TROFÉU ANTEU
Ao Homem com H maiúsculo, Honrado, Honesto. Ao gigante filho da terra.
Nos 60 anos do IFCE- Campus do Iguatu.
...
O sertão do Norte oferecia então aos fazendeiros uma ocupação idêntica à
das correrias de lobos e outros animais daninhos, em que se empregava a
atividade dos nobres do reino. Eram as vaquejadas do gado barbatão, que
se reproduziam com espantosa fecundidade, por aqueles ubérrimos campos
ainda despovoados.
Durante a seca as boiadas refugiavam-se nas
serras, e escondiam-se pelas lapas e grotas, onde passavam os rigores da
estação ardente. Com a volta do inverno, saía o gado silvestre dos
abrigos e derramavam-se pelos sertões.
O primeiro mês, deixavam-no
tranquilo a refazer-se e engordar. Ao cabo daquele tempo, entravam as
correrias dos fazendeiros , e também a dos vagabundos que viviam nômades
pelo sertão.
...
O caráter de Arnaldo tinha um traço especial.
Zeloso de sua independência, e de extrema suscetibilidade nesse ponto, a
menor aspereza, qualquer gesto imperativo, bastava para revolta-lhe os
brios e torna-lo arrogante...
Por outro lado também o coração
indomável era de cera para o sentimento afetuoso. Uma demonstração de
amizade, um afago, obteria dele sacrifícios a que nenhum poder humano
teria forças de o compelir jamais.
Vaqueiro Francisco Neto de Lavor,
vulgarmente intitulado de Chico de Hosmídio, nasceu a 14 de Novembro de
1941, no sitio Estrada, do casal Hosmídio Alves de Lavor e Honorata
Lenira de Lavor, sendo o primogênito, numa família de 10 irmãos.
Casou-se com a Sra. Iracilda Cândida de Lavor, a 18 de Dezembro de 1965,
tendo com esta oito filhos, dos quais, criaram-se quatro, Gilson,
Gilton, Cosmo e Gilvanir, tendo ainda, sete netos e um bisneto.
Lá
na casa de papai eram muitos meninos. Eu fui criado por meu avô Zé
Carula, depois de sua morte, fiquei sobre a responsabilidade de um tio
meu, que morreu em decorrência de uma queda de cavalo. Eu tinha 17 anos,
mas já era domador de burro brabo, também Camboeiro, tínhamos uma tropa
de burros, íamos buscar farinha no Brejo Seco. Sempre envolvido em
comitivas que transportavam o gado, de um lado para o outro, sertão a
dentro. Minha alimentação dependia de um alforje, que continha queijo,
rapadura e farinha. As distancias eram muito grande, nem sempre tinha
casa onde arranchamos, muitas vezes, se abrigávamos em baixo de alguma
arvore e ali, improvisávamos uma refeição e passávamos à noite. Eu com
idade de 18 anos, já comprava animais nesta região, e aos sábados,
levava para a feira no Iguatu. Puxava de seis, oito animais encangado
pelo cabresto, burro, cavalo, jumento. Saía aproximadamente as três da
madrugada, quando o dia ia alvorecendo, estava dentro do rio Jaguaribe, o
povo tirando água de cacimba, em ancoretas, no lombo de jumentos.
Entrava na cidade por uma rua que dava com o mercado. Eu conheci o
Iguatu, sem água encanada, sem luz elétrica. Naquele tempo, não existia
carro, quando ouvimos a zuada de um carro pela primeira vez, corremos
todos. Eu nunca estudei porque não quis, mas minha avó Maria Alves,
pelejou. Quando eu não queria ir, ela me prometia peia. A escola era na
casa da professora Adélia, mas só aprendi escrever o nome. O Anailton,
meu neto, terminou os estudos agora, o Gildo diz:
_ Meu filho estude, para não viver na cangalha, como seu pai.
Eu alcancei duas secas grandes, em 1951 e 1958, mas não faltou água pro
gado, faltou pasto. Hoje, a dificuldade maior é de água, a seca hoje, é
maior que a de 58, assávamos o Mandacaru, fazíamos o espeto de pau,
queimava o espinho, deixava esfriar, no outro dia pinicava todinho e
dava pro gado. Meu pai, ia roçar aquela salsa, depois dela seca, trazia e
botava prós Burros comer, a fome era grande, não tinha pasto.
Graças a Deus tivemos muitos momentos bons, temos nossos filhos. A vida,
quando eu era mais novo, era a vida melhor do mundo, porque de tudo a
gente tinha, feijão, milho, estocava tudo em uns tambor grande. Tínhamos
porcos, ovelhas, gado, criávamos de tudo. Plantávamos algodão aqui, e
em terras arrendadas. A missa de São Francisco, no Quixelo, a 04 de
Outubro, eu nunca perdi nenhuma. Saia daqui a cavalo, as seis da manhã,
as nove horas, estava lá. Naquele tempo, não tinha as águas do Orós, era
um pulo. Atravessava o rio Jaguaribe na Barra da Serra, Currais Novos,
Mata Pasto, Quixêlo. O povo ia todo, mais de duzentos cavaleiros na
estrada. Mas a minha maior alegria, sempre foi as corridas de cavalo, as
vaquejadas que participei em lugares como o Tambiá, Jenipapeiro,
Barreiras, Odorico Vicente. Hoje em dia, nós aposentado, parece que as
coisas tão mais difícil, os filhos não querem mais plantar, com estoria
de ração. Hoje, tudo que temos dentro de casa, é comprado.
_ Sr. Chico de Hosmídio, o senhor se considera um Homem livre?
_ Como é!?
_ O Senhor se considera um Homem livre?
_ Livre!? Livre como? De processo?... Eu me considero um Homem livre!
Porque , eu vou dizer, eu mando no que é meu! Tou em cima do que é meu.
Até hoje! Amanhã eu não sei.
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