LEGÍTIMO DE BRAGA.
ZÉ PIQUIÁ
“ Se alguém quer ser
o primeiro será o ultimo e servo de todos.”
Naufrago da vida, que a velhice conheceu acompanhado apenas
do cicio da embriagues, de seu , nem o nome tinha, Piquiá, Piquiá, Piquiá...Era
assim, que lhe tratavam alguns galhofeiros em busca de aumenta-lhe os
tormentos. Motivo de mofa e riso, para muitos embusteiros que se satisfaziam ao
ver-lhe perdendo a serenidade, procura alguma pedra, para fazendo rebolo,
revidar a afronta. Mas não fora sempre assim, nascido a 1º de Setembro de 1943,
chegara ao Iguatu acompanhado os seus pais, o Sr. Raimundo Ferreira e a Sra.
Maria Guedes, juntamente com mais seis irmãos, vinham do Assaré, fixaram
residência na Barra e ali passou a juventude e a maturidade, trabalhando na
agricultura, teve mulher, filhos e ate um nome José Ferreira Guedes. Mais isto
é lá de outros tempos, quando o vicio da embriaguez ainda não imperava nele,
fazendo-o perder tudo. Bom, agora estava ali, na sarjeta, morto a pauladas,
feito um bicho.
Era madrugada ainda, quando a Sra. Maria Nonata passou na
minha calçada, vinha só, chorando alto, os cabelos em desalinho, estava inconsolável.
Pedi que senta-se. Ofereci-lhe um café, perguntei-lhe a causa de tanto
desespero.
_ Mataram meu tio, lá no Prado. Tadinho, um pobre velho, não
fazia mal a ninguém.
_ Qual o nome dele?
_ O senhor sabe, a gente de casa, chamava de tio, mas o povo
ai fora, chamava de piquiá, Zé Piquiá.
Foram estas palavras, os únicos lamentos que chegaram aos
meus ouvidos, sobre o assassinato deste ancião de 64 anos, que teve a vida
arrancada por um menor. Em um Iguatu, em luta contra a violência, acreditava
haver mais um levante das instituições, dos setores organizados de nossa
Comuna, como Igreja, Maçonaria, Entidades Estudantis, contra essa barbárie.
Afinal era o assassinato de um velho por uma criança e com requintes de
crueldade. Eu mesmo, diversas vezes, havia lançado o meu protesto, em crônicas
que seguiam sempre o acontecido, como:
Centauro, após a
chacina dos animais na Varjota, pelo delegado.
Profeta, após os assassinatos dos dois jovens irmãos,
médicos, filhos de Mombaça pelo Capitão.
Cangaceiros, após a morte da vereadora Edite Barreto
Lucas Emanuel, após o latrocínio que teve como vitima o
estudante.
Afinal, a nossa luta
era contra a violência. O silencio, que se seguiu a este crime, sem nenhum tipo
de manifestação da sociedade, sem cobertura da imprensa da Capital, que nos
últimos três meses, haviam transformado o Iguatu, num pudim de sangue. Fez-me sentir
uma verdadeira ojeriza por esta sociedade contemporânea . Afinal, assim, ela
provou que nunca esteve em luta contra a violência, que o “ upá “, que se fez,
nos crimes anteriores. Era porque ela, a
violência, havia ferido os “ grandes “, , Piquiá não, Piquiá era pequeno.
Respeitando aqui, a dor extrema dos pais que tiveram seus filhos arrancados do
seu convívio, quando mais a vida lhes parecia farta, e por não concordar com
tanta hipocrisia desta sociedade capitalista em que vivemos, que aqui lanço o
meu grito:
Ao sondar minha dor, qual se chorara,
Pedi:_” Cristãos vede meu mal traiçoeiro? “
Mas os homens sem fé no mundo inteiro
Ver não quiseram minha sorte amarga.
Cheio de nojo, procurei um ara
E implorei: Homens de Honra, a mim primeiro?
E, de tanto fingido cavalheiro
Nenhum , para me ouvir, volveu a cara.
_ Filantropos, _ Clamei_ Predicadores,
Moralistas, Filósofos, Doutores,
Consolai o meu intimo desgosto!”
Não se ouviu meu gemido suplicante.
Gritei: _ Canalhas!
E no mesmo instante.
Todo mundo me olhou, voltando o rosto!
Tenho dito.
Cícero Correia Lima.
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