LEGITIMO DE BRAGA
Ditadura.
“Desde 15 de novembro
Estamos na ditadura...
Ditadura! Há muita gente,
Que a considera ventura!
Concordo: é dita
Mas dita dura
De roer...
A 05 de Abril do corrente, o semanário A Praça, publicou em duas de suas paginas, o depoimento de alguns Iguatuenses que foram vitimados pela ditadura que se firmou na pátria a 31 de março de 1964. Elpidio Cavalcante, Francisco Ferreira “Frei Chico”, Vandeílton de Souza, José Moises, Wilson, Claudiomar, Luis Oliveira, Nilson e a senhora Alzira, esposa do Sr. Pedro das Neves, falecido prematuramente aos 40 anos, depois do tratamento que recebeu, por mais de uma oportunidade, nos porões daquele regime, deixando com a jovem viúva de 36 anos, a incumbência maior de criar sua prole,
constituída de três filhos com idade de 6, 4 e 1 ano e seis meses. Consolidando isto tudo, com a maestria de sua caneta, o meu amigo e colega de ginásio, o Professor Wagner Carvalho em sua coluna, dá uma visão mais abrangente da coisa. Sem ter mais o que dizer em tal assunto, deixei que o pensamento viaja-se por outros instantes, onde o direito da força sobrepôs a força do direito, numa tentativa de registrar a nossa historia. Se continuarmos a sepultar a memória dos mortos com o seu corpo, corremos o risco de ignorar o nosso presente quando ele se transformar em passado.
1892
O Cel. Belizário Cícero Alexandrino, chegou ao poder no Iguatu, fruto da convulsão política que imperava no Brasil de Floriano Peixoto, que substituiu Presidentes Estaduais e Intendentes Municipais, por pessoas de sua confiança. Firmando-se nele com mão de ferro ate 1912, quando elegeu seu sucessor o Dr. João Augusto, só largando o osso a 23 de janeiro de 1914, depois de um intenso tiroteio, no quadro da matriz de Senhora Santana, que durou 36 horas. Não sem antes mudar o primeiro projeto da estrada de ferro, que beneficiaria São Mateus ( Jucás ),
irrigando com esta artéria do progresso a nossa Iguatu.
1937
O Estado Novo mudou toda a orografia política do Brasil na manhã de 10 de Novembro, quando tropas do exército fecharam o Congresso Nacional. Sobre o pretexto de uma possível guerra civil, o Presidente Getúlio Vargas, já contando com o apoio da maioria dos governadores estaduais, impôs ao país, uma nova carta constitucional, reforçando os poderes do Presidente da República, cuja autoridade não tinha mais limites.
Foram extintos todos os órgãos legislativos: Congresso Nacional, Assembleias Estaduais e Câmaras de Vereadores. Nos Estados e Municípios foram nomeados interventores da confiança de Getúlio. Foi proibida qualquer oposição ao governo, a imprensa passou a sofrer uma rigorosa censura em seu noticiário, todos os Partidos Políticos foram dissolvidos. Os poucos que se levantaram contra isto, tentando depor Getúlio Vargas, tiveram um final trágico, como os Integralistas que atacaram o Paço da Guanabara( residência oficial do Presidente da Republica ) em maio de 1938, todos os que foram capturados nos jardins do palácio, foram fuzilados ali mesmo.
Consolidava-se assim, o regime ditatorial conhecido como Estado Novo.
Desmontados os partidos tradicionais, foi entregue o poder as oposições de emergências. No Iguatu, o grande agraciado pelo Presidente Getúlio Vargas, foi o Dr. Gouvêa.
No Alto da Bonita
Velame, Chic chic, Coroa de Frade, Mandacaru, pedras e um sol inclemente, era só o que tinha, nesta ditadura do clima, em frente ao hospital Santo Antônio dos Pobres. Neste cenário, um homem com cabelos grandes e assanhados, nu da cintura para cima, uma bermuda surrada pelo tempo, pé no chão, catava pedras, fazendo grandes montes.
Quando não havia mais pedras espalhadas, aquele negro, baixo, grosso, chamado Lorentino, depois de pequena pausa, onde comia alguma coisa, dada por algum morador das proximidades, começava novamente a labuta, mudando as pedras para um novo local, neste trabalho, passava todo o dia. Quando alguém, por piedade, lhe dava algum dinheiro, logo aquele penitente, cheio de forças, se dirigia ao parapeito do hospital e lá, num silencio que o acompanhava sempre, abandonava o pecúlio.
