O onze de janeiro e a violência

20 de jan. de 2018

Legitimo de Braga 

O onze de janeiro e a violência 

Ontem, nove de janeiro de 2018, estive enquanto Lions Club Centenário João Alves Bezerra, em uma das salas da cidade universitária a convite do padre João Batista, da paroquia do Prado, juntamente com outros mecanismos da sociedade civil organizada para tratarmos do tema violência, com o intuito de criarmos em nosso Iguatu, uma campanha pela paz. Segundo números ali propagados foram 36 homicídios, 36 assassinatos ocorridos no Iguatu no ano de 2017.
Ainda há 26 de dezembro, próximo, passado, durante a celebração da missa, no seu sermão, quando lembrou os preparativos para os trezentos anos da catedral de Senhora Santana, o nosso bipo Homem, Edson de Castro afirmou:
- E também esta celebração precisa ter um cunho social, não é politico partidário, por favor! Por favor! Porque ai eu vou intervir, proibindo severamente, e devo fazer isto. Mas, que tenha uma dimensão social que ajude a melhorar a cidade, que a gente tenha consciência que precisamos melhorar, há muita coisa que não esta certa, muita coisa que é estragada, muita coisa que poderia ser renovada, transformada e sobretudo humanizada.
Foi justamente firmado neste discurso, na necessidade de humanizar a nossa sociedade que afirmei nos dois minutos que me foram dados:
- O criminoso não sai de si mesmo, nem sai do berço com passagem para o Carandiru, Bangu ou a Cadeia Publica de Iguatu, ele nasce inocente como todo ser humano, sendo na maioria das vezes uma vitima da cumplicidade das circunstancias. A sociedade capitalista, com sua ganancia pelo ter, tem formado médicos, engenheiros, advogados, mas tem deixado para traz o ser honrado, o ser honesto, o ser humilde, o ser hospitaleiro, o ser humano. Ninguém sai no Brasil hoje de uma universidade dizendo:
- Estou pronto vou servir a humanidade!
A grande maioria afirma:
- Estou pronto, vou comprar meu carro e meu apartamento.
Ainda a recordar o sermão do nosso Bispo Homem:
A terceira intenção é realmente, nos preparar para a festa de Santana, é fundamental para nossa paroquia, mas também pra cidade. É uma imagem que criou uma comunidade, criou um distrito, criou uma cidade. É preciso recuperar esta historia. Eu gostaria de saber, e quem tem que contar isto para mim são vocês.
Fiei-me então em R. Batista Aragão, quando afirma:
-... Inteiramente voltado para a região conflitante do Icó e suas adjacências, baixa portaria a 18 de agosto de 1724 , que entrega ao coronel Jorge da Costa Gadelha com ordens de se deslocar ate a região Jaguaribana... E não seria por menos, pois segundo o testemunho de insuspeitáveis fontes coevas. Vigorava por toda a parte a inexorável lei do trabuco. Ate nas igrejas, por ocasião dos exercícios dos atos religiosos, o bacamarte descansava ao lado dos penitentes.
As palavras de Dom Edson ainda fazem eco na minha cabeça:
- É do particular para o universal e não do universal para o particular. Não é do Brasil para o Iguatu, é do Iguatu para o Brasil. Não é o Ceara que precisa do Brasil, mas sim o Brasil que precisa do Ceara. 
Ainda Firmado no primeiro volume R. Batista, Historia do Ceara, temos:
...no ano de 1690 registra-se a presença de um contingente de 16 milicianos, dirigidos e comandados pelo francês Adolf Montbille. Localizam-se na taba de Meio Redondo, onde uma florescente aldeia tabajara possui o reduto mais importante da região nordestina...Que o reduto Ibiapabano ao ensejo da ocupação francesa contava com cerca de 12 mil nativos. Diz-se também que o adiantado estagio de civilização alcançado por esses indígenas com atos e costumes ate então desconhecidos na região, colocava-os entre as nações de aprimoramento cultural mais elevados na colônia. A religião por exemplo, difundira-se em cultos vários, fazendo-se registrar a existência de protestantes, rabinos e católicos... Entra o Jesuismo Inaciano na historia da colonização cearense... Decide-se o provincial Fernão Cardim do Sagrado Colégio da Companhia de Jesus, a assumir os riscos do empreendimento, designando para o Ceara dois dos seus mais dedicados lideres da pacificação nativa, os padres Francisco Pinto e Luís Figueira... Granjeara o