17 de fev. de 2020


                                                                 LEGÍTIMO DE BRAGA
                                                                          Ig catu
...
Anhamum, chefe dos jucás, recebeu sua flecha que tu lhe mandaste chefe dos Tapijaras e soprou o boré para convocar seus guerreiros. Ele veio pelo rastro dos inimigos, atravessou a grande planície de Ig Catu onde impera a nação Quixelô e rápido como uma flecha chegou ao Quixeramobim...
Em, O Sertanejo, no capitulo, a carta, José de Alencar poderia ter feito esta pequena referencia a nossa terra, afinal lá não falta referencia ao Recife, aos Inhamus, Ouricuri, Crateús, Jaguaribe, Jucás. Como então, faltar Ig catu a planície da água boa. Nunca poderei perdoar isto a Alencar. Quando os missionários brancos nesta planície chegaram, encontraram já, onde hoje é o centro comercial da cidade, uma verdadeira olaria as margens da lagoa, que recebeu logo o nome de Telha, eram os primitivos mestres do barro pertencentes a nação Quixelô.  Uma outra  grande lagoa que mais tarde veio também contribuir dando o seu nome a nossa terra, quando depois de ser Missão da Telha, Vila da Telha, tomamos a denominação de cidade do Iguatu, foi a lagoa de Ig catu, que vulgarizado o termo pelo impacto do linguajar do homem branco, veio a se tornar Iguatu. O nome Iguatu é derivado do termo Ig = água e catu = boa. Pela lei provincial Nº 558, de 27 de novembro de 1851, no governo do Dr. Joaquim Marcos de Almeida Rego, 18º Presidente da província, foi criada a vila da telha... Em 1874, por força da lei Nº 1.612, de 21 de Agosto, Telha foi elevada a categoria de cidade. A denominação de Iguatu surgiu com a publicação da lei  Nº 2035, de 20 de outubro de 1883, quando era presidente da província do Ceará o Dr. Sátiro de Oliveira Dias.
“... Meu padrinho Cícero mandou que eu marcasse o lugar de uma capela, pra no futuro a gente receber o padre e ouvir a santa missa. Vou marcar aqui. Como sinal, vamos todos cavar um buraco pra incolocar  esta cruz, em louvor do protetor deste lugar, santo Inácio de Loiola, o criador dos Jesuítas. Meu padrinho Cícero disse que neste local na sombra de uma Baraúna, num passado distante, dois Jesuítas foram perseguidos por um governante chamado Pombal. Aqui eles viveram até a morte, protegido pelos índios Cariris...”   ( Caldeirão ).
Antes, era Missão da Telha, em tempos que foram apagados pela cultura imposta, vivia enérgica e forte um povo de guerreiros nestas terras, que receberam com hospitalidade os  missionários da cruz, missionários do Cristo, padres Seculares,  Carmelitas e Jesuítas. Estes missionários tinham determinação de conhecerem os costumes, a língua, a maneira de pensar do selvícola, só depois disto, de terem angariado o respeito, a confiança e porque não dizer, a amizade destes, saíram a propagar o Evangelho do Cristo Jesus, na formação do SER Humano, como os ensinou Santo Inácio de Loiola, fundador da Companhia de Jesus. Este, Inácio de Loiola, antes, Dom Inácio de Loiola, capitão do exercito espanhol, fidalgo, senhor de Castelo, valente, orgulhoso como todo espanhol,  foi ferido por um balaço quando em luta contra a França. No acampamento militar , enquanto convalescia, pediu um livro de cavalaria  para ler,  mas ou misericórdia divina, o livro que só se achou naquele ambiente de guerra, foi o livro da vida de todos os santos , no principio leu-o com fastio, depois com gosto e por ultimo com fome, de tal forma que ao finda-lo havia descoberto que aos 33 anos de corte e guerra, ainda não era um Homem. Abandonando aquela visão materialista do mundo, criando a companhia de Jesus, formando missionários que saíssem por todo o mundo a propagarem o evangelho do cristo Jesus, na formação do SER Honrado, do SER Honesto, do SER Humilde, do SER Hospitaleiro, do SER Humano. Foram estes missionários que primeiro chegaram a estas terras da nação Quixelô e é esta a Missão da Telha.
                        Diante do teu sermão, toda virtude
                        A braveza das tribos se esboroa
                        E amigos fazes nessa gente à-toa
                        Cuja humildade te comove e ilude.

                         Por onde marchas  não se morre a toa
                         Afugenta paixões, ensina preces
                         Falando ao bugre em sua própria língua.
       
                          Chegam a aldeia no sagrado empenho
                           Falam de Deus. O principal vacila...
                          Batizam, plantam; brota a cana, - é o Engenho
                          Vêm portugueses e o ouvidor, - é a Vila.

