21 de mar. de 2014

A FAMILIA
                                                                          “Que a família comece e termine sabendo onde vai e que o homem carregue nos ombros a graça de um pai, que a mulher seja um céu de ternura, aconchego e calor é que os filhos conheçam a força que brota do amor. “

Nestes últimos vinte dias, sepultei dois chefes de família moldados a maneira antiga do regime patriarcal, haviam ambos já ultrapassados os oitenta anos. O primeiro deles, foi o José Evaristo, preto velho que eu conheci criança na casa dos meus avôs. O Evaristo era um dos responsáveis pelo plantio das terras do Cruiri no inverno e pela vazante no verão. Lembro bem disto, pois aos domingos saiamos irmãos e primos a tomar banho de rio, lá no Tambia nas terras do Sr. José Almino. Quando voltávamos a tarde, sempre sedentos, quem nos socorria eram as melancias do Evaristo, pegando fogo, fazíamos uma farra. No outro dia pela manhã, pagávamos o preço, com a correção ( peia )do meu pai, avisado por sua mãe:
_ O Evaristo passou aqui cedinho, disse que os meninos andaram ontem pela vazante, quebraram o que era de melancia tudo.
No seu velório vi a paga por uma vida inteira de renuncia, de sacrifício, de amor em benefício da família. Eram jovens, rapazes e moças, com certeza netos e bisnetos seus, estavam ali, ao redor do caixão, traziam todos no rosto traços do Evaristo. Mas o que me comoveu, foi ver aquele ancião de 88 anos, receber no caixão declarações  de amor de sua companheira:
_ Eu não vou te esquecer Evaristo! Não vou.
O segundo chamava-se Geraldo Procópio, tinha-o como amigo a uns vinte e cinco anos. Dono de uma serraria a rua José de Alencar, foi mestre de um irmão meu já falecido o Chico Braga. Era geralmente lá que reuníamos a turma para prosear, cheira tabaco, programar uma pescaria, passar o tempo. O meu irmão, vendia as frutas que o Eribaldo trazia da propriedade do seu pai o Sr. Adeso Saraiva no Cardozo. Passávamos amanhã a sombra de uma acácia, vendo o velho Geraldo com o Dudé e o Chico trabalharem, lá era nosso ponto de encontro, de vez em quanto íamos a esquina no bar do To, tomar um aperitivo. Mesmo depois que o Chico morreu, que a oficina fechou, continuamos amigos, quando passava em minha calçada parava logo para me contar uma historia, me fornecer tabaco. No ultimo dia de finados fomos juntamente com o “Neo Dragão”, ao cemitério. Quando meus filhos gripavam, era lá no seu quintal que eu ia buscar o mastruz, a malva, a hortelã ou o que mais precisa-se, lá ele tinha de tudo. Gostava de me dizer:
_ Neto, eu pedi tanto a Deus para ele me dar um cantinho, onde eu pudesse ter minhas plantinhas. Aqui eu estou no céu.
Quando soube de sua chegada de Fortaleza, onde fez a cirurgia no coração, fui visitá-lo. Não me reconheceu mais, a voz estava tropa. Mas a dedicação de sua senhora é em especial de sua filha, me impressionou, fez com que eu abrisse mais os olhos para ver esse chão sobre o qual caminhamos por toda a vida, seja ele esburacado ou plano, ensolarado ou sombrio e que tem uma importância tão grande, para o bem e para o mal, a FAMILIA, que nos lega memórias ternas, segurança, otimismo, este pequeno território que é nosso campo de treinamento como seres humanos e que estar também, em vias de ser sepultada.

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