11 de nov. de 2015

TROFÉU ANTEU
Ao Homem com H maiúsculo, Honrado, Honesto. Ao gigante filho da terra.
Nos 60 anos do IFCE- Campus do Iguatu.
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O sertão do Norte oferecia então aos fazendeiros uma ocupação idêntica à das correrias de lobos e outros animais daninhos, em que se empregava a atividade dos nobres do reino. Eram as vaquejadas do gado barbatão, que se reproduziam com espantosa fecundidade, por aqueles ubérrimos campos ainda despovoados.
Durante a seca as boiadas refugiavam-se nas serras, e escondiam-se pelas lapas e grotas, onde passavam os rigores da estação ardente. Com a volta do inverno, saía o gado silvestre dos abrigos e derramavam-se pelos sertões.
O primeiro mês, deixavam-no tranquilo a refazer-se e engordar. Ao cabo daquele tempo, entravam as correrias dos fazendeiros , e também a dos vagabundos que viviam nômades pelo sertão.
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O caráter de Arnaldo tinha um traço especial. Zeloso de sua independência, e de extrema suscetibilidade nesse ponto, a menor aspereza, qualquer gesto imperativo, bastava para revolta-lhe os brios e torna-lo arrogante...
Por outro lado também o coração indomável era de cera para o sentimento afetuoso. Uma demonstração de amizade, um afago, obteria dele sacrifícios a que nenhum poder humano teria forças de o compelir jamais.
Vaqueiro Francisco Neto de Lavor, vulgarmente intitulado de Chico de Hosmídio, nasceu a 14 de Novembro de 1941, no sitio Estrada, do casal Hosmídio Alves de Lavor e Honorata Lenira de Lavor, sendo o primogênito, numa família de 10 irmãos. Casou-se com a Sra. Iracilda Cândida de Lavor, a 18 de Dezembro de 1965, tendo com esta oito filhos, dos quais, criaram-se quatro, Gilson, Gilton, Cosmo e Gilvanir, tendo ainda, sete netos e um bisneto.
Lá na casa de papai eram muitos meninos. Eu fui criado por meu avô Zé Carula, depois de sua morte, fiquei sobre a responsabilidade de um tio meu, que morreu em decorrência de uma queda de cavalo. Eu tinha 17 anos, mas já era domador de burro brabo, também Camboeiro, tínhamos uma tropa de burros, íamos buscar farinha no Brejo Seco. Sempre envolvido em comitivas que transportavam o gado, de um lado para o outro, sertão a dentro. Minha alimentação dependia de um alforje, que continha queijo, rapadura e farinha. As distancias eram muito grande, nem sempre tinha casa onde arranchamos, muitas vezes, se abrigávamos em baixo de alguma arvore e ali, improvisávamos uma refeição e passávamos à noite. Eu com idade de 18 anos, já comprava animais nesta região, e aos sábados, levava para a feira no Iguatu. Puxava de seis, oito animais encangado pelo cabresto, burro, cavalo, jumento. Saía aproximadamente as três da madrugada, quando o dia ia alvorecendo, estava dentro do rio Jaguaribe, o povo tirando água de cacimba, em ancoretas, no lombo de jumentos. Entrava na cidade por uma rua que dava com o mercado. Eu conheci o Iguatu, sem água encanada, sem luz elétrica. Naquele tempo, não existia carro, quando ouvimos a zuada de um carro pela primeira vez, corremos todos. Eu nunca estudei porque não quis, mas minha avó Maria Alves, pelejou. Quando eu não queria ir, ela me prometia peia. A escola era na casa da professora Adélia, mas só aprendi escrever o nome. O Anailton, meu neto, terminou os estudos agora, o Gildo diz:
_ Meu filho estude, para não viver na cangalha, como seu pai.
Eu alcancei duas secas grandes, em 1951 e 1958, mas não faltou água pro gado, faltou pasto. Hoje, a dificuldade maior é de água, a seca hoje, é maior que a de 58, assávamos o Mandacaru, fazíamos o espeto de pau, queimava o espinho, deixava esfriar, no outro dia pinicava todinho e dava pro gado. Meu pai, ia roçar aquela salsa, depois dela seca, trazia e botava prós Burros comer, a fome era grande, não tinha pasto.
Graças a Deus tivemos muitos momentos bons, temos nossos filhos. A vida, quando eu era mais novo, era a vida melhor do mundo, porque de tudo a gente tinha, feijão, milho, estocava tudo em uns tambor grande. Tínhamos porcos, ovelhas, gado, criávamos de tudo. Plantávamos algodão aqui, e em terras arrendadas. A missa de São Francisco, no Quixelo, a 04 de Outubro, eu nunca perdi nenhuma. Saia daqui a cavalo, as seis da manhã, as nove horas, estava lá. Naquele tempo, não tinha as águas do Orós, era um pulo. Atravessava o rio Jaguaribe na Barra da Serra, Currais Novos, Mata Pasto, Quixêlo. O povo ia todo, mais de duzentos cavaleiros na estrada. Mas a minha maior alegria, sempre foi as corridas de cavalo, as vaquejadas que participei em lugares como o Tambiá, Jenipapeiro, Barreiras, Odorico Vicente. Hoje em dia, nós aposentado, parece que as coisas tão mais difícil, os filhos não querem mais plantar, com estoria de ração. Hoje, tudo que temos dentro de casa, é comprado.
_ Sr. Chico de Hosmídio, o senhor se considera um Homem livre?
_ Como é!?
_ O Senhor se considera um Homem livre?
_ Livre!? Livre como? De processo?... Eu me considero um Homem livre! Porque , eu vou dizer, eu mando no que é meu! Tou em cima do que é meu. Até hoje! Amanhã eu não sei.







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