Na rua do Bufete.
O senhor Pereira, apelidado de “ Capitão “, tinha uma bodega, nos fundos, uma mesa de carteado onde se jogava o pife-pafe, vizinho o café da mãe Sula, nas proximidades, uns quartos de aluguel. Nove horas da manhã, o Sr. Paulo Davi com toda força e vigor de sua juventude, levanta-se da cadeira de couro, onde passou toda a noite e o dia anterior, preso pela ditadura do vicio.
Cara fechada de quem não teve sorte no jogo, sai calado, pisando firme pela calçada da mãe Sula, onde as filhas desta, Anita e Tuquinha, brincam o xibiu. Vai direto a porta de um daqueles quartinhos:
-Dora! Dora!
Quando chamou pela terceira vez o nome de Dora, um murro já acompanhava a voz, em direção à porta, que voou, caindo junto a porta dos fundos do quartinho.
Quando entrou, Dora estava sentada num canto da cama. Só deu para perceber, lá longe, um vulto correndo. Três cercas de faxinas estavam no chão.
No Prado
A alegria extravasava do peito, no semblante da senhorita Luzanira de Souza, contagiando todo aquele povo reunido ali, no campo do Prado, para assistir aquela partida de futebol entre o Caixeral e a Cidao.
É manhã de domingo e todos sabem que aquela jovem apelidada de Lô e a maior torcedora deste esporte no Iguatu, mas quem ela mais aprecia no campo e o artilheiro Ramos, seu noivo, principal motivo de toda aquela euforia. Nas proximidades do campo, uma visão de dar orgulho a qualquer filho desta terra, apesar da estiagem, o leito do grande rio seco, estar transformado em um imenso cinturão verde, de uma ponta a outra, ate onde a vista alcança.
Ali logo acima, a vazante de Joaquim Pé Queimado, morador do bairro Prado, também dono de terras além Jaguaribe, onde tem sua roça no inverno e onde com muito sacrifício e trabalho, levantou umas casinhas para alugar, e que o povo já chama de vila. Mais para baixo, nas proximidades da beira fresca, a vazante do Sr. Zé Quitola, uma fartura diversificada, com feijão, melancia, jerimum, batata, que ele protegia com a ajuda do seu filho João, dos pássaros e dos meninos, usando uma funda, sendo dono de uma pontaria extraordinária.
No inverno tinha uma roça do outro lado do rio, sua casa estava localizada com frente para a lateral da antiga igreja do Prado.
No São Sebastião
E final de tarde e as moças de família daquele bairro se aprontam para o passeio as margens do Jaguaribe, pegar a brisa, que torna aquele imenso planalto, a hora do crepúsculo, agradabilíssimo.
Voltear, ouvindo o assobio do vento por entre as Tabocas, o Colégio das Freiras ( São José ), obra colossal que embeleza aquela parte da cidade.
Mais para baixo, depois da ladeira que dar acesso ao sitio Araras, as cacimbas, onde homens e meninos abastecem-se de água, em ancoretas, que são carregadas no lombo de jumentos. O Curtume de Antônio Lucio, já próximo a curva do Bugi, o matadouro publico, depois a ladeira dos torrões e a grande mangueira fincada sobre o barranco, feito imensa bandeira a tremular ao vento, como a despedia-se das águas que banhavam de saúde, fartura e vida, todo o nosso Iguatu.
Rede de Viação Cearense.
Há dividir estes dois mundos, com dois imensos finos, frios, fios saídos das forjas do próprio Vulcano, os trilhos da estação ferroviária, trazendo juntamente com o progresso, a ganância embutida no coração de cada um daqueles viventes,
de um lado a luz, do outro as trevas, de um lado os ricos, do outro os pobres, de um lado o “ bem “, do outro o mal. Do lado de cá cidadãos, do outro párias. Do lado de cá, em algum momento, conforme a sorte na política, as benesses do poder. Do lado de lá, a ditadura imposta pelo sistema capitalista, onde só resta a escravidão ou a escoria sempre. Do lado de cá a dita mole, dos acordos impuros e inconfessáveis.
