Legitimo de Braga
Tributo a Roseno
- Netim!
- Bom dia seu lelé.
Manhã de 28 de abril
Estou no largo da telha, mais precisamente no centro dos
feirantes, ou melhor, no meio a um amontoado de barracas levantadas por estes,
com seus próprios braços, depois que despejados ali, pelo poder publico
municipal, na administração anterior, mais precisamente, na barraca da Edna.
Quem me cumprimentou
com tanto entusiasmo, foi o senhor Leandro, que na sua juventude trabalhou
comigo como cambista e hoje garante o pão de cada dia de sua família como
rifeiro, o nosso passado comum, aponta para o bolso de minha camisa, onde trago
sempre como companheira inseparável, minha lazarina legitimo de Braga (caneta)
e afirma:
- A arma do cambista
- Arma não. Instrumento de trabalho do escravo. A arma é dada
ao homem livre para que possa conservar sua liberdade. O cambista hoje trabalha
sem receber sua tradicional comissão de 30%, paga por mim, por meu pai.
- Mas de quem é a culpa!? É deles que dão a comissão.
- Não! A culpa é dos banqueiros que ressuscitaram a figura do
capitão do mato.
- Capitão do que!? Não sei oque é isso, explique.
- Na época do império no Brasil, quando a escravidão comum
era a do negro. Sonhando este com sua liberdade, pondo em risco a própria vida,
num descuido do capataz, do feitor, ganhava o mato onde ao unir-se com outros
desgraçados com a mesma sorte, formavam os quilombos. O branco que ousa-se ir
busca-los encontraria seguramente a morte. Nasceu ai a figura do capitão do
mato. Um negro tirado da senzala de porte físico avantajado, que depois de
receber do seu senhor um chapéu, um par de botas, uma cartucheira de balas, um
rifle, um cavalo selado, esquecia todos os sofrimentos anteriormente ocorridos,
esquecendo também os negros de onde havia vindo e ate os familiares,
tornando-se a partir dali o responsável direto por algum negro fujão. Se algum
dos antigos irmãos no infortúnio buscava a liberdade em alguma precipitada,
vinha logo atrás dele o capitão do mato, com uma ira atroz, um ódio mortal ao
seu irmão de cor, o vinho do amor transformado no vinagre do ódio.
É isto que ocorre
hoje no Iguatu, os banqueiros sustentam o excedente das apostas de 20 rifeiros,
forçando com isso uma nação de aproximadamente 400 cambistas a abdicarem de sua
comissão de 30%, para que o apostador possa receber no caso de “acertar no
bicho”, o mesmo prêmio pago pelo rifeiro, em que 1 real pega 20 reais. Quando o
banqueiro só paga para cada real apostado 15 reais. Isto indica que quando o
apostador joga 10 reais no macaco o cambista humildemente escreve na pule 14
reais. Quando o arrecadador passa tira a comissão de 30% e leva 9,80 ficando o
cambista com 20 centavos. O que significa dizer que quando o cambista apurar
1000 reais terá ganho 20 reais. O Iguatu hoje sustenta 40.000 reais de apostas
diárias no bicho, ficando na mão de aproximadamente 400 cambistas, 800 reais.
Foi isto que fez os banqueiros do jogo do bicho no Iguatu, fortaleceram 20
rifeiros para escravizarem um universo de aproximadamente 400 cambistas.
- Traição!!! Afirma o senhor Antônio de Melo que escutava
atentamente o dialogo.
- Safadeza das braba!!!- Assegura o senhor Cicero Alves.