                           Para tanto, porém, quanto suplicio!...
                           Quantas perfídias de capitães mores!
                           Quantas vidas de santo em sacrifício!...
No inicio do século XVIII as decisões tomadas na sede da capitania do Ceará  grande, estavam por demais ausentes dos nossos sertões. Agravada pelas dilatadas distancia, pelos grandes perigos da estrada geral do Jaguaribe, ou mesmo, pela Estrada nova das Boiadas, também, Estrada dos Inhamus, pelos seus altos índices de criminalidade, pela frequente escassez de chuvas na região ou ate mesmo a ocorrências de cheias, que inviabilizavam a passagem pela estradas sertanejas, fatores que dificultavam ainda mais a realização de correições, visitações, mostras e diligencias ao interior da capitania. Diante deste quadro, a manutenção da autoridade pública e a viabilização da governabilidade de capitães- mores, ouvidores e demais autoridades coloniais sobre a capitania implicavam na necessidade de utilização dos comandos militares locais, enquanto instrumento de efetivação das suas ordens e canal de comunicação politica com as comunidades e populações locais.
A ação do poderoso e temido coronel de milícias Jorge da Costa Gadelha e dos moradores locais engajados nas milícias sob seu comando, seria decisiva na manutenção da autoridade do capitão- Mor Manuel Francez perante o ouvidor José Mendes Machado, apelidado de Tubarão, pela sua agressividade , que causou revolta em toda ribeira do Jaguaribe com sua atitude de prender e processar a muitos por crime de sonegação tributaria. Sendo advertido pelo governador pelos excessos, prossegue em sua marcha rumo ao sertão, efetuando prisões entre a população matuta. Atinge a ribeira do Icó, neste ponto, se deixa seduzir pela hospitalidade da família Feitosa e logo se torna adepto de sua politica, totalmente parcial em suas decisões a favor dos Feitosa. Fazendo ferver com isto o caldeirão que de muito já ardia em contendas entre as famílias Montes e Feitosa.
No entanto,  o maior instigador das sangrentas lutas no interior da capitania do Ceará, a mais violenta e sanguinária delas, entre Montes e Feitosa, foi o governador Salvador Alves da Silva, que assumiu a 1º de Novembro de 1718. Menos de um ano depois, no período de 15 de Junho a 1º de Julho de 1719 e a titulo de viajar a serviço do governo, permanece Salvador no arrail de Nossa Senhora do Ó ( Icó ), onde ostensivamente passa a favorecer os interesses da família Feitosa. Tornando-se aderente desta fação politica interiorana. Enquanto isso, a parcialidade politica dos Montes os mantém recolhidos à condição de matuto desprestigiado, a aguardar com silencioso despeito o comportamento do governante.
Logo a 15 de Junho, dia de sua chegada, outorga o governador Salvador Alves as primeiras benesses que intencionalmente lhe competem oferecer. Concede a Francisco Alves Feitosa o titulo de Coronel de Cavalaria da ribeira dos Quixelôs e Inhamus, honraria que indubitavelmente irá provocar ciúmes entre os correligionários  da família Montes. Em seguida, e numa sucessão de favores que se estenderá pelos anos seguintes, concede a Lourenço Alves Feitosa e a outros dos seus familiares, inúmeras sesmarias, numa região apontada pelo morubixaba dos índios Juca, como de grande proveito para a criação de gado, graças a quantidade de lagoas, donde inicialmente se destacam as sesmarias do riacho do Trussu, a do riacho do Gangati, entre Jucás e Iguatu e a do riacho Quixoá, onde temos registro da presença do Sargento-Mor João de Souza Vasconceles trabalhando aquela terra no ano de 1681, seguido do Sr. Francisco Nogueira Lima que no ano de 1682, já trabalhava as terras banhadas pelo rio Jaguaribe no sitio Itans.
Neste cenário, homens beneficiados por terras doadas pelo governo e outras benesses, viviam de acordo com suas vontades e dominavam os demais colonos de modo completo, transformavam-se em verdadeiros tiranos, dominando hordas selvagens, com armas  e ameaças. Nós pontos mais longínquos, sobretudo, só uma vontade dominava, que era a lei do mais rico. Os Feitosa tinham ao seu lado na guerra os índios cariris e Juca, os Montes contavam com os arcos dos índios Icós e Quixelôs.
Ainda a 18 de agosto de 1724, vemos portaria  do governo provincial que inteiramente voltado a região conflitante do Icó e suas adjacências, aponta o Coronel Jorge da Costa Gadelha, como braço armado do Estado, para que der conhecimento aos habitantes da ribeira do Jaguaribe, sobre as ocorrências registradas, e que tanto o Coronel Gadelha quanto o Comissário Antônio Maciel de Andrade, a quem deveria se reunir, iria ao Icó, no sentido de verificar a extensão do conflito entre Montes e Feitosa, que só naquele período já havia feito mais de 400 vitimas fatais.
A região só conheceu uma relativa paz, imposta pelo poder das armas, quando no ano de 1727,  Coronel João de Barros Braga, comandou uma expedição que subindo o Rio Jaguaribe ate sua nascente, na fronteira com o Piauí, afugentando e matando os índios Icós, Quixelôs, Juca, de tal forma, que a partir daquela expedição, eles não mais apareceram com a sua primitiva liberdade, só os sobreviventes “ mansos “,  foram trazidos e ficaram aldeados na Missão da Telha.



                                   Tenho dito.
      Cícero Correia lima.


 

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