Legítimo de Braga

OS MIL CAMELOS DO REI.

“ Porque o povo é como o camelo, que deixa às vezes o feixe de boa palha que está comendo para comer o de palha má, unicamente porque o puseram por cima do primeiro. “


_ Hoje é dez! Hoje é dez! Hoje é dez!
Foi a frase que mais ouvi nesta quadra invernosa, ao
chegar com meus filhos no Carlota Távora, sempre as sete da matina,
diante de um portão que se tornou pequeno para o fluxo de crianças a
pé, pais, professores, ciclistas, motoqueiros, ansiosos para cumprirem
com suas obrigações. Ao fechar os olhos, sentia-me de repente
transportado para a feira livre de Caruaru . A voz do porteiro
Francisco de Assis Santos, conhecido ''França'',continua a brandar com
fortes pulmões:
_ Hoje é dez! Hoje é dez!
Uma dessas manhãs, ao retornar, desta missão sublime de
guiar os filhos a escola, pela rua Juvenal Barreto, deparei-me com
imenso séquito, numerosa comitiva, à altura do chafariz, no cruzamento
com a vereador Luiz Barreto, lembrei os reis persas, que viajavam com
grandes comitivas em camelos e elefantes arreados de púrpura , e
seguidos de soldados e nobres, uns cem carros, não afirmo com certeza,
umas duzentas motos , estacionadas no cruzamento, a rua interditada
pelos homens do DEMUTRAN, parei para identificar tão pomposa caravana.
Era o prefeito Agenor Neto, que havia armado a sua tenda, em frente ao
chafariz, que num passado não muito distante era o ganha-pão para as
famílias do bairro Brasília , mas que sua maldade, fez cortar a água,
com que muitas daquelas mulheres lavavam as roupas dos mais abastado,
ficando essas mães de família, ao deus-dará . Agora ali, em busca de
água , água viva, em busca de apoio daquela gente sofrida, esquecida,
gente que tiveram os seus sonhos sepultados pela morte, como o saudoso
Geraldo Procópio, carpinteiro, morador da Vereador Luiz Barreto, cuja
missão primeira, era limpar o esgoto em frente a sua casa, ainda pela
madrugada, enfrentando tapurus de rabo de quase 2cm. Gente como o
comerciante Sr. Manuel, cuja morte sob suspeita de dengue Hemorrágica,
nunca foi investigada, este sim, um amigo do bairro, pois pela aurora
fazia uma garrafa de café, levantava as portas do seu estabelecimento,
para receber os companheiros na madrugada e com uma vassoura começava
a luta com o esgoto, até cair mortalmente embaixo do chafariz. Ou o
centenário Juca, que morreu um dia antes, desta PREFEITURA NO MEU
BAIRRO, já enojado com tanta dissimulação e mentiras desta humanidade.
Com o transbordar constante dos esgotos, graças a
irresponsabilidade da atual gestão municipal, que conhecendo o
problema a muito, e sabendo que durante a quadra invernosa estas
terras banhadas pelo antigo riacho da lagoa da telha, hoje
compreendendo as ruas Pedro Gomes, Júlio Cavalcante, Juvenal Barreto,
Antônio Mendonça, todas à altura do cruzamento com a vereador Luiz
Barreto, Transformam-se em verdadeiras fossas a céu aberto, onde com o
lento baixar das águas o divertimento preferido das crianças, cujos
pais estão trabalhando no centro comercial, é brincar com os tapurus
que ficam a rasteja pelas calçadas. Nunca, nestes quase oito anos a
administração tomou uma medida para sanear aquela área.
Por um outro lado, estas crianças tinham até o ano
passado um espaço físico magnifico, onde podiam descarregar as
energias comum a idade, refiro-me ao colégio Adail Barreto, imenso
gigante a servir as gerações desta comuna, responsável pela formação
de muitos dignos iguatuenses, mas que por uma determinação do Prefeito
Agenor Neto, foi tomado, foi barrado, foi proibido aos nossos filhos,
roubando-lhes uma área física imensa, com jardins, campo de futebol,
arvores centenárias que muito contribuía para formação de nossas
crianças. E foram jogados numa caixa de fósforos, sem arborização, sem
esgoto, sem espaço para recreação. Forçando as autoridades da Escola
de Ensino Fundamental Carlota Távora a segurarem os alunos dentro de
sala de aula no horário do recreio, para não vê-los brincarem dentro
da lagoa que se transforma a área de lazer em dias de chuva,
liberando-os uma hora mas cedo, causando transtorno aos seus pais, na
sua grande maioria, gente trabalhadora , assalariada, que não conta
com este horário livre para dispor aos seus filhos. Dai portanto os
gritos do porteiro França Santos:
_ Hoje é dez! Hoje é dez!
Depois de sete anos entregue ao caos, os moradores do Bairro
Brasília estão sendo novamente lembrados pelo Prefeito Agenor Neto, e
o resultado de sua visita aquela população se mostrará eleitoralmente
proveitosa, daqui a pouco nas urnas, visto que a população tem o
coração clemente, ainda ontem, conversando com um amigo visitado pelo
prefeito naquela manhã, este afirmou-me eufórico:
_ Hoje foi dez! Ele prometeu sanear o bairro, derrubar aquelas
ruínas, dar casas aos moradores, construir uma creche, hoje foi dez!
Não reconheci o homem, pois da sua boca ouvi este depoimento,
num outro instante, numa outra visita do prefeito a sua casa:
_ Agenor, quando é que o senhor vai fazer algo aqui pelo
pessoal do Chafariz ?
_ Nunca!!!

tenho dito.

Cícero Correia Lima.