4 de nov. de 2018

TROFÉU ANTEU
AO GIGANTE FILHO DA TERRA.
Apoio:
Secretaria do meio ambiente e desenvolvimento urbano – Dr. Marcos Ageu
Secretaria de agricultura e pecuária – Hildernando Barreto
Secretaria de cultura e turismo – Lucinha Felipe
Lions Clube Centenário João Alves Bezerra
Associação dos idosos de Santa Edwiges
Prefeitura de um novo tempo

Sitio Amapá
“ Venham, todos vocês que estão com sede, venham as águas; e vocês que não possuem dinheiro algum, venham, comprem e comam! Venham comprem vinho e leite, sem dinheiro e sem custo.” ( Isaias: 55.1 )
Camponesa Raimunda Romana Marte da Silva, conhecida por dona moça, nasceu a 25 de dezembro de 1951, no sitio Amapá, filha do casal Joaquim Francisco da Costa, conhecido por Joaquim Rodrigues e da Sra. Maria Lima de Oliveira, conhecida por Cícera.
Minha mãe nunca deixou a casa de minha avó, viveu com meu pai seis anos, sou filha única e fui criada por minha mãe dentro da casa de minha avó materna Ana Lima de Oliveira juntamente com mais três tias, a Margarida, a Antônia e a Raimunda. Minha avó, que todos conheciam por Ana de Eugenio, ficou viúva aos 31 anos, criou suas quatro filhas com muito sacrifício, lavando roupas de famílias como a Soares, os Marior, os Clares, nas águas do Jaguaribe, fabricava peneiras e a arupembas com talo de carnaúba e cipó de mufumbo como arco, que adquiria as margens do rio e no carnaubal que era constante do Cardoso III ao serrote do Quixoá, era contratada sempre, por produtores de arroz na ribeira, para pilar a produção, era ela e as quatro filhas o dia todo neste oficio, como paga recebia uma quantidade pouca de arroz, as vezes farinha, rapadura ou outra mercadoria qualquer, nunca dinheiro, dinheiro mesmo só quando vendia suas arupembas na região, saia de casa em casa pelo Cardoso, Quixoá, Barriga, Gadelha. Elas trabalhavam muito, mas nunca me deixaram passar fome, aprendi com elas a bordar e a fiar, um serviço mais delicado, elas enfrentavam ate a luta na roça, no cabo da enxada, mas nunca, nunca me deixaram ir. Quando me casei, levei para casa três redes fabricadas com meu trabalho. Também me deram oportunidade de estudar, minha primeira professora foi dona Alzira Alves, conhecida por Alzira de Nilo, lá no Cardoso III, numa casa muito grande, mas de taipa.
Casei-me aos 19 anos, em 1970, depois de fugir da casa de minha avó, mamãe não aceitava o meu casamento, acobertada por meu pai que dizia o Geraldin ser um Homem trabalhador e melhor partido não havia aqui no Amapá. Combinamos que eu iria passar meu aniversario e o natal com papai lá no Juazeiro do Norte. Foi eu e meu primo Adamir, o Geraldin foi atrás, chegamos lá no dia 23 de dezembro e nos casamos no dia seguinte, era uma sexta feira, véspera de natal, na Igreja de São Miguel, me deu 10 filhos de presente, através dos anos.
Meus filhos foram criados todos na roça, quando chegavam do trabalho, meio dia, tomavam banho, almoçavam e iam para a escola. Quando minha filha mais velha a Luciana completou 9 anos, eu entreguei a luta a casa a ela, ficou responsável também, pelos irmãos mais novos e eu fui para a roça com os outros filhos e com o Geraldin, porque ele só, não estava dando conta. Levantávamo-nos pela madrugada, ele sempre foi agoniado para trabalhar, não esperava nem o café, eu ficava em casa fazendo a comida, quando amanhecia o dia, colocava uma panela de barro grande na cabeça, forrada com uma rodilha, atravessava o serrote e ia pro sitio Juá, propriedade de Vocio Gonsalves, eram duas léguas, tirava a pé. Plantamos muito algodão, feijão, batata, jerimum, tomate. Almoçávamos por lá, só víamos para casa a boquinha da noite, muitas vezes dormíamos por lá, debaixo de um pé de Juá. Na época da safra, trazíamos cada um, dois sacos de feijão na casca, sobre os ombros. Os meninos que nos acompanhavam, traziam cada um o seu saco com algum legume dentro. No inverno trabalhávamos no terreno do Sr. Barroso, plantando arroz e algodão. Meus filhos estudaram todos com a professora Elisete Bastos, os três mais novos já foram estudar no Iguatu, quando surgiu o transporte escolar.
Ate os anos oitenta, quando cavaram um poço aqui na comunidade, nosso gasto com água para as lutas diárias sempre foram abastecidas pelo rio Jaguaribe, íamos buscar na cabeça, com um pote e uma rodilha. Quando chovia, as lagoas enchiam, ai ficava mais fácil, mais perto. Dentre os meus filhos, um foi adotado, este nunca me deu preocupação, não tem vicio, só trabalha. Os outros, alguns deles nos deram desgosto, mas não temos como abandonar, são nossos filhos e mãe não abandona filho, tem também o lado bom de todos eles.
Hoje na idade de 66 anos, sou uma mulher feliz, feliz com meu marido, com meus filhos, com minha família. Depois que me aposentei comprei uma terrinha mais meu esposo, ganhamos uma casa de tijolo no programa minha casa minha vida, já aumentei três cômodos nela. Mas, ainda trabalho, faço varanda de rede ate as 10 horas da noite, sou procurada pelas famílias para varrer algum terreiro grande, engomo em algumas casas de família. Sou uma mulher aposentada e livre, trabalho porque acho bom, meu marido diz que eu não preciso, minhas filhas ate reclamam, mas eu faço porque gosto e tenho liberdade para isto.

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