21 de mar. de 2014

 MADRINHAS.
Eu não tive a felicidade de ter padrinho, apenas a infelicidade de perde-lo. Desde muito criança pedia a meu pai, para que me levasse a conhecer meu padrinho, uma noite lembro-me bem, estávamos no campo da lixa, tocando fogo em  pneus, uma brincadeira perigosa, mas comum aos netos do velho Correinha, pois deles se tirava uns arames que o vovô comercializava. Quando alguém chegou com o recado.
_ Teu pai disse que você fosse para casa, para irem juntos a casa do teu padrinho, ele morreu!
Talvez por isto, por este não ter tido, invejava tanto o meu irmão Paulo Roberto, ou antes, a sua felicidade deter uma madrinha tão presente como minha tia Dejanira , não havia hora, nem data,para lhe cobri de mimos, era a qualquer instante, sem motivo aparente. Chegava lá em casa, procurando por seu afilhado, sempre com algo qualquer nas mãos, um cordão, uma pulseira, um relógio,uma bola, uma bicicleta. Eu, o fim de rama, o ultimo dos filhos do meu pai, assistia aquilo com o coração magoado de criança que nunca tinha tido padrinho.
Contam os mais antigos, que o fogão  na casa de minha avó Conceição, passou 42 anos sem se apagar, dado a luta constante, naquela cozinha, entregue a minha madrinha Zefa. Era pontualmente as 3hs. da madrugada, que ela soprava as cinzas remanescentes do dia passado, reavivando as brasas para um novo dia, uma nova luta, um novo fogo.
Quando vejo estes novos ricos, correndo para cima dos bancos, dos juros, numa luta insana para conseguirem  construir suas moradias em bairros intitulados de nobres como Planalto, Araras, Bugí. Eu fico a sorri dos seus esforços, para mim, nobre, é a casa do meu avô Correinha, na rua do Angico, onde juntamente com irmãos, primos, tios e amigos passei os melhores momentos de minha vida, a sombra de uma velha cajarana. Eram 14, os filhos do meu avô Correinha, dos 19 parridos por minha Avó Conceição, 5 não passaram da primeira infância, destes 14, 6 mulheres, destas, 5 constituíram  suas próprias famílias. Apenas minha tia Dejanira, por amor aquela casa, resistiu a isto, e permaneceu fiel aquela gente.
Comerciante no ramo de joalheria ( RELOJOARIA LUCIANA ), com uma situação financeira invejável, era a sua casa, freqüentada por inúmeras comadres, incontáveis afilhados, recebendo todos tratamento diferenciado da Madrinha Dejanira, que com o coração dadivoso, continuava sustentando na ausência do seu pai, as obrigações diárias com as despesas domesticas daquela casa. Tornando-se  estas duas madrinhas Zefa e Dejanira, os pilares responsáveis pela continuação do nosso mundo e porque não dizer, do nosso céu.
Na fatídica semana santa do ano de 1996, uma tempestade, a inclemência do céu, um raio arrebentou nossa cajarana ao meio, e também nossa família, esse chão sobre o qual caminhamos por toda a vida, e que tem uma importância tão grande, para o bem e para o mal, por quem somos parcialmente moldados. A casa do velho Correinha, antes tão prospera e honrada, começou a definhar,minguar. As visitas dos afilhados, das comadres, dos amigos foram diminuindo, ate desaparecer por completo. E daquela casa, antes tão magnífica aos meus olhos, só restou fiel ao seu passado, aos seus fantasmas a minha tia Dejanira.
Hoje, no teu funeral, como um bom augúrio do céu, eu e Sival Braga, lado a lado, carregando o teu esquife, com certeza, um ultimo gesto teu, a unir a família CORREIA BRAGA, família esta, a quem a senhora  Tia Dejanira, doou a vida.
Quanto a casa do teu pai, meu avô, esta não te preocupas madrinha, pois ela se revigora em força, em pujança, em vida, nas pessoas dos teus sobrinhos, ainda crianças como: João Victor, Edio, Almira, Vitoria, Aluizio e Jaciara, filhos do teu sobrinho Cesário.
Partes madrinha, ao teu encontro com o pai, de ti carregaremos  sempre, lembranças felizes, imorredouras sementes de bondade e de amor pela Humanidade.

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