Zezinho do Iguatu
“Filho da terra ou é gigante, ou é
minhoca.”
Um sujeito entrou no Mercado Público e se dirigindo a um dos
açougueiros de plantão, afirmou-lhe:
- Pese um quilo de carne de gado para mim.
Enquanto o magarefe lhe virava as costas para cumprir sua
obrigação junto à balança, o indivíduo jogou dentro de sua cesta uma buchada de
bode e uma cabeça de porco.
- Um quilo, bem pesado – Afirmava o marchante enquanto lhe
entregava a carne.
- Pago por ela, não lhe devo nada! – Afirmou o individuo,
afastando-se em seguida, carrancudo.
Um jovem que presenciou a cena, vestido na farda da Guarda
Municipal, e que adesivava carros com a propaganda do Zezinho do Iguatu, quis
interferir, gritar, correr atrás. Foi impedido por mim, que lhe segurei pelo
braço.
- Ele é um ladrão.
- Ele é pequeno, vamos procurar algo maior para atirarmos
juntos. Você por exemplo, não está sendo roubado?
- Eu?! Não, por quem?
- Você presta serviços à Guarda Municipal, e recebe o salário
pelo seu trabalho. A pouco presenciei você adesivando carros aqui em frente com
propaganda eleitoral, e ontem à noite você estava lá na 07 de Setembro
aplaudindo o prefeito e sua comitiva eleitoral. Por que você acusa aquele
indivíduo de ladrão?
- Ora, eu o vi levar além do quilo de carne que pagou, uma
buchada de bode e uma cabeça de porco, é um ladrão!
- Você também é pago para prestar serviços à guarda
municipal, mas além disso exigem de você
submissão e subserviência. A bajulação quando você é obrigado a seguir e
aplaudir todo evento eleitoral do prefeito, a subserviência quando você é
impedido de tomar suas próprias decisões, ter seus próprios candidatos, coagido
a votar no candidato do prefeito. É isto ou o inferno. Quem é a maior vítima
agora, o magarefe que perdeu a buchada e a cabeça de porco, ou você, que perdeu
sua liberdade, sua personalidade. Vamos tomar um cafezinho aqui no Sidrônio,
que eu te conto uma história.
- Em tempos que vão longe, quando Alexandre o Grande, invadiu
e dominou uma região próxima à Germânia, foi procurado por alguns aldeões desse
povo, que lhe fizeram a seguinte queixa:
- Magno filho de Felipe,
há um pirata que sobe com o seu navio o nosso rio, tomando de uns a
cevada, de outros o trigo, de alguns os porcos, de modo que nós temos sofrido
muito para te pagar os tributos que te devemos por obrigação, viemos pedir-te
que nos livre dele.
Alexandre, voltando-se para um de seus generais de sua
esquadra de 900 navios, ordenou-lhe:
- Sobe imediatamente este rio com 12 navios, e só me volte
com este pirata como prisioneiro.
Dias depois o pirata era trazido à presença de Alexandre, e
amarrado, amordaçado, torturado, humilhado, foi jogado aos seus pés, que lhe
fez esta descompostura enquanto lhe tirava a mordaça:
- Cão, filho de um cão, maldito sejas tu pela estupidez de
tuas ações. Não sabes tu que com este navio vem trazendo a fome e a miséria, o
desassossego e o medo a esta população ribeirinha? És um ladrão!
E o pirata, que era tudo, menos covarde, respondeu-lhe:
- Quer dizer que eu, porque tenho um navio, sou um ladrão, e
você, porque tem 900 é um conquistador.
...
- Neto Braga, que é que o senhor que dizer com isso?
- Quero dizer que no Iguatu temos que ter a coragem da
verdade. Temos muitos Zezinhos, Zezinho da pipoca, Zezinho do algodão doce,
Zezinho da garapeira, Zezinho da Bodega, Zezinho Capitão. Mas este Barrichello,
ou Pé de chinelo, não é daqui do Iguatu não! É minhoca que querem botar na
cabeça do nosso povo, mais uma mentira que eles querem propagar, para nos fazer
de trouxas.
Nós, os cabeças de porco, ou os rega-bofes a quem eles
garantem a buchada de cada dia, qual a autoridade moral destes pais diante dos
filhos, sendo estes testemunhas de sua submissão. Diante da mentira, não
estarão estes pais atirando seus filhos a um rio de piranhas. Onde estará o
amor tão propagado pelo Cristo Jesus, “Conhecereis a verdade e a verdade vós
libertará”. Não sabem eles que neste instante o poder está em suas mãos, nas
mãos do povo. Amaremos de verdade os nossos filhos ao fazê-los de bois de
piranha?
Tenho dito
Cícero Correia Lima
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