22 de nov. de 2011

Legítimo de Braga
do alto... da chapada.

VALDERMAZINHO CURADOR.

''...Tinha acertado as rezas para aquela madrugada. Só um
homem de corpo fechado podia escapar das armadilhas e
dos cercos, desaparecendo no meio da fumaça e do pipocar
dos tiros. Era assim que fazia o Capitão.
Andaram uns cinquenta passos e pararam numa peque-
na clareira, cercada de juremas pretas. Bastião trazia um
barrete vermelho enterrado na cabeça, um bastão de peni-
tente na mão direita e, na esquerda, uma bacia com água
que ninguém havia tocado. O sol ainda não nascera, mas
os passarinhos mais inquietos, despertados pelo cerimonial
de Bastião, já se agitavam nos galhos mais altos das árvo-
res. Bastião, magro, grande,imponente, fez um sinal para
Sabino ajoelhar-se, mas este não lhe obedeceu:
_ Vamo fazê tudo de pé, mesmo.
Bastião começou pelo Credo. Pediu a Sabino para
repetir as palavras que ia articulando. Quando chegou na
passagem que fala em ''morto e sepultado'', mudou para o
seguinte:'' GUARDADO E FECHADO SEJA O MEU
CORPO PARA TODOS OS MEUS INIMIGOS, EN-
CARNADOS OU DESENCARNADOS''.
Bastião levantou a vara e a cabeça para o alto, gri-
tando na fria manhã que começava: '' FECHA-TE OR-
GÃO PELO VAJUCÁ,PRA TODOS OS MALES QUE
NO MUNDO HÁ.FECHA-TE CORPO, GUARDA-TE
IRMÃO NA SANTA COVA DE SALOMÃO''.
Depois, o negro tirou água da bacia e aspergiu a cabe
ça descoberta de Sabino, rezando, contrito, com unção a
oração de São Cipriano. ( Carcará )



Seu pai se chamava Antônio Elias de Souza, natural de Barra de Jardim, na encosta da Serra do Araripe, também conhecida como Serra da farinha. Sua mãe a Sra. Maria das Dores da Conceição, também natural do Pernambuco. Chegaram na nossa região, recém-casados, no ano de 1935, segundo ele, graças a curiosidade do seu pai em conhecer novas terras, firmaram residencia no Sitio Unidade, na vizinha Acopiara, foi ali, nas terras do Sr. Chico do Crato que as rezas, as orações e a roça, fizeram serventia ao torrador de farinha pernambucano.
Nascido a 06 de julho de 1936, sendo o primogênito, numa família de sete irmãos :
_ Os outros a morte levou, ou estão em terras distantes, no litoral. A 53 anos que rezo, tive um sonho com o sagrado coração de Jesus, no sonho o senhor me afirmava: Você vai ser curador .
No outro dia cedinho contou ao pai , que logo tomou a iniciativa de lhe ensinar as rezas
e os mistérios , que envolvia a arte da cura. Afirma ser um dom, dado por Deus . Conta que o pai , previu a própria morte. No dia do encontro com a magra sorte, o chamou em particular, e lhe contou que chegara o seu dia e que dali em diante, era para ele prosseguir , com o que tinha aprendido.
_ Sou um homem honesto. Graças a Deus, não quero nada de ninguém . Se alguém chega aqui atras de algo errado, mando embora . Aqui todo mundo gosta de mim, sexta-feira mesmo, quando eu fui terminar as rezas, era 10 horas da noite, atendi 130 pessoas . E isto é, diariamente , de segunda a sexta-feira . Menos nos sábados e domingos , que tiro para atender as crianças. As doenças mais corriqueiras são, ventre caído, quebrante , (mal olhado) , dor de ouvido, assombração. Aqui chega gente de toda parte, Cariuzinho, São Sebastião, Acopiara, Saboeiro, Crateús, Juazeiro
Crato, já teve dia de chegar em meu quarto de oração, gente vinda do Tocantins.
Perguntado pelo financeiro, diz que:
_ Nunca cobrei nada de ninguém. Só ter fé, a fé é tudo. Se alguém deixa algum dinheiro é de iniciativa própria, eu não cobro nada pelas rezas, é de graça, Deus dar de graça. Muitos me procuram para que eu reze para abrir os caminhos no comercio, outros em busca de emprego. Uma vez um cidadão de Acopiara, me buscou para que eu intercedesse por sua mulher, pois já havia cansado de médicos e de remédios de farmácia. Quando enlouquecia, quebrava tudo dentro de casa.
Já havia sido internada no Crato, sem resultado algum. Pedi então, um retrato da mesma, e que ele voltasse no dia seguinte. Nas minhas orações, me senti saído do corpo, estive em sua casa, vi um saco plastico no seu telhado. No outro dia, quando procurado, mandei que o cidadão voltasse a sua residencia, procurasse uma escada e me trouxesse a esposa, e o saco, para que eu examinasse o que tinha dentro. A mulher veio rasgando as próprias vestes, dentro do carro. Quando examinei o conteúdo do saco, havia terra de cemitério, ossos humanos e o retrato da mesma. Pedi que o marido
ficasse ao seu lado, enquanto eu rezava. Quando terminei as orações, ao abri os olhos, deparei-me
com uma senhora alheia a tudo. Não lembrava de nada, nem como havia chegado aqui. Saiu daqui
curada. Só fiz uma recomendação: Para que não voltasse mas, aquela casa.

_ Passei 31 anos de minha vida trabalhando e rezando nas terras do Cardoso, na propriedade do Neto Contador, desde quando estas pertenciam ao Sr. Eudes Costa ( Casa Iguatu). Sai de lá, para minha casa, construída por meus esforços. Do patrão, a promessa que me ajudaria com a madeira e as telhas. Na graça de Deus, chegou a madeira, as telhas, se quis, comprei-as com meu dinheiro.Há oito anos moro aqui no Fomento, eu e minha velha, a Sra. Eliza Miguel de Souza, estou sossegado, nós nunca brigamos, somos da antiguidade, de um tempo em que se respeitava as pessoas, estivessemos aqui sentados, passa-se algum menino pelo meio. Quando a visita sai-se.O pai mandava que o menino fosse quebra um galho:
_ Esse aqui?
_ Não! Aquele mais grosso.
_ Pronto.
_ Se ajoelha!
E a peia comia.
Proprietarios de terras, criadores o procuram para expulsar as cobras do seu respectivo pasto, para que livre os seus rebanhos dos carrapatos.Na saida, vejo chegar uma mãe,trazendo seu filho de um mês e dois dias de nascido. Já e sua terceira visita ao Sr. Valdemarzinho Curador:
_ Qual seu nome senhora, e o da criança?
_ Sou moradora do Cardozo, meu nome é Dena e o meu filho e Ezequiel.
_ A senhora estar satisfeita com as razas do Sr. Valdemarzinho?
_ Estou, com certeza.

Tenho Dito.

Cícero Correia Lima .

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