29 de out. de 2018

Troféu Anteu
Ao gigante filho da terra
Apoio:
Secretaria do Meio Ambiente e urbanismo – Dr. Marcos Ageu
Secretaria de Cultura e Turismo – Lucinha Felipe
Secretaria de Agricultura e pecuária - Hildernando Barreto.
LIONS Clube centenário João Alves Bezerra.
Associação dos idosos de Santa Edwiges.
Prefeitura de um novo tempo.
Sitio Cardoso III
“ Assim diz o senhor. Purifiquei esta água não causará mais mortes nem deixará a terra improdutiva. “ ( ).
Camponesa Antônia Dalvina de Jesus, nasceu a 23 de agosto de 1938, filha do casal José Bezerra Bastos e Maria Pia de Jesus, primogênita numa família de 13 irmãos, 5 deles morreram ainda na pequena infância, criando-se 8, 5 homens e 3 mulheres, a citar: Miguel Bastos de Andrade, José Valdizete ( in memoria ), Raimundo ( in memoria ), Luiz ( in memoria ), José Eliomar Bastos de Andrade, Elinoete, Eliza Elizete.
_ Sou neta do Juiz de paz Antônio Alves de Andrade, meu avô era sempre procurado pelas pessoas da região quando se precisava decidir algum litígio. Tinha sempre um cavalo selado que ficava a disposição da comunidade na necessidade de buscar um padre para dar a extrema-unção a algum moribundo, dividas entre vizinhos, algum desentendimento ou disputa, sempre antes de buscar as autoridades no Iguatu, ou ate a policia, tinha a interferência benéfica dele. Deixou de legado a casa de minha mãe uma preta batizada pelo nome de Maria do Espirito Santo, que todos chamávamos de “ Nega “, foi ela que ajudou mamãe na criação de todos nós. Minha mãe dona Maria Pia, quando a gente errava de proposito, assim, como quebrar uma tigela que uma amiga havia lhe presenteado vindo de Belém do Para, ela disciplinava:
_ Minha filha você fez isto para me contrariar, mas sabia o que estava fazendo, vou lhe disciplinar, me der a mão!
Ai a palmatoria entrava em ação, mas foram poucas as vezes. Nunca usei batom, nunca me enfeitei, nem era de estar me arrumando assim por nada. Um dia um tocador de samba passou em frente a nossa casa, ia animar uma festa nas proximidades. Neste instante papai perguntou:
_ Dalvina você tem vontade de ir uma festa desta ver o povo dançar?
_ Sim! Tenho vontade, mas mamãe não acha certo.
_ Mas eu vou levar você e a Elisete, nós vamos.
Quando mamãe soube da decisão de papai, não acreditou e perguntou-lhe, por um apelido carinhoso com que o tratava:
_ Negão você vai botar suas filhas na frente e ir para samba!? Negão, casamento e mortalha no céu se talha.
Para mim foi uma surpresa muito grande, ver aqueles homens agarrados com as mulheres. Uma amiga minha, ainda me levou a um quarto em separa da sala de dança e tentou me ensinar a dançar, a Maria Soares, mas não teve jeito, eu não nasci para a coisa. Algumas propostas de namoro surgiram, mas minha resposta sempre foi que eu tinha vocação religiosa, iria ser freira.
Quando eu completei 17 primaveras, minha mãe adoeceu dos pulmões, nunca mais teve saúde e eu tive que arcar, além de minhas responsabilidades, com as dela, em relação a casa e a criação dos meus irmãos, além de cuidar da saúde de mamãe, durante 27 anos eu estive ao seu lado, fui muitas vezes em sua companhia a Fortaleza, buscando a sua cura. Papai me disse:
_ Minha filha ser freira, ate onde eu sei, é para servir aos que mais precisam. Aqui em casa, eu preciso de você, seus irmãos precisam de você, sua mãe precisa de você.
Com idade de 8 anos, eu já fazia o enxoval dos meus irmãos que iam nascer. Marcar, bordar e costurar tudo aprendi com minha mãe. Ela me mandava fazer algumas costuras para pessoas necessitadas que moravam aqui na ribeirado Jaguaribe e não podiam pagar. Isto me preencheu e nunca senti tristeza ou carência em relação a afeto, pois sou amada por toda minha família, basta dizer que entre nosso povo aqui na ribeira, sou madrinha de quase toda a comunidade. Hoje eu vou a roça ver o serviço, mas ainda ontem, eu ia fazer. Na luta sobre a terra, só não fiz dois serviços, lacar lenha de machado e tecer cerca de vara, o resto eu fiz tudo. Quando a gente é nova, eu achava melhor fazer, as condições financeiras naquela época eram muito difíceis, mas eu nunca tive do que me maldizer. Hoje, estou com 80 anos, dentro da casa dos meus pais, na função que eles me delegaram, cuidando de nossa família, com muito amor por todos, portanto, posso afirmar que sou livre e que sou feliz.


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