Muita coisa mudou ao longo destes mais de 100 anos de Republica. As ambições, porem tem crescido violentamente no interior dos indivíduos, dominando-os completamente. Ao chegar ao poder os homens públicos no Iguatu, põem a máscara do adversário vencido, são feitos do mesmo barro. A indumentária do governo, no município é sempre a mesma.
Paulo Davi.
O ano de 1952 mostrava-se promissor para o Iguatu, com a inauguração da ponte dos carros (Demócrito Rocha), sobre o rio Jaguaribe, condenando o antigo pontão de Chico de Judite, na Beira- Fresca ao esquecimento. Politicamente, outro feito deixava os correligionários da UDN ( União Democrática Nacional ) eufóricos, não bastasse a vitória nas urnas do Dr. Agenor Gomes de Araújo, a prefeito, tinham conseguido um fato surpreendente, depois de terem eleito o delegado de investigações e capturas Adahil Barreto a deputado Estadual, agora o alavancavam a Câmara Alta da nação, pela primeira vez, o Iguatu elegia um deputado federal. Neste cenário, as “ oportunidade “ eram muitas, com este pensamento o Sr. Azol, irmão do prefeito eleito, buscou Paulo Davi:
- Vou mandar você a Fortaleza, procure o Dr. Adahil Barreto. Você vai entrar na briosa ( Policia Militar ), com dois meses você estará aqui no Iguatu, com três fitas nos ombros ( sargento ). Pra fazer o que eu mandar.
-Quero não Azol! Para fazer o que você quer, eu não aceito.
João Quitola
A única via de acesso ao Iguatu, para quem vinha do Icó, Várzea Alegre, Cedro, Lavras da Mangabeira em período chuvoso, era a Beira Fresca. Aquele inverno de 1948 havia sido rigoroso, transformando o Jaguaribe numa imensa serpente traiçoeira e vigorosa com o rigor das suas barrentas águas. Na Beira Fresca, canoas faziam a passagem dos transeuntes, e o pontão de Chico de Judite a travessia de algo mais volumoso. Ali vai cortando as águas, levando ao Iguatu, o misto de Chico Alvino. Quando volta traz o JEEP da policia militar, sob o comando do sarg. Doze Pão vem em missão espinhosa, “coisas da política”, localizar e prender o filho do Zé Quitola, rapaz falador, que andava de convencê com a mundiça, falando de gente graúda. Foi orientado pelo tenente Alfredo Dias, a ficar de “orelha em pé”, pois o João Quitola, não se entregaria sem um labacé, era disposto, arretado na briga! Bom estava preparado, trazia três pau de dar em doido (Soldados), se tivessem sorte localizariam logo o moço, na roça do seu pai, ou logo mais na frente, naquela vilinha que o Luís pé queimado batizou com o nome da sua filha caçula, Neuma, Vila Neuma. A prisão foi efetuada com êxito. Não sem antes, o João Quitola ter provado aos “Milicos”, que havia nascido no Prado, quebrando-lhes algumas costelas, num furdunço maravilhoso.
Alguns dias depois o João Quitola foi encontrado morto, em uma das celas da cadeia velha. Segundo a versão oficial, no laudo medico assinado pelo Dr. Gouvêa, havia morrido de ataque cardíaco.
Seu pai não acreditou naquela versão. Não seu filho, jovem, robusto, cheio de vida. Pediu um parecer do medico, e líder da oposição, Dr. Agenor Gomes, que lhe assegurou ter o João Quitola, morrido de deslocamento dos órgãos.
No imaginário popular, surgiu uma outra versão, nunca provada, que o jovem havia sido retirado da cadeia a noite, e sofrido solene surra da policia. Coisas da política do PSD do Dr. Gouvêa, como canta as estrofes:
Ditadura.
“Desde 15 de novembro
Estamos na ditadura...
Ditadura! Há muita gente,
Que a considera ventura!
Concordo: é dita
Mas dita dura
De roer...