primeiro no seio das coletividades indígenas o respeito e o amor, honras que lhe deram o merecido apelido de Pai Pina (Grande pai),... dispõe-se o jesuismo a empreender a cruzada cearense, abrindo os caminhos para as catequeses... pelo poder do convencimento levando as palavras magicas do amor fraterno... Ao cabo de ingentes sacrifícios tomam a rota da Ibiapaba. Neste trajeto final, de insólitas travessias, atingem o sopé da grande montanha. Dá-se então, a difícil escalada. No topo, recebem dos índios regionais a visita e deles recebem, também, a hospitalidade em que o milho e o jerimum formam o cardápio da fidalguia ao Pai Pina(Grande Pai)... Malgrado o protesto de humildade formulada pelos dois religiosos, são eles conduzidos em redes por ordem do morubixaba, a presença de Meio Redondo, na sua taba.
Ainda as palavras de Dom Edson, no seu sermão:
- Porque ela é uma memoria viva de um valor grande, que nós recebemos do passado e temos que levar para frente com toda nossa perspectiva verdadeira de termos um mundo melhor e que começa sempre em nossa casa, e no caso, nossa cidade.
...Frei Cristóvão de Lisboa proibiu com excomunhão venderem os índios, como faziam, dizendo que só lhe vendiam o serviço... Desenvolveu sua atividade missionaria junto aos índios, saindo em todas as circunstancias em defesa destes. Junto destes, aprendeu a língua, os costumes, e sobretudo o conhecimento da zoologia da terra. Tendo sempre como fundamento a liberdade dos nativos...Em data de 26 de fevereiro de 1626, tem-se noticias de sua presença a pisar terras cearenses, em circunstancias bastante aflitivas, depois de naufragado o navio onde viajava, pôs os pés em território habitado pela nação Tremembé, sofre terríveis aperturas, resiste, foge e termina por se homiziar-se no sitio Olho D’agua, hoje, Santana do Acaraú; onde se demora por algum tempo. Neste local e em comprimento a uma promessa feita para escapar a fúria selvagem, ergue um nicho em honra a Senhora Sant’ana, o primeiro devotado a santa em terras do Ceará.
Ontem, como hoje as leis davam como legado de honra aos fidalgos colonizadores o sacrifício da liberdade nativa A opressão individual, que em flagelo coletivo vai se transformando, cria e alimenta na alma sofrida dos que padecem as mais atrozes e insuportáveis dores. Foi esta visão de reis-mirins, visão do homem rés, que a 11 de janeiro de 1608, fez nascer o mártir da catequese cearense.
...Havia amanhecido o Pai Pina, padre Francisco Pinto, encontra-se sozinho no seu barraco, Luís Figueira tinha saído antes em companhia de um indiozinho domestico a procura de algo silvestre com que suprir o desjejum. Neste momento chegam os índios Tucurujus, nação Tapuia inimiga dos Tabajaras, e a missão sucumbe premida pela selvageria. Os índios trucidam o Pai Pina, profanando lhe o cadáver. Vitimas todos da cumplicidade das circunstancias.
E esta cumplicidade das circunstancias eternizadas na hipocrisia desta sociedade, que prefere antes do ser, o parecer, que tem sustentado através dos séculos esta opressão individual ao Zé povinho, ao João Sem Nome, que em flagelo coletivo se transformou, fazendo com que o povo perca a crença geral em nossos governantes, principalmente na classe politica.
Na reunião orquestrada pelo padre João Batista, vimos um receituário antigo para um mal crônico, receituário que tem se mostrado ineficaz, mais viaturas, mais homens, mudanças de comando, câmeras de vídeo, enfim, o fortalecimento do aparelho opressor. Quando antes, poderíamos unir toda a nossa sociedade na luta pela humanização do nosso povo. A grande pergunta é: O que cada um de nós, enquanto ser humano, pode fazer em beneficio do nosso semelhante.
Fazer uma campanha pela paz, fortalecendo o aparelho opressor e esquecendo as nossas crianças carentes, nossos velhos esquecidos em seus próprios lares, nosso habitat, nossa terra, nossas lagoas, nosso rio Jaguaribe, é como afirmou o missionário de Loyola na sala clementina do Palácio Apostólico do Vaticano, o nosso Papa e também Jesuíta, Francisco, na reunião de natal: Fazer as reformas em Roma é como limpar a esfinge do Egito com uma escova de dentes. 
Tenho dito.



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