Aproximadamente 9 horas, estou na praça da caixa econômica,
trago um chapéu de couro à moda de lampião na cabeça, no pescoço um lenço
incarnado, símbolo do revoltoso na revolução francesa, na revolução farroupilha e em todos os movimentos que se
seguiram na luta pela liberdade,a camisa aberta, o peito a mostra, fecha a figura do não comungar com o sistema, no horror a opressão do povo, ao meu lado funcionários
do poder publico municipal, favorecidos por uma determinação do prefeito
Ednaldo Lavor que decretou ponto facultativo, funcionários do IFCE, Correios,
Sindicato dos Comerciários, Agricultores, estudantes, pessoas do povo, meus filhos, José, Teresinha e seu namorado Alex, sentem trazidos pelo
vento o cheiro de lutas milenares pela liberdade, em todos os tempos, onde a
juventude sempre esteve presente. Quando a multidão seguindo as determinações
do jovem Pablo Neves, meu companheiro petista e recém eleito presidente do
sindicato dos servidores públicos municipais, ganhou as ruas numa caminhada
ordeira onde conclamávamos, todos os filhos desta terra, desta nação Brasileira
a aderirem a se solidarizarem com aquele momento vivido em toda a extensão da pátria,
as ruas do centro da cidade foram tomadas pelo povo gritando palavras como fora
Temer, diretas já. No momento em que o microfone me foi entregue, fiz este
discurso:
- Já foi dito que não se dar ponto sem nó. Isto significa
dizer que nada acontece sem motivo. Que o principal responsável por este
momento de opressão da classe trabalhadora no Brasil, era o Tio Sam, o cão
Ianque, os estados unidos da América que usando os seus tentáculos, a CIA
solaparam o governo eleito pelo sufrágio universal dos votos, da senhora Dilma Rousseff. Corromperam um senado e uma câmara
federal, transformando aproximadamente 400 dos nossos congressistas em capitães
do mato, que esquecendo compromissos anteriormente assumidos com seu
eleitorado, com sua pátria e com sua consciência, rasgaram com a CLT, votaram uma
reforma previdenciária que obrigara a classe trabalhadora em certos casos a
comprovarem 50 anos de serviços prestados, de carteira assinada, mal
comparando, serão obrigados ainda na velhice a cavarem sua própria cova.
Voltando assim, ao votarem esta arbitraria lei, com aproximadamente 200 milhões
de brasileiros para a senzala.
Quando um desses
senadores, deputados federais morrem alguém pergunta ao filho dele:
- O que seu pai lhe deixou?
- Dez blocos de apartamentos na capital;
É assim, eles
compram longe para que seu povo não fique sabendo.
- O que seu pai lhe deixou?
- Mil bois na cocheira.
Quando morre um
trabalhador brasileiro se a pergunta for feita, ouviremos como resposta:
- O patrão de papai, ontem a noite, na hora do enterro, bateu
no meu ombro e disse:
- Teu pai era um bom funcionário. Amanha você vai para a
vaguinha dele.
Ou seja, a gente só
consegue deixar de herança para os nossos filhos a mesma miséria em que
vivemos. Pois a nossa crise real é a crise moral, a completa falta de valores
como honestidade, honra, humildade, hospitalidade. A riqueza produzida pelo
trabalho destes milhões de patrícios, tem que ser mandado para fora, para
bancar a luxuria, a lascívia do cão ianque, dos estados unidos da américa.
Manhã de quarta-feira
17 de maio, estou em cima de uma bicicleta na Rua Edil Mendonça, também
conhecida como rua da caixa d’agua, ou 27 de novembro dia da liberdade do povo
Iguatuense. Sigo em direção a casa do cambista Roseno, tenho a intenção de
visita-lo pedir-lhe que escute a radio jornal na sexta-feira, dia 26, o
programa a hora da verdade, do Sandro Soares, pois nesta data irei ler uma
coluna em que cito o seu nome. Ao chegar lá, senti falta da tradicional mesinha
em que trabalhava na calçada:
- Roseno!? Vim visita-lo.
- Hoje é o aniversario dele, um bom dia para visita-lo, se
ele estivesse vivo.
Está com 15 dias
hoje, que papai morreu. Disse-me numa queixa com mansidão e humildade o Joaquim
Rozeval, enigmático. Fiquei em silêncio a imaginar qual força teria me levado à
aquela calçada exatamente no dia do aniversario do agora ausente Roseno.
Interpretei-o:
- Como aconteceu?
- Ele já vinha sofrendo, há mais de ano fez uma cirurgia de
próstata, a sete meses fez uma cirurgia de próstata, a sete meses fez uma
colostomia, onde ficou defecando, ai veio a hemodiálise, ele se queixava muito
da hemodiálise, mas fez o tratamento ate 10 dias antes de vir a óbito, no
inicio jazia o tratamento três vezes na semana, depois duas, mas ficava muito
abatido. Faleceu na madrugada do dia 02, deste mês de maio. Eu só estou aqui há
dois meses, abandonei o trabalho em São Paulo e vim ajudar minha irmã Lucirene
na luta cuidando de papai. Ela pode lhe dizer mais alguma coisa.