A 05 de Abril do corrente, o semanário A Praça, publicou em duas de suas paginas, o depoimento de alguns Iguatuenses que foram vitimados pela ditadura que se firmou na pátria a 31 de março de 1964. Elpidio Cavalcante, Francisco Ferreira “Frei Chico”, Vandeílton de Souza, José Moises, Wilson, Claudiomar, Luis Oliveira, Nilson e a senhora Alzira, esposa do Sr. Pedro das Neves, falecido prematuramente aos 40 anos, depois do tratamento que recebeu, por mais de uma oportunidade, nos porões daquele regime, deixando com a jovem viúva de 36 anos, a incumbência maior de criar sua prole,
constituída de três filhos com idade de 6, 4 e 1 ano e seis meses. Consolidando isto tudo, com a maestria de sua caneta, o meu amigo e colega de ginásio, o Professor Wagner Carvalho em sua coluna, dá uma visão mais abrangente da coisa. Sem ter mais o que dizer em tal assunto, deixei que o pensamento viaja-se por outros instantes, onde o direito da força sobrepôs a força do direito, numa tentativa de registrar a nossa historia. Se continuarmos a sepultar a memória dos mortos com o seu corpo, corremos o risco de ignorar o nosso presente quando ele se transformar em passado.
1892
O Cel. Belizário Cícero Alexandrino, chegou ao poder no Iguatu, fruto da convulsão política que imperava no Brasil de Floriano Peixoto, que substituiu Presidentes Estaduais e Intendentes Municipais, por pessoas de sua confiança. Firmando-se nele com mão de ferro ate 1912, quando elegeu seu sucessor o Dr. João Augusto, só largando o osso a 23 de janeiro de 1914, depois de um intenso tiroteio, no quadro da matriz de Senhora Santana, que durou 36 horas. Não sem antes mudar o primeiro projeto da estrada de ferro, que beneficiaria São Mateus ( Jucás ),
irrigando com esta artéria do progresso a nossa Iguatu.
1937
O Estado Novo mudou toda a orografia política do Brasil na manhã de 10 de Novembro, quando tropas do exército fecharam o Congresso Nacional. Sobre o pretexto de uma possível guerra civil, o Presidente Getúlio Vargas, já contando com o apoio da maioria dos governadores estaduais, impôs ao país, uma nova carta constitucional, reforçando os poderes do Presidente da República, cuja autoridade não tinha mais limites.
Foram extintos todos os órgãos legislativos: Congresso Nacional, Assembleias Estaduais e Câmaras de Vereadores. Nos Estados e Municípios foram nomeados interventores da confiança de Getúlio. Foi proibida qualquer oposição ao governo, a imprensa passou a sofrer uma rigorosa censura em seu noticiário, todos os Partidos Políticos foram dissolvidos. Os poucos que se levantaram contra isto, tentando depor Getúlio Vargas, tiveram um final trágico, como os Integralistas que atacaram o Paço da Guanabara( residência oficial do Presidente da Republica ) em maio de 1938, todos os que foram capturados nos jardins do palácio, foram fuzilados ali mesmo.
Consolidava-se assim, o regime ditatorial conhecido como Estado Novo.
Desmontados os partidos tradicionais, foi entregue o poder as oposições de emergências. No Iguatu, o grande agraciado pelo Presidente Getúlio Vargas, foi o Dr. Gouvêa.
No Alto da Bonita
Velame, Chic chic, Coroa de Frade, Mandacaru, pedras e um sol inclemente, era só o que tinha, nesta ditadura do clima, em frente ao hospital Santo Antônio dos Pobres. Neste cenário, um homem com cabelos grandes e assanhados, nu da cintura para cima, uma bermuda surrada pelo tempo, pé no chão, catava pedras, fazendo grandes montes.
Quando não havia mais pedras espalhadas, aquele negro, baixo, grosso, chamado Lorentino, depois de pequena pausa, onde comia alguma coisa, dada por algum morador das proximidades, começava novamente a labuta, mudando as pedras para um novo local, neste trabalho, passava todo o dia. Quando alguém, por piedade, lhe dava algum dinheiro, logo aquele penitente, cheio de forças, se dirigia ao parapeito do hospital e lá, num silencio que o acompanhava sempre, abandonava o pecúlio.
Na rua do Bufete.
O senhor Pereira, apelidado de “ Capitão “, tinha uma bodega, nos fundos, uma mesa de carteado onde se jogava o pife-pafe, vizinho o café da mãe Sula, nas proximidades, uns quartos de aluguel. Nove horas da manhã, o Sr. Paulo Davi com toda força e vigor de sua juventude, levanta-se da cadeira de couro, onde passou toda a noite e o dia anterior, preso pela ditadura do vicio.
