DIA DE REIS
6 de jan. de 2013
Não nego meu sangue, não nego meu nome
Olho pra fome e pergunto: O que há?
Eu sou brasileiro, fio do nordeste,
Sou cabra da peste, sou do Ceará.
( Patativa do Assaré )
_ Eu não comemorei o Natal, nem o Ano Bom, mas agora no Dia de Reis eu vou comemorar o aniversario de um grande amigo meu!
_ Quem é Paulo Davi, este teu amigo?
_ Belchior Gomes de Araújo. Todo dia de reis ele comemorava seu aniversario. Fazia festa, lá na Baixa Verde, pros amigos, com muita musica puxada por Zuca, no pé de bode( concertina, instrumento musical), e Antonio Davi, no violão, muita aguardente Mata Fresca e muita carne na brasa.
Foram estas palavras que eu ouvi, saídas da boca deste octogenário, que naufrago da vida, foi trazido até mim, pelas traiçoeiras ondas do destino. Madrugada ainda, ele acabava de despertar do seu sono largo e sem sonhos. Eu já havia decido do apartamento onde moro, com uma garrafa de café quente. Nos pomos os dois na calçada a conversar. Ele saudosista, eu interessado em ouvi-lo, admirado com aquela eloqüente demonstração de lealdade, do orgulho com que proferira aquelas palavras. Fiquei a contemplá-lo e a sua velhice robusta, a desafiar o tempo. Curioso de sua juventude, resolvi cutuca-lo com vara curta:
_ Vou escrever um artigo sobre ti, terá como titulo: UM CABRA DE BELCHIOR.
_ Cabra não! Quem tinha cabra era LAMPIÃO. Belchior tinha amigos. Eu era amigo dele, do seu pai.
_ Paulo, ta clareando.Vai pegar o potrinho e a besta para dar-mos a ração.
Ele a recordar desvanecido, aventuras passadas:
_ Cavalo... Ele tinha um cavalo que chamava “ Lenço Branco ‘’, cheio de truques, bastava Belchior assobiar que ele logo riscava em cima. Vou te contar uma historia :
_ Em uma de nossas idas a Mata Fresca ( fazenda de propriedade do Cel. Pedroca, pai de Belchior ), ao passarmos na Barra, pelas terras do Sr. Antonio Severo, Belchior viu um cacho de laranjas, muito bonito. Após atravessar o riacho do Trussu, apeamos em frente a bodega de Zé Marcolino. Depois de tomar umas e outras, ele voltou para buscar o cacho de laranjas, mas não conseguiu seu intento, porque os cachorros botaram nele. Voltando a bodega, mandou que o Zé Marcolino fosse ate a casa do Sr. Antonio Severo, para que esse lhe mandasse o cacho de laranjas. A resposta foi que ele mandasse buscar outra coisa, porque o cacho de laranjas, já havia sido dado à Santa. Montamos a cavalo e prosseguimos viagem. Dias depois, ao realizar-se a festa da padroeira da Barra, com o respectivo leilão, ao chegar a vez do cacho de laranjas, o Sr. Ezaú, proprietário de terra e tido como um dos ricos da região, deu o primeiro lance:
_ 10 mil reis!
_ 20 mil reis! Foi a voz que se ouviu, lá de trás, na multidão.
_ 30 mil reis! Cobriu Esaú.
_ 40 mil reis!
O povo foi abrindo espaço para observar o segundo arrematante. Era Zeca da Piruá, que firme na palavra, não deixava Esaú vencer a contenda:
_ 500 mil reis!
_ 600 mil reis!
_ 1 conto de reis!!! Grita Esaú, pensando dar fim a disputa.
_ Espere um pouquinho que eu vou aqui no mato inverter água. Diz Zeca da Piruá.
Minutos depois:
_ 2 contos de reis.
O Sr. Esaú, por ter fama de rico, não queria se deixar vencer por um cacará, como Zeca da Piruá e firme no lance:
_ 3 contos de reis!
Daí em diante foi uma mijadeira só, de cinco em cinco minutos Zeca entrava dentro da mata para, “inverter água‘’. Quando no leilão, o cacho de laranjas, alcançou a astronômica soma de 10 contos de réis, Esaú desistiu. Foi então, que se ouviu a grita do povo :
_ Então, Zeca da Piruá?! Como é que tu vai fazer, para pagar a Igreja?!
Naquele instante surgiu, saído da mata, Belchior:
_ Êpa! Êpa! Êpa! Não mexa com ele não, que ele é meu!
E no dinheiro, pagou a avultada quantia, levando consigo, o cacho de laranjas.
Contam que foi com este dinheiro que construíram a Igreja da Barra, em homenagem a sua padroeira Nossa Senhora de Fátima.
Tenho dito.
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