- Papai é natural do sitio Canga, Carius, seu nome completo
era Roseno Alves Neto, ficou viúvo a 24 anos, o nome de minha mãe era Odete
Correia Viana. Chegaram aqui no Iguatu, já trazendo 4 dos seus 7 filhos, as 3
mais novas já nasceram aqui, faz aproximadamente 50 anos foi trabalhar de
carroceiro e para ajudar nas despesas, fazia também o jogo do bicho, era
cambista. Para onde ele ia, ia com a caneta no bolso era a marca registrada
dele. É impressionante, mesmo agora no medo das dores, do sofrimento, da
doença, mas fica no subconsciente das pessoas, sempre perguntava oque tinha
dado, queria jogar no bicho. Eu sempre inventava, dizia algum bicho para
satisfazê-lo. Mas aqui nunca andou ninguém em relação ao jogo, nem arrecadador,
nem banqueiro. Digo, nestes tempos depois dele doente, antes, era aqui na
calçada todo dia, seis oito vezes ao dia. Agora mesmo, dois dias antes de sua
morte ele me disse:
- Hoje eu sonhei que pegava a milhar com 3 reais.
- Pois diga qual foi a milhar.
- Foi 3 avoante
Já estava trevaliando
o pobrezinho
É este o tributo a
Roseno, que agora pago, ao relatar um fato ocorrido no longínquo ano de 1996.
Estava eu correndo o bicho, herança que herdei do meu pai vereador José Correia
Braga, quando me chegou a noticia que o Roseno havia sido preso no alto do
jucá, que eu baixa-se as portas, pois com certeza logo a policia estaria ali.
Liguei para o advogado Mario Leal, pedi-lhe que fosse à delegacia e
acompanhasse o Roseno, o que foi feito, saindo o mesmo com brevidade, sem no
entanto poder deter a abertura do processo, onde constatava o meu nome como
bicheiro. No dia seguinte conversando com o Roseno, quis saber como aconteceu,
ele me contou:
- O homem chegou lá perguntando se aquilo era o jogo do
bicho. Eu disse que sim. Perguntei-lhe se queria fazer uma fezinha. Ele então
perguntou para quem eu bancava o jogo. Eu respondi: Para Neto Braga. Ele então
me disse:
- Eu sou o promotor Mauricio e você esta preso.
Mas ficou nisso
mesmo, eu não sabia quem ele era, mais não citei mais nome de ninguém.
Eu sorrindo:
- Roseno velho de guerra! Tu és um homem.
Com o tempo fui
chamado ao fórum criminal, diante da juíza e do citado promotor, onde fui
condenado a 4 meses de contenção de final de semana.
- O que é isso? Perguntei.
- Isto, significa que o senhor se apresentará no presídio na
sexta-feira as 18 horas e sairá na segunda-feira 06 horas da manhã. Mas não se
preocupe que esta pena pode ser transformada numa pena alternativa.
- Como assim?
- Posso transformar em serviço prestado. Significa dizer que
o senhor ficará vindo aqui, duas vezes na semana, durante duas horas, se
precisarmos que o senhor vá num banco, deixar alguma correspondência,
trazer-nos uma água, um cafezinho.
Eu me levantando; e
lhe mostrando as mãos espalmadas.
- Estas mãos que o
senhor esta vendo, nunca deram um dia de serviço a ninguém. Eu sou filho e neto
de Homens Livres, meu pai era comerciante, proprietário de terra, político,
banqueiro de jogo, meu avô o Velho Correinha era mais conhecido que o Iguatu, o
povo vinha para o Iguatu conhecer o Correinha, meu bisavô Pedro Felipe Chaves era
dono de terras no Cruiri e na Lagoa do Iguatu. Estas mãos que a senhora está
vendo é a quarta geração de Homens Livres, eu trabalho desde menino, mas dentro
de armazém de meu pai, em cima de propriedade da família e a senhora vem agora
me dizer que é para eu...
- Eu mando lhe prender!
- Pode me prender, mas eu não venho dar recado de ninguém.
Tenho Dito.
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