Cara fechada de quem não teve sorte no jogo, sai calado, pisando firme pela calçada da mãe Sula, onde as filhas desta, Anita e Tuquinha, brincam o xibiu. Vai direto a porta de um daqueles quartinhos:
-Dora! Dora!
Quando chamou pela terceira vez o nome de Dora, um murro já acompanhava a voz, em direção à porta, que voou, caindo junto a porta dos fundos do quartinho.
Quando entrou, Dora estava sentada num canto da cama. Só deu para perceber, lá longe, um vulto correndo. Três cercas de faxinas estavam no chão.
No Prado
A alegria extravasava do peito, no semblante da senhorita Luzanira de Souza, contagiando todo aquele povo reunido ali, no campo do Prado, para assistir aquela partida de futebol entre o Caixeral e a Cidao.
É manhã de domingo e todos sabem que aquela jovem apelidada de Lô e a maior torcedora deste esporte no Iguatu, mas quem ela mais aprecia no campo e o artilheiro Ramos, seu noivo, principal motivo de toda aquela euforia. Nas proximidades do campo, uma visão de dar orgulho a qualquer filho desta terra, apesar da estiagem, o leito do grande rio seco, estar transformado em um imenso cinturão verde, de uma ponta a outra, ate onde a vista alcança.
Ali logo acima, a vazante de Joaquim Pé Queimado, morador do bairro Prado, também dono de terras além Jaguaribe, onde tem sua roça no inverno e onde com muito sacrifício e trabalho, levantou umas casinhas para alugar, e que o povo já chama de vila. Mais para baixo, nas proximidades da beira fresca, a vazante do Sr. Zé Quitola, uma fartura diversificada, com feijão, melancia, jerimum, batata, que ele protegia com a ajuda do seu filho João, dos pássaros e dos meninos, usando uma funda, sendo dono de uma pontaria extraordinária.
No inverno tinha uma roça do outro lado do rio, sua casa estava localizada com frente para a lateral da antiga igreja do Prado.
No São Sebastião
E final de tarde e as moças de família daquele bairro se aprontam para o passeio as margens do Jaguaribe, pegar a brisa, que torna aquele imenso planalto, a hora do crepúsculo, agradabilíssimo.
Voltear, ouvindo o assobio do vento por entre as Tabocas, o Colégio das Freiras ( São José ), obra colossal que embeleza aquela parte da cidade.
Mais para baixo, depois da ladeira que dar acesso ao sitio Araras, as cacimbas, onde homens e meninos abastecem-se de água, em ancoretas, que são carregadas no lombo de jumentos. O Curtume de Antônio Lucio, já próximo a curva do Bugi, o matadouro publico, depois a ladeira dos torrões e a grande mangueira fincada sobre o barranco, feito imensa bandeira a tremular ao vento, como a despedia-se das águas que banhavam de saúde, fartura e vida, todo o nosso Iguatu.
Rede de Viação Cearense.
Há dividir estes dois mundos, com dois imensos finos, frios, fios saídos das forjas do próprio Vulcano, os trilhos da estação ferroviária, trazendo juntamente com o progresso, a ganância embutida no coração de cada um daqueles viventes,
de um lado a luz, do outro as trevas, de um lado os ricos, do outro os pobres, de um lado o “ bem “, do outro o mal. Do lado de cá cidadãos, do outro párias. Do lado de cá, em algum momento, conforme a sorte na política, as benesses do poder. Do lado de lá, a ditadura imposta pelo sistema capitalista, onde só resta a escravidão ou a escoria sempre. Do lado de cá a dita mole, dos acordos impuros e inconfessáveis.
Muita coisa mudou ao longo destes mais de 100 anos de Republica. As ambições, porem tem crescido violentamente no interior dos indivíduos, dominando-os completamente. Ao chegar ao poder os homens públicos no Iguatu, põem a máscara do adversário vencido, são feitos do mesmo barro. A indumentária do governo, no município é sempre a mesma.
Paulo Davi.
