Zé Piquía

14 de jan. de 2015

LEGÍTIMO DE BRAGA.
 ZÉ PIQUIÁ
 “ Se alguém quer ser o primeiro será o ultimo e servo de todos.”
Naufrago da vida, que a velhice conheceu acompanhado apenas do cicio da embriagues, de seu , nem o nome tinha, Piquiá, Piquiá, Piquiá...Era assim, que lhe tratavam alguns galhofeiros em busca de aumenta-lhe os tormentos. Motivo de mofa e riso, para muitos embusteiros que se satisfaziam ao ver-lhe perdendo a serenidade, procura alguma pedra, para fazendo rebolo, revidar a afronta. Mas não fora sempre assim, nascido a 1º de Setembro de 1943, chegara ao Iguatu acompanhado os seus pais, o Sr. Raimundo Ferreira e a Sra. Maria Guedes, juntamente com mais seis irmãos, vinham do Assaré, fixaram residência na Barra e ali passou a juventude e a maturidade, trabalhando na agricultura, teve mulher, filhos e ate um nome José Ferreira Guedes. Mais isto é lá de outros tempos, quando o vicio da embriaguez ainda não imperava nele, fazendo-o perder tudo. Bom, agora estava ali, na sarjeta, morto a pauladas, feito um bicho.
Era madrugada ainda, quando a Sra. Maria Nonata passou na minha calçada, vinha só, chorando alto, os cabelos em desalinho, estava inconsolável. Pedi que senta-se. Ofereci-lhe um café, perguntei-lhe a causa de tanto desespero.
_ Mataram meu tio, lá no Prado. Tadinho, um pobre velho, não fazia mal a ninguém.
_ Qual o nome dele?
_ O senhor sabe, a gente de casa, chamava de tio, mas o povo ai fora, chamava de piquiá, Zé Piquiá.
Foram estas palavras, os únicos lamentos que chegaram aos meus ouvidos, sobre o assassinato deste ancião de 64 anos, que teve a vida arrancada por um menor. Em um Iguatu, em luta contra a violência, acreditava haver mais um levante das instituições, dos setores organizados de nossa Comuna, como Igreja, Maçonaria, Entidades Estudantis, contra essa barbárie. Afinal era o assassinato de um velho por uma criança e com requintes de crueldade. Eu mesmo, diversas vezes, havia lançado o meu protesto, em crônicas que seguiam sempre o acontecido, como:
 Centauro, após a chacina dos animais na Varjota, pelo delegado.
Profeta, após os assassinatos dos dois jovens irmãos, médicos, filhos de Mombaça  pelo Capitão.
Cangaceiros, após a morte da vereadora Edite Barreto
Lucas Emanuel, após o latrocínio que teve como vitima o estudante.
 Afinal, a nossa luta era contra a violência. O silencio, que se seguiu a este crime, sem nenhum tipo de manifestação da sociedade, sem cobertura da imprensa da Capital, que nos últimos três meses, haviam transformado o Iguatu, num pudim de sangue. Fez-me sentir uma verdadeira ojeriza por esta sociedade contemporânea . Afinal, assim, ela provou que nunca esteve em luta contra a violência, que o “ upá “, que se fez, nos crimes anteriores. Era porque  ela, a violência, havia ferido os “ grandes “, , Piquiá não, Piquiá era pequeno. Respeitando aqui, a dor extrema dos pais que tiveram seus filhos arrancados do seu convívio, quando mais a vida lhes parecia farta, e por não concordar com tanta hipocrisia desta sociedade capitalista em que vivemos, que aqui lanço o meu grito:
Ao sondar minha dor, qual se chorara,
Pedi:_” Cristãos vede meu mal traiçoeiro? “
Mas os homens sem fé no mundo inteiro
Ver não quiseram minha sorte amarga.
Cheio de nojo, procurei um ara
E implorei: Homens de Honra, a mim primeiro?
E, de tanto fingido cavalheiro
Nenhum , para me ouvir, volveu a cara.
_ Filantropos, _ Clamei_ Predicadores,
Moralistas, Filósofos, Doutores,
Consolai o meu intimo desgosto!”
Não se ouviu meu gemido suplicante.
Gritei: _ Canalhas!
E no mesmo instante.
Todo mundo me olhou, voltando o rosto!
          Tenho dito.

 Cícero Correia Lima.

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