A Missão
de Santana, os Feitosas e a Confederação dos Cariris.
Diante do teu
sermão, toda virtude
A braveza das tribos se esboroa
E amigos fazes nessa gente à-toa
Cuja humildade te comove e Ilude.
Por onde marchas não se morre a toa
Afugenta paixões, ensina preces.
Falando ao bugre em sua própria língua.
Chegam a aldeia no sagrado empenho
Falam de Deus... O principal vacila
Batizam, plantam; brota a cana – é o engenho
Vem português
e o ouvidor – é a vila
Para tanto, porém, quanto suplício.
Quantas
perfídias de capitães mores!
Quantas vidas
de santo em Sacrifício.
Os primeiros
missionários Carmelitas que passaram pela estrada nova das boiadas (Rio
Jaguaribe), tinham duas missões, a primeira delas era conhecer os costumes, a
língua dos nossos selvícolas e angariando lhes a confiança, a amizade, difundir
lhes o evangelho do Cristo Jesus, em sua própria língua, a segunda era
arrebanhar o gado que pastava solto na nossa caatinga. E com o lucro obtido com
comércio deste, bancar a construção de um mosteiro no Pernambuco, esta ação
chegou aos ouvidos do rei de Portugal, que os proibiu disto, afirmando que todo
gado que pastava livre nestas terras pertencia à coroa Portuguesa. Naquele
instante a guerra entre as famílias Feitosa, situada nos Inhamus, e os Montes,
fixada no arraial de Nossa Senhora do O (Icó), alcançou o pico extremo de
violência, ao ponto de cada riacho afluente do Jaguaribe ter se transformado
num braço de Sangue, onde os mortos já chegavam a 400 baixas, na luta pelas
posses das terras da água boa (Ig Catu), para a criação de gado.
Neste cenário de guerra, os carmelitas se
aproximaram da família Feitosa e isto os permitiu fixarem na terra a missão da
telha. A construção inicial do que hoje é a Catedral de Senhora Sant’Ana, no
principio, era um quadro que servia além dos atos religiosos, de cartório e de
comercio. A violência exacerbada não permitia aos fieis se afastarem do seu
bacamarte, nem quando rezavam, era o rosário da virgem santa numa mão e o
bacamarte na outra.
A missão se mostrou espinhosa pois os
indígenas aldeados, não tinham a necessária segurança pois que eram afrontados
pelos capitães mores que queriam além da posse de terra a escravidão e o
extermínio do indígena, numa guerra constante, acusando-os de selvagens,
bestiais, infiéis, traiçoeiros, canibais, poligâmicos, preguiçosos e mentirosos.
Estes argumentos foram usados nas petições dos colonos para justificar suas
ganancias, pois fortalecia o apresamento dos índios para serem vendidos como
escravos para os engenhos do litoral e dava-os direito de solicitar junto às
autoridades coloniais, terras nas áreas onde eram travados os combates, do que
chamavam de guerra justa. Confinados num espaço de 10 léguas quadradas a que se
resumia a missão, sem terem garantidos sua segurança e liberdade, só restou aos
indígenas, retaliarem, fugindo das missões, atacando as fazendas, vilas e
currais, matando o gado e o invasor de sua terra, nascia ai a confederação dos
cariris, formada por Jandaís, Paicus, Icós, Caratius, Jaguaribaras, Cariús,
Canindes, Jenipapos, Quixêlos, Tremembés e Baiacus que se mostraram os mais
terríveis e constantes inimigos dos colonizadores na zona do baixo Jaguaribe.
Após anos de luta entrou em ação, o temível regimento de ordenanças do Cel. João
de Barros Braga, essa cavalaria vestida de couro como os vaqueiros e composta
de homens conhecedores do terrenos em que cavalgavam, bem como do modo de
guerrear dos indígenas, promoveu uma expedição guerreira, que subiu pelo
Jaguaribe, dizimando todos os indígenas que encontraram pelo caminho, sem
distinção de sexo ou idade. Firmando assim, uma paz imposta pelo poder das
armas.
E o inimigo
venceu.
Descendente
do sol, que insaciável bebia
Como rubro cauim,
todo sangue da guerra.
- Derrubou,
avançando em feroz estrupido
As tabas, os giraus, as roças do vencido.
Ao fazer, bruto e mau, a conquista da terra.
Venceu! Mas
só venceu, quando, virgem de escravos.
Sucumbiu, nobre e livre, esse povo de bravos.
- Que honrava
a liberdade aos clarões deste céu.
Venceu! Mas só venceu quando trágica e forte
A tribo ao perecer, pôs nos braços da morte
Com os corpos dos heróis, seu supremo troféu.
Venceu! Mas
só venceu quando o rio baixando
Descobriu pela mata o caminho, levando o
atacante feroz por argênteo rastilho.
Venceu! Mas
só venceu quando o bravo, ao barulho do inimigo, ao tombar, esmagou com
orgulho, na pedra do rochedo, a cabeça do filho.
Ontem, como
hoje a liberdade esta sendo sacrificada sempre, por um bordado de mentiras,
intrigas e falsidades propagadas pelo pode constituído de direito. A missão dos
frades carmelitas iniciada em 1719 continua hoje, na propagação do evangelho do
Cristo Jesus, nas terras da água boa, tendo a frente o nosso bispo Dom Edson de
Castro Homem e na Catedral de Senhora Santana o Padre Roberto. Enquanto a
enumeridade dos pequenos continua sendo sacrificada pelo poder constituído de
Direito. Mas isto não há de ser nada, afinal Deus é eterno, e no eterno, não há
passado nem futuro, por que no eterno tudo é presente.
Tenho Dito.
Vamos pro
rio!!!
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