O ano de 1952 mostrava-se promissor para o Iguatu, com a inauguração da ponte dos carros (Demócrito Rocha), sobre o rio Jaguaribe, condenando o antigo pontão de Chico de Judite, na Beira- Fresca ao esquecimento. Politicamente, outro feito deixava os correligionários da UDN ( União Democrática Nacional ) eufóricos, não bastasse a vitória nas urnas do Dr. Agenor Gomes de Araújo, a prefeito, tinham conseguido um fato surpreendente, depois de terem eleito o delegado de investigações e capturas Adahil Barreto a deputado Estadual, agora o alavancavam a Câmara Alta da nação, pela primeira vez, o Iguatu elegia um deputado federal. Neste cenário, as “ oportunidade “ eram muitas, com este pensamento o Sr. Azol, irmão do prefeito eleito, buscou Paulo Davi:
- Vou mandar você a Fortaleza, procure o Dr. Adahil Barreto. Você vai entrar na briosa ( Policia Militar ), com dois meses você estará aqui no Iguatu, com três fitas nos ombros ( sargento ). Pra fazer o que eu mandar.
-Quero não Azol! Para fazer o que você quer, eu não aceito.
João Quitola
A única via de acesso ao Iguatu, para quem vinha do Icó, Várzea Alegre, Cedro, Lavras da Mangabeira em período chuvoso, era a Beira Fresca. Aquele inverno de 1948 havia sido rigoroso, transformando o Jaguaribe numa imensa serpente traiçoeira e vigorosa com o rigor das suas barrentas águas. Na Beira Fresca, canoas faziam a passagem dos transeuntes, e o pontão de Chico de Judite a travessia de algo mais volumoso. Ali vai cortando as águas, levando ao Iguatu, o misto de Chico Alvino. Quando volta traz o JEEP da policia militar, sob o comando do sarg. Doze Pão vem em missão espinhosa, “coisas da política”, localizar e prender o filho do Zé Quitola, rapaz falador, que andava de convencê com a mundiça, falando de gente graúda. Foi orientado pelo tenente Alfredo Dias, a ficar de “orelha em pé”, pois o João Quitola, não se entregaria sem um labacé, era disposto, arretado na briga! Bom estava preparado, trazia três pau de dar em doido (Soldados), se tivessem sorte localizariam logo o moço, na roça do seu pai, ou logo mais na frente, naquela vilinha que o Luís pé queimado batizou com o nome da sua filha caçula, Neuma, Vila Neuma. A prisão foi efetuada com êxito. Não sem antes, o João Quitola ter provado aos “Milicos”, que havia nascido no Prado, quebrando-lhes algumas costelas, num furdunço maravilhoso.
Alguns dias depois o João Quitola foi encontrado morto, em uma das celas da cadeia velha. Segundo a versão oficial, no laudo medico assinado pelo Dr. Gouvêa, havia morrido de ataque cardíaco.
Seu pai não acreditou naquela versão. Não seu filho, jovem, robusto, cheio de vida. Pediu um parecer do medico, e líder da oposição, Dr. Agenor Gomes, que lhe assegurou ter o João Quitola, morrido de deslocamento dos órgãos.
No imaginário popular, surgiu uma outra versão, nunca provada, que o jovem havia sido retirado da cadeia a noite, e sofrido solene surra da policia. Coisas da política do PSD do Dr. Gouvêa, como canta as estrofes:
Tome cuidado! Preste atenção!
Tome cuidado, com o passeio no pontilhão.
O tenente Alfredo Dias e o Chico Doze Pão
Tira o povo da cadeia, pra matar no pontilhão.
Tome cuidado! Preste atenção!
Tome Cuidado, com o passeio no pontilhão.
O rapaz gritava tanto, que causava assombração
As pessoas que moravam, bem pertinho do pontilhão .
Tome cuidado! Preste atenção.
Tome cuidado, com o passeio no pontilhão.
O tenente Alfredo Dias ta virando Lampião
tira o povo da cadeia pra matar no pontilhão
tira o povo da cadeia pra matar no pontilhão
Epiologo
Depois de 502 anos da degradante política do PPP, que para preto, pobre, e puta, só pão, pano e peia e cuja primeira vitima foram os nossos nativos, homens de bronze, guerreiros valentes, amantes da liberdade, a quem a capital logo batizou de “negros da terra.”
Depois de 502 anos que o direito da força sobrepôs a força do direito. Depois de 502 anos em que na amada pátria mãe gentil, só restou ao Zé povinho, ao João sem nome, a escravidão ou escoria, um valente saído da ultima senzala desta pátria " o sertão nordestino, rompeu com as cadeia que nos prendiam.
