Estrangeiros e Patrícios

20 de set. de 2013

Legitimo de Braga
do alto... da chapada

ESTRANGEIROS E PATRÍCIOS

“ Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim a ganância, ao ódio e a prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam á ventura de todos nós.
(CHARLIES CHAPLIN)

Mergulhando num passado recente, com profundidade que não ultrapassa os 50 anos, consigo vislumbrar no livro de minha memória, o comercio do meu pai, situado na Rua Floriano Peixoto (rua do fogo) na esquina com a Socil e a Loja Chic, com frente para a praça Demóstenes de Carvalho (praça da caixa econômica), da calçada onde trabalhávamos todos os irmãos, dava para observar bem na outra extremidade da praça o Sr. Bráz Papaléo, italiano que estabeleceu seu comércio nestes sertões. Homem alto, branco, forte e de voz embolada, era a ele que buscava quando minha bicicleta Monark precisava de um pneu. Representante da Pirelli, tinha um comercio diversificado com querosene jacaré, papel de embrulho farinha, ração, café em caroço,  cera de carnaúba. Apesar de estrangeiro, doou a estas terras uma vida de trabalho e sacrifícios, estando ainda bem presente em nossa comuna, em muitos que descendem do seu sangue como a Doutora Juíza Nadir Papaléo.
Bem próximo ao comercio desde estrangeiro, funcionava a empresa de ônibus Vazealegrense, pertencente a um patrício,  especializada em transportar mão de obra barata para o sul e sudeste do país, São Paulo, principalmente. Naquela praça presenciei mais de uma centena de vezes o desmembramento de famílias que ali chegavam para se despedirem dos seus, que partiam em busca de oportunidades que o estado lhes negava. Jovens que abandonavam seu pai, sua mãe, seus irmãos, sua noiva, sua gente, seus costumes, sua terra, em busca de trabalho, de dignidade. Levavam sempre como companheira de jornada um farofão de galinha, preparada pela mãe, além do sonho de um dia poderem voltar ao torrão natal, financeiramente vitoriosos. Na nossa calçada ouvi por vezes meu pai afirmar: - Ali é aonde vai os iludidos e voltam os arrependidos.
Naquela época quando a inclemência do céu fazia queimar as terras sertanejas, era comum correr o boato de invasão do comércio pelos “cassacos”, vaqueiros e agricultores que abandonavam seus afazeres no campo e entravam em multidão pela cidade em busca de alimento para si e seus familiares, aterrorizando os comerciantes que baixavam as portas dos estabelecimentos com medo do saque. Ainda escuto, ao fechar os olhos, os gritos de terror e medo da gente da cidade, ao ver aquela leva de miseráveis passando rápidos e cabisbaixos nas ruas com sacos de arroz, feijão, farinha, rapaduras e até caixa registradora, sobre os ombros.
- Invadiram a Cobal!!!
Uma outra cena comum aqueles dias, era a quantidade enorme de esmoleis, que vagavam pelas nossas calçadas, de porta em porta, com a triste e humilde frase:
-  Uma esmola pelo amor de Deus?
Sem contar os pontos chaves, como portões do mercado, portas de banco, farmácias, igrejas onde aleijados, cegos e leprosos expunham as suas chagas e deficiências, a caridade dos mais afortunados.
Neste cenário, os incentivos governamentais que chegavam através das instituições financeiras (Banco do Brasil) a nossa cidade, passavam todos, as mãos de cinco ou seis grandes proprietários de terra, plantadores de algodão, a citar Nelzim Matias, Adeodato Matos, (in memória). Pobre, quando visto dentro de banco, era pra pagar o papel da energia ou da água.

Foi neste solo árido, de água escassa e sem perspectiva, entre o velame e a macambira que me criei, curando – me das mazelas da infância, depois de surras de pião roxo, aplicadas pela madrinha Isaura e Maria Galvão, duas rezadeiras de minha terra, foi neste Iguatu que agora transcrevo, orgulhoso dos meus pais, de minha casa, de minha gente, que fui uma criança feliz.
Hoje graças aos programas de redistribuição de renda do governo federal, qual quer um de nós pode sentar frente a frente com um gerente de banco, e de lá arrancar fundos pra criar porcos, carneiros, peixes. Graças a estes programas assistênciais do governo do partido dos trabalhadores, estamos atravessando a maior seca dos últimos cinquenta anos e ainda apesar da estiagem, não se ouviu falar de cidade ou comercio invadido por “cassacos”. E os desvalidos da sorte que se supliciavam em nossas calçadas “esmoleis” desapareceram, graças a estes programas que tenta restituir – lhes um pouco de dignidade. O êxodo rural que em outros tempos era obrigatório aos nossos jovens, hoje só arrasta a escravidão sulista, os alienados por este sistema capitalista, que os engana com falsos valores.
Falsos valores estes que não enganam os estrangeiros cubanos, médicos humanitários que aqui estão chegando para servir a nossa de população de baixa renda que sempre foi esquecida pelos governos anteriores ao do PT. No sertão brabo, quando se ver um médico visitando um paciente, dando-lhe um medicamento, preocupado com sua família, com sua saúde, um médico humanizado. Pode esperar que é candidato a prefeito nas próximas eleições, ai sim mostrará quem de fato é, amealhando  em quatro anos de corrupção, o que não conseguiria em quarenta de trabalho honesto.
É este o grande medo da classe médica brasileira hoje, desgraçadamente e para tristeza nossa, o capitalismo corrompeu a todos, com a chegada dos médicos humanitários Cubanos, a máscara cairá.
Quanto as pendências processuais jurídicas nascidas deste medo que a classe médica brasileira tem dos médicos estrangeiros. Basta ao Juiz escutar o celebre Anatole France.
A preocupação de um Juiz, na sua interpretação da lei, não deve ser unicamente limitada ao caso especial que lhe está sendo submetido, mas estender- se ainda as boas ou más consequências que poderão advir da sua sentença num âmbito mais geral.

Tenho dito.
Cicero Correia Lima
Secretario do meio ambiente do PT Iguatu

0 comentários:

Postar um comentário