8 de ago. de 2019



A Missão de Santana, os Feitosas e a Confederação dos Cariris.

Diante do teu sermão, toda virtude
 A braveza das tribos se esboroa
 E amigos fazes nessa gente à-toa
 Cuja humildade te comove e Ilude.

 Por onde marchas não se morre a toa
 Afugenta paixões, ensina preces.
 Falando ao bugre em sua própria língua.

 Chegam a aldeia no sagrado empenho
 Falam de Deus... O principal vacila
 Batizam, plantam; brota a cana – é o engenho
Vem português e o ouvidor – é a vila

 Para tanto, porém, quanto suplício.
Quantas perfídias de capitães mores!
Quantas vidas de santo em Sacrifício.

Os primeiros missionários Carmelitas que passaram pela estrada nova das boiadas (Rio Jaguaribe), tinham duas missões, a primeira delas era conhecer os costumes, a língua dos nossos selvícolas e angariando lhes a confiança, a amizade, difundir lhes o evangelho do Cristo Jesus, em sua própria língua, a segunda era arrebanhar o gado que pastava solto na nossa caatinga. E com o lucro obtido com comércio deste, bancar a construção de um mosteiro no Pernambuco, esta ação chegou aos ouvidos do rei de Portugal, que os proibiu disto, afirmando que todo gado que pastava livre nestas terras pertencia à coroa Portuguesa. Naquele instante a guerra entre as famílias Feitosa, situada nos Inhamus, e os Montes, fixada no arraial de Nossa Senhora do O (Icó), alcançou o pico extremo de violência, ao ponto de cada riacho afluente do Jaguaribe ter se transformado num braço de Sangue, onde os mortos já chegavam a 400 baixas, na luta pelas posses das terras da água boa (Ig Catu), para a criação de gado.
 Neste cenário de guerra, os carmelitas se aproximaram da família Feitosa e isto os permitiu fixarem na terra a missão da telha. A construção inicial do que hoje é a Catedral de Senhora Sant’Ana, no principio, era um quadro que servia além dos atos religiosos, de cartório e de comercio. A violência exacerbada não permitia aos fieis se afastarem do seu bacamarte, nem quando rezavam, era o rosário da virgem santa numa mão e o bacamarte na outra.
 A missão se mostrou espinhosa pois os indígenas aldeados, não tinham a necessária segurança pois que eram afrontados pelos capitães mores que queriam além da posse de terra a escravidão e o extermínio do indígena, numa guerra constante, acusando-os de selvagens, bestiais, infiéis, traiçoeiros, canibais, poligâmicos, preguiçosos e mentirosos. Estes argumentos foram usados nas petições dos colonos para justificar suas ganancias, pois fortalecia o apresamento dos índios para serem vendidos como escravos para os engenhos do litoral e dava-os direito de solicitar junto às autoridades coloniais, terras nas áreas onde eram travados os combates, do que chamavam de guerra justa. Confinados num espaço de 10 léguas quadradas a que se resumia a missão, sem terem garantidos sua segurança e liberdade, só restou aos indígenas, retaliarem, fugindo das missões, atacando as fazendas, vilas e currais, matando o gado e o invasor de sua terra, nascia ai a confederação dos cariris, formada por Jandaís, Paicus, Icós, Caratius, Jaguaribaras, Cariús, Canindes, Jenipapos, Quixêlos, Tremembés e Baiacus que se mostraram os mais terríveis e constantes inimigos dos colonizadores na zona do baixo Jaguaribe. Após anos de luta entrou em ação, o temível regimento de ordenanças do Cel. João de Barros Braga, essa cavalaria vestida de couro como os vaqueiros e composta de homens conhecedores do terrenos em que cavalgavam, bem como do modo de guerrear dos indígenas, promoveu uma expedição guerreira, que subiu pelo Jaguaribe, dizimando todos os indígenas que encontraram pelo caminho, sem distinção de sexo ou idade. Firmando assim, uma paz imposta pelo poder das armas.
E o inimigo venceu.
Descendente do sol, que insaciável bebia
Como rubro cauim, todo sangue da guerra.
- Derrubou, avançando em feroz estrupido
 As tabas, os giraus, as roças do vencido.
 Ao fazer, bruto e mau, a conquista da terra.

Venceu! Mas só venceu, quando, virgem de escravos.
  Sucumbiu, nobre e livre, esse povo de bravos.
- Que honrava a liberdade aos clarões deste céu.
 Venceu! Mas só venceu quando trágica e forte
 A tribo ao perecer, pôs nos braços da morte
 Com os corpos dos heróis, seu supremo troféu.

Venceu! Mas só venceu quando o rio baixando
 Descobriu pela mata o caminho, levando o atacante feroz por argênteo rastilho.
Venceu! Mas só venceu quando o bravo, ao barulho do inimigo, ao tombar, esmagou com orgulho, na pedra do rochedo, a cabeça do filho.
Ontem, como hoje a liberdade esta sendo sacrificada sempre, por um bordado de mentiras, intrigas e falsidades propagadas pelo pode constituído de direito. A missão dos frades carmelitas iniciada em 1719 continua hoje, na propagação do evangelho do Cristo Jesus, nas terras da água boa, tendo a frente o nosso bispo Dom Edson de Castro Homem e na Catedral de Senhora Santana o Padre Roberto. Enquanto a enumeridade dos pequenos continua sendo sacrificada pelo poder constituído de Direito. Mas isto não há de ser nada, afinal Deus é eterno, e no eterno, não há passado nem futuro, por que no eterno tudo é presente.

 Tenho Dito.
Vamos pro rio!!!

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