E hoje graças a esta política difundida pelo partido dos trabalhadores, estamos a doze anos, a frente do governo federal. nesses doze anos as profecias de Antônio conselheiro se realizaram o sertão virou mar, já não são doutores, só os filhos dos potentados, que bancavam os estudos e as estripulias dos rebentos no litoral.
Não!. Hoje a filha da domestica, já senta num banco de uma faculdade, o filho do "pequeno" agricultor, se e licito chamar de pequeno, tal gigante, já se faz doutor, em faculdades abertas e mantidas pelas políticas sociais do partido dos trabalhadores, por todo esse interiorzão do Brasil, que dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, nos fortalece, fazendo-nos andar ereto, magnífico em humanidade.
No Iguatu o imenso cinturão verde, que em outros tempos, dava oportunidade de trabalho a gigantes como, Biruca, Evaristo, Antônio Bezerra, Zé Touro, Raimundo Pimenta, com suas vazantes, nos períodos de estiagem. Hoje não passa de uma artéria apodrecida, gangrenada pela ação do capital, cujo mercado imobiliário, dando uma aparente visão de crescimento, transformou em áreas "Nobres", o Santo Antônio, a rua do Bufete, o Coqueiro, o Cajueiro, a rua da Palha.
Hoje o Jaguaribe, transformado em esgoto, é o divisor natural, entre a luz e as trevas, entre o bem e o mal, entre cidadãos e parias, entre ricos e pobres, numa visão clara ai invés de crescer, o Iguatu, inchou. Demostrando assim, que a algo de muito podre com a nossa sociedade.
Sigamos o caminho por onde passou a culpa. Quem decretou a falência de nossa primeira indústria, a indústria da terra?
Quem, qual louco imprevidente, transformou nosso rio em esgoto?
Quem levantou muros impedindo as populações das vilas, Moura, Neuma, e São Gabriel de terem acesso rápido ao centro de nossa cidade?
Não devemos recear ladrões e assassinos. São mui pequenos os perigos exteriores, as grandes estão no intimo do coração de cada um.
o grande e vergonhoso culpado por tudo isso, é o capitalismo, com sua visão de lucro, com sua ganância pelo poder, sua sede de ouro lembrando o dito popular " a medida de ter nunca enche". E neste sistema, fica impossível, irrealizável, criar o Homem Honrado, o Homem Honesto, o Homem com H maiúsculo. Neste sistema guiado por cães, dominados pela ganância, só nos resta à escravidão ou a escoria.
Balizando tudo isto, as oligarquias que se mantém no poder a mais de um século; de um lado o Cel. Cicero Belizario Alexandrino, do outro o Cel. Celso Lima Verde, de um lado o Cel. Pedroca, do outro, o Dr. Gouvêa, hoje o Dr. Agenor Neto, bisneto do Pedroca, do outro, o Dr. Marcelo Sobreira, cujo laboratório é Gouvêa.
Curiosamente, os episódios do passado assemelham-se aos do presente, ainda hoje os moradores da vila Neuma e outros bairros periféricos, são usados como "bode expiatório", por crimes que tem o seu nascedouro na constância pelo poder político, na ganância pelo capital, que diuturnamente faz vitimas, que tem necessidade de tudo, e a necessidade é a mãe do crime:
É triste reconhecer que mesmo depois de doze anos do partido dos trabalhadores no Governo Federal. Nós filiados deste partido no Iguatu ainda nos deixamos manipular por estas duas oligarquias, qual marionetes, prejudicando em muito a formação libertaria dos nossos filhos. Ha uma lei cósmica sagrada, lei da causa e do efeito, que funciona em consonância com o dito bíblico e universal “colhe-se o que se planta".
No Iguatu, o que se tem plantado, desde cedo, nos corações de nossos filhos, é o medo. Fazendo nascer o mentiroso, o covarde, o bajulador, mesmo dentro das fileiras petistas. O clima imposto pelo direito da força impede a ação da força do direito, dificultando em muito o aparecimento de valentes. Haverá chegado o Hércules que tomara o seu cargo, tarefa tão árdua, porem sublime, de quebrar com estes grilhões seculares que nos oprime, diminui e escraviza.
Teremos oportunidade de mudar o presente abrindo novas possibilidades de futuro, nas eleições que se aproximam!
Tenho Dito.
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