8 de dez. de 2019


Troféu Anteu
                                      Ao gigante filho da terra do Cruiri
Apoio: Prefeitura de um novo tempo
             Associação dos Idosos de Santa Edwiges
             Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Governo do Estado (SDA)
             Agropolos
             
Agricultor Alfredo Barbosa da Silva , filho do casal Honório Barbosa da Silva e Maria Gloria Passos,  nasceu dia 25 de agosto de 1925,  tendo como irmãos : José Honório Barbosa, Lauro, Augusto, André, Maria Nazaré, Santaninha Barbosa.
Meu pai quando jovem foi conhecer as terras do Amazonas ainda solteiro, fez duas viagens para lá, na terceira   já foi casado levando também o meu primeiro irmão, José Honório, foi corrido pela seca de 1915, aqui não tinha nada, nem tinha de onde chegar, podia até ter o dinheiro, mas não tinha de onde comprar. Papai toda vida teve muita saúde, nunca ficou enjoado nos trinta dias de viagem mar adentro até Manaus, mamãe  passou os trinta dias da viagem deitada, se levantasse caía de tontura, embriagada pela maré. Quando resolveu ir com a família para o Norte, já havia perdido todo o seu rebanho de fome, até cavalo que lhe  servia de montaria já havia morrido. Lá papai arranjou condições, muito trabalhador,   fabricava o açúcar mascarém, um açúcar preto, mas muito temperador, fazia  farinha, plantou o café, arranjou condições financeiras e comprou um terreno aqui no sítio Cruíri, onde estou até hoje, na época era 200 tarefas de terra, ia até o barro vermelho já na Varjota. Mas perdeu dois filhos lá, o Paulo e o João, ainda crianças de três, quatro anos, de maleita, uma febre doida transmitida pelo besouro da grande floresta. Já morando aqui no Iguatu, afirmava que o Amazonas era a terra de se viver, muita caça, muitos peixes, muitas frutas da floresta. Aí decidiu voltar, mas mamãe foi contra e lhe disse:
 - Eu não queria mais voltar, lá nunca tive saúde, lá perdi dois filhos nossos, não tenho boas lembranças do Amazonas.
E assim, papai decidiu ficar. Já nasci aqui no ano de 1925, o quinto filho da família, minha infância foi de muita brincadeira, não existia os brinquedos de hoje, brincávamos com pedras, cacos de telha, tijolos, pedaços de madeira, cavalo de pau, eu e meus irmãos André e Augusto. Com idade de seis anos já estava, justamente com meus irmãos, dentro de uma roça arrancando o mato do pé do arroz com as mãos, era uma praga de passarinhos arrancando o arroz na  cova, aí tínhamos que  ficar pastorando com uma funda, atirando pedras nos cabeças vermelho, nos casaca , não havia o pássaro preto atacando o arroz no cacho, essa praga apareceu depois. Comecei a estudar juntamente com meus irmãos aqui no Iguatu, a escola ficava aqui no bairro São Sebastião, na esquina de onde está a Casa de Saúde, víamos a pé, juntamente com as filhas de Vicente Braga, Teresinha, Anita e  Zenor, aqui não havia quem ensinasse o quarto e quinto ano, chamavam de caco de cuia, porque era muito atrasado, foi o Dr. Gouveia que mandou buscar em São Paulo, duas professoras, a Sra. Eugênia e a Sra. Iracema, a Eugênia foi minha professora no quarto ano e a Iracema no quinto ano.
Com idade de 16 anos perdi meu pai, ficando a frente de seu rebanho, que se resumiam a umas quinze cabeças de gado, nunca quis vir para o comercio como o Augusto e o Lauro. Sempre fui feliz nesta luta com o gado e com a roça, ficamos na luta da terra eu e o André.
Casei-me com a seca, no finalzinho do ano de 1957, já entrando o ano da seca grande de 1958, eu tinha umas 60 vacas paridas, vacas leiteiras, tive que vender todas para o Cavalcante, que as levou para o Maranhão, mas fiquei com a mulher, Francisca Alexandrina Barbosa, que é mãe de seis filhos meus: A Maria Glauca Barbosa, Maria Aglaene, Maria Gleuba, Maria Aglaíce Barbosa, Maria Glivia, José Glauberio Barbosa.
A luta começava cedo, às duas horas da manhã já estava no curral, tirava aproximadamente 200 litros de leite, com as duas mãos, sozinho no curral, em qualquer tempo, estivesse chovendo ou não, mas as 6 horas da manhã já havia terminado a luta com o gado e ia cuidar da roça, era como cantiga de grilo, dia e noite, noite e dia. Eu vim parar de trabalhar a seis anos, devido ao meu problema de saúde, o espinhaço dói muito, a coluna arriou. Mas estou perdendo é tempo deveria estar estudando, todo tempo é tempo, já teria me formado em medicina, uma formatura que presta, o resto é conversa. Graças a Deus sou feliz em tudo e por tudo, graças a Deus nunca me faltou a comida, o vestir, o calçado, um cavalo baixeiro, bom de galope para meu transporte. Só sinto falta de  não poder mais trabalhar, mas tá no tempo tenho 94 anos.
                                            Legítimo de Braga.




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