A CASA DAS TRÊS MULHERES.
_ AH, meu Deus! E agora, o que é que eu vou fazer pra dar de comer a minha família!?
_ Homem o que foi que aconteceu?
_ O prefeito me demitiu, não sou mais vigia noturno, no posto de saúde da Vila Centenário.
_ Meu irmão, vá pra casa, esfrie a cabeça, que enquanto esse povo mandar no Iguatu, eu lhe dou o salário que você ganhava lá e lhe arranjo casa para morar.
O dialogo transcrito acima ocorreu de fato, e os seus personagens são pessoas conhecidas em nossa comuna, moradores da José de Alencar, desde quando esta ainda chamava-se Rua do Angico, a Profª Francisca Moreira do Nascimento “ Fanka”e o seu irmão o Sr. Sebastião Moreira do Nascimento “Babá”. Fiquei admirado da firmeza com que ela proferira aquelas palavras, da sua ação rápida em amparar o irmão que caia. Curioso em descobri, aonde teria sido gerada tanta coragem, tanta determinação, mergulhei no nosso passado comum. Lembrei meu avô o velho Correinha , freqüentador daquela casa, desde quando ela não passava de uma pequena tapera construída de pau a pique, rebocada com barro, lá no inicio do século XX.
_ Dona Maria Diolina, me compre esta casa.
_ Eu não posso Correinha.
_ Pode! Torre e pile café pro meu comercio, que depois a gente conversa.
Transcorrido um ano, em outra visita do meu avô aquela casa, onde brincava-se o ‘ Lu’ aos domingos, a sombra de um velho cajueiro:
_ Pronto Maria a casa agora é sua.
Mas ainda há uma terceira mulher a unir estas duas, como ponte ligando o passado ao presente, a Sra. Maria de Lourdes Moreira, verdadeira heroína desta casa, contemporânea de muitos. E ainda viva nas historias contadas por amigos, onde sempre, frisam bem, demonstrou a sua caridade, a sua filantropia.
O sarg. Faustino conta algumas reminiscências suas, saudosista, é assim que se lembra dela:
_ Minha Patroa, quase uma mãe. Quando aqui cheguei em 1963, foi ela quem primeiro me apoiou, como um filho no seu hotel, dava-me conselhos, em uma época, em que eu, muito novo. Precisava deles:
_ Marrudo, o bicho ontem desembestou..., cuidado marrudo, com essas sirigaitas.
Referia-se assim, por ocasião dos plantões que o sargento tirava nos domingos, naquelas ocasiões o telefone da cadeia publica, não parava de tocar, ela muito perspicaz, sabia não ser ocorrências, mas sim, as admiradoras que o jovem mancebo conseguira amealhar.
Na rua José de Alencar, bem próximo a cadeia publica, funcionava duas associações, a dos motoristas e a dos carreteiros, nestes locais ocorriam festas freqüentes. Os militares silvestre, Sólon, Ferreira, Neto, Faustino, Cabo Cícero( famoso Canção), entre outros, eram habituais nestas festas, por isso mesmo, quando recebiam suas quinzenas quitavam logo os vales, para que tivessem o credito aberto, nas próximas bebedeiras. Isto prejudicava em muito o recebimento no Hotel da “Mãe U”, que ficava por ultimo e nunca recebia por completo:
_ Marrudo aqui é a primeira obrigação, é como o pelo sinal, você não pode deixar de fazer. Depois não se queixem, quando entrarem no helicóptero e no pé- seco ( referencia ao cari e ao preá).
_ Mas Mãe U, o dinheiro não deu.
_ Que conversa e essa marrudo? Vocês primeiro liquidem aqui.
Em frente a praça Caxias, tinha o bar do Vareta, onde o Capitão Onofre, reunia-se com outros militares, para um aperitivo entre uma partida e outra de sinuca. Por volta do meio dia ouvia-se o grito de Lurdes:
_ Ei Marrudo!? Tá na mesa!
Era a senha para o almoço, o Faustino em forma de pilheria, gritava:
_ Mãe U!? O que é o menu?
_ Repetiu!
_ Já sei, é peixe.
_ E é se quiserem. Vocês não tem onde comprar, só quem agüenta isto aqui sou eu, e na próxima semana que vai ser só pé-seco.
Filantropa , em um tempo que não se fazia uso desta palavra, era ela que cobria as faltas do Estado, em relação aos presos, no que diz respeito as refeições.
Não passava um dia, sem que visita-se a cadeia, ali levava comida para quem necessita-se. Presos perigosos como “ Santa- Rosa, “ Belinda”, “ Canilo” eram por ela socorridos, ganhando daí, o apelido de: Mãe dos Presos.
Progenitora de3 sete filhos, sem poder contar com o marido na luta pela sobrevivência, pois este, vitima do alcoolismo, este mal que destrói o individuo, desequilibra a família e traz um custo imenso para a sociedade, sempre que convocado por ela para ajudar na luta pelo pão de cada dia, ouvia de sua boca, como resposta:
_ Eu não vou trabalhar para dar de comer a vagabundo!
_ Eu não vou trabalhar para dar de comer a vagabundo!
Primeira vendedora de bilhetes da Loteria Estadual no Iguatu, já na velhice encontra-se com o antigo companheiro de tempos idos , em que fora feliz, o Sarg. Faustino. Este querendo confortá-la, levanta-lhe o astral, comenta:
_ Mãe U, Tu tá com a cara boa, vendendo saúde.
Ela resignada:
- Sim Marrudo. Zé Duquesa ( referencia ao cemitério), já tá com a boca aberta me esperando.
Levada a Casa de Saúde, onde lhe amputaram uma perna em decorrência de uma diabete mal tratada. Consolando a filha “ Fanka”, que caíra aos prantos, desesperada, ao vê-la naquela situação. Ainda arranjou forças para confortá-la:
_ Minha filha, duas pernas é luxo.
E a esta homenagem que presto hoje aquela casa, e em especial a todas as mulheres que se dobraram aos desígnios dos mais fortes, que apesar de frágeis, resistem e garantem a subsistência e o futuro de seus descendentes, é a todas estas que parabenizo na pessoa da senhora Geneci ferreira Silva, na passagem do Dia Internacional das Mulheres.
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