã,
de tarde morria, não tinha medico. De primeiro eu tinha que trabalhar pelo sim,
pelo não, tinha que trabalhar, tinha minhas responsabilidades, um horror de
crianças pequenas, doentes, dentro de casa.
Nos últimos anos,
quando tem uma safra boa, sobra um dinheirinho, eu faço uma parede de açude,
compro um pedaço de terra. Os filhos estão tudo emancipado, vivem por conta
própria, eu tou aposentado, mais a mulher, dou de comer umas vaquinhas, planto
um lastro de feijão, de milho.
Hoje, tá todo mundo
rico, pra pobreza não existe governo como o de Lula e de Dilma! Quem tem boca
diz o que quer, agora pra ser todo mundo rico, tá difícil, nem nossos dedos
nasceram pra ser igual.
Sou um Homem Livre,
feliz e bem de vida, porque agradeço a saúde que tenho, não tenho inveja de seu
ninguém. Vivo feliz! Deus pode me dar mais 60 anos desse jeito, que eu tou
satisfeito demais.
0 comentários:
Postar um comentário