Zezinho do Iguatu - Publicado em 14 de Agosto de 2010 no Jornal Agora

23 de set. de 2022

 

Zezinho do Iguatu

 

“Filho da terra ou é gigante, ou é minhoca.”

 

Um sujeito entrou no Mercado Público e se dirigindo a um dos açougueiros de plantão, afirmou-lhe:

- Pese um quilo de carne de gado para mim.

Enquanto o magarefe lhe virava as costas para cumprir sua obrigação junto à balança, o indivíduo jogou dentro de sua cesta uma buchada de bode e uma cabeça de porco.

- Um quilo, bem pesado – Afirmava o marchante enquanto lhe entregava a carne.

- Pago por ela, não lhe devo nada! – Afirmou o individuo, afastando-se em seguida, carrancudo.

Um jovem que presenciou a cena, vestido na farda da Guarda Municipal, e que adesivava carros com a propaganda do Zezinho do Iguatu, quis interferir, gritar, correr atrás. Foi impedido por mim, que lhe segurei pelo braço.

- Ele é um ladrão.

- Ele é pequeno, vamos procurar algo maior para atirarmos juntos. Você por exemplo, não está sendo roubado?

- Eu?! Não, por quem?

- Você presta serviços à Guarda Municipal, e recebe o salário pelo seu trabalho. A pouco presenciei você adesivando carros aqui em frente com propaganda eleitoral, e ontem à noite você estava lá na 07 de Setembro aplaudindo o prefeito e sua comitiva eleitoral. Por que você acusa aquele indivíduo de ladrão?

- Ora, eu o vi levar além do quilo de carne que pagou, uma buchada de bode e uma cabeça de porco, é um ladrão!

- Você também é pago para prestar serviços à guarda municipal,  mas além disso exigem de você submissão e subserviência. A bajulação quando você é obrigado a seguir e aplaudir todo evento eleitoral do prefeito, a subserviência quando você é impedido de tomar suas próprias decisões, ter seus próprios candidatos, coagido a votar no candidato do prefeito. É isto ou o inferno. Quem é a maior vítima agora, o magarefe que perdeu a buchada e a cabeça de porco, ou você, que perdeu sua liberdade, sua personalidade. Vamos tomar um cafezinho aqui no Sidrônio, que eu te conto uma história.

- Em tempos que vão longe, quando Alexandre o Grande, invadiu e dominou uma região próxima à Germânia, foi procurado por alguns aldeões desse povo, que lhe fizeram a seguinte queixa:

- Magno filho de Felipe,  há um pirata que sobe com o seu navio o nosso rio, tomando de uns a cevada, de outros o trigo, de alguns os porcos, de modo que nós temos sofrido muito para te pagar os tributos que te devemos por obrigação, viemos pedir-te que nos livre dele.

Alexandre, voltando-se para um de seus generais de sua esquadra de 900 navios, ordenou-lhe:

- Sobe imediatamente este rio com 12 navios, e só me volte com este pirata como prisioneiro.

Dias depois o pirata era trazido à presença de Alexandre, e amarrado, amordaçado, torturado, humilhado, foi jogado aos seus pés, que lhe fez esta descompostura enquanto lhe tirava a mordaça:

- Cão, filho de um cão, maldito sejas tu pela estupidez de tuas ações. Não sabes tu que com este navio vem trazendo a fome e a miséria, o desassossego e o medo a esta população ribeirinha? És um ladrão!

E o pirata, que era tudo, menos covarde, respondeu-lhe:

- Quer dizer que eu, porque tenho um navio, sou um ladrão, e você, porque tem 900 é um conquistador.

...

- Neto Braga, que é que o senhor que dizer com isso?

- Quero dizer que no Iguatu temos que ter a coragem da verdade. Temos muitos Zezinhos, Zezinho da pipoca, Zezinho do algodão doce, Zezinho da garapeira, Zezinho da Bodega, Zezinho Capitão. Mas este Barrichello, ou Pé de chinelo, não é daqui do Iguatu não! É minhoca que querem botar na cabeça do nosso povo, mais uma mentira que eles querem propagar, para nos fazer de trouxas. 

Nós, os cabeças de porco, ou os rega-bofes a quem eles garantem a buchada de cada dia, qual a autoridade moral destes pais diante dos filhos, sendo estes testemunhas de sua submissão. Diante da mentira, não estarão estes pais atirando seus filhos a um rio de piranhas. Onde estará o amor tão propagado pelo Cristo Jesus, “Conhecereis a verdade e a verdade vós libertará”. Não sabem eles que neste instante o poder está em suas mãos, nas mãos do povo. Amaremos de verdade os nossos filhos ao fazê-los de bois de piranha?

 

Tenho dito

Cícero Correia Lima

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