Heitor

20 de jan. de 2018

Legítimo de Braga
                                            Heitor

  Um dia para senhor é como mil anos, e mil anos, como um dia
                                   (II Pedro cap 3 vercs. 8)

  Aproximadamente meio dia de um sábado, estamos numa tropa em media de 40 cavaleiros, debaixo de um sol inclemente no leito do rio Jaguaribe, nos aproximamos do corredor do Mundeza, corredor que corta o leito do grande rio seco, ligando as comunidades do Jenipapeiro e  Cavaco. Era ali o ponto firmado, para que acontecesse o entrevero com as forças que viriam da Santa rosa, numa simulação do combate em que foi morto Tristão Araripe, a alma afoita da Confederação do Equador, presidente da província do Ceará naquele período. Na nossa frente a figura de um Centauro da Caatinga nos espera impávido, não ri e a sua natureza contemplativa revela-se no olhar fixo  e Vago, os seus pensamentos logo se Manifestaram em palavras. Chama-se Antonío Biôs, vestido com gibão, perneiras e chapéu de couro, revela-nos:
 Sou filho do velho José Biôs e de Dona Pezinha, nasci aqui do sitio Tambiá, a 29 de Janeiro de 1937, me criei com mais oito  irmãos aqui do Cavaco para o Tambiá. Hoje estou só para recebe-los, profissão de Vaqueiro esta morrendo na minha juventude isto aqui era uma mata rica, Canafistas, Mutambeiras, mufumbo, unha de gato, oiticica, a sombra da oiticica é mais fresca que o orvalho da noite, pois a sombra conserva o molhado, havia muitas nas margens do rio, onde famílias pobres tinham a sua safra das  amêndoas desta arvore, que eram negociados na CIDAO para fabricação do oleio. Éramos oito, dez, quinze vaqueiros quando saiamos a campear o gado, quando entravamos na Caatinga ficava era a esteira de mata no chão, quando dávamos uma carreira num boi, alguns vaqueiros também caíam.
 Enquanto cavalgamos, o pensamento me levava ao passado, a pouco mais de cem anos, ainda no ano de 1916 o Iguatu inaugurava sobre o rio Jaguaribe, a ponte ferroviária, estavam naquele momento ali mais de mil Iguatuenses entre eles o monsenhor Coelho, e o Prefeito municipal Eduardo Lavor. Ainda na manhã daquele sábado, estivemos todos assistindo a celebração que deu inicio a cavalgada cívica ecológica, ao lado da ponte ferroviária, momento dirigido pelo Padre Anastácio, ao meu lado o Prefeito Ednaldo Lavor. Mergulhei mais fundo nos meus devaneios, me vi as margens do rio Escamândrio que banhava a cidade criadora de cavalos, cidade também conhecida pelos seus ricos ganhos no comercio portuário, pelas roupas pomposas dos seus habitantes, pela produção de ferro e por suas maciças muralhas,  cidade de Troia. Troia, defendida pelo príncipe Heitor, que lutava por sua pátria e por tudo que ela representava, general das tropas troianas, também chamado pelo apelido de domador de cavalos, Heitor que por sua força, coragem, e eficácia na guerra derrotou com seu braço 28 heróis gregos, Heitor que reconhecendo a importância daquele rio para sua amada Troia, deu ao seu único filho o nome de Escamândrio. Mas que o seu povo, por amor a ele, o chamava de Astíanax.
  Fui trazido a realidade por gritos apreensivos e cuidadosos:
-Heitor! Força Heitor! Por ai não Heitor! Por aqui! Por aqui Heitor!
Era o prefeito Ednaldo Lavor que orientava uma criança  que o acompanhava naquela cavalgada.
 Fiz com que meu cavalo se aproxima-se do dele e interpelei-o:
- Quem é o menino?
-É meu filho Heitor.
Agradeci intimamente a Deus por aquele presente, a mais de um mês que tinha convidado o Bêu Paulino para estar no final do evento prestigiando com o seu talento aquele momento, e que levasse consigo seu filho Heitor, pois eu precisava muito de um Heitor ao meu lado, para através dele, lembra o príncipe Troiano, e a formação do Homem antigo. Por motivos outros, não consegui o meu intento, agora o senhor Deus me colocara um Heitor ali do meu lado, cavalgando junto com seu pai. Ainda no dia anterior eu fui com meu filho José ao Tambiá buscar um cavalo. Que o Chiquinho Almino havia me emprestado para que meu filho também estivesse ali. Abri bem os olhos e os ouvidos e comecei a identificar alguns pais que tinham a graça, naquele momento, de contar com se filho ali do seu lado, fortalecendo aquele contato, Homem, cavalo, natureza, amizade e liberdade. Logo localizei Pele  com seu filho Aurélio, o Babau com seu filho Railan, o Josias Lucas com seu pai Chico de
Zuca, o Breno Teixeira com seu filho Raí, o Erivaldo do sindicato dos trabalhadores rurais com seu filho Herbert.
A missão que me havia imposto estava cumprida, com a graça de Deus, tinha feito ressurgir Troia. Como nos conta Virgílio, no Eneida
... Entretanto, o Patriarca Enéias, antes que terminasse o certame, chama para junto de si o guardião e companheiro do menino Iulo, Epitides, e diz-lhe ao ouvido: Vai dizer a Ascânio se tem consigo à tropa Juvenil e se já preparou as corridas de cavalo. Que ele traga as turmas para homenagear seu Avô... Os meninos avançam, e diante dos olhos do pais resplandecem nos cavalos dóceis ao freio. Toda a Juventude da Sicília e de troia murmura de admiração ante os que chegam... Uma coluna de jovens avança com orgulho comandada pelos jovem Priamo, que revive o nome do avô... Outro é Atís, de onde veio a estirpe Latinados Acios. O ultimo que sobrepuja a todas pela beleza, é Iulo, montado num cavalo Sidônio, que a bela Dido lhe oferecera como lembrança a prova de afeto... Ascânio teve a iniciativa de reviver a tradição... quando rodeou Alba longa de muralhas e ensinou os antigos latinos a celebrar estes jogos, como fazia, como ele próprio a juventude Troiana. Os albanos os ensinaram aos seus descendentes, dali recebeu a grande Roma e a conserva como tradição nacional.
Eram estas imagens que eu estava vendo ali, naquele momento, no leito grande rio seco, quando de mim se aproximou montado num cavalo de duas cores, com manchas brancas, e que mostra, fogoso, a ponta branca dos pés e magnifica cabeça branca, Breno Teixeira:
- Eu escutei tua conversa com o Prefeito, a respeito do filho dele.
- Gostei do menino, estar expulsando os seus medos, no lombo de um cavalo, magnifico.
- Vou te contar uma do Heitor. Tu sabe que eu gosto muito de cavalo. Na exposição ele apareceu lá no parque, montado num cavalo sem muita beleza, eu então querendo brincar com ele, afirmei:
 - Você Heitor, filho do prefeito, montado num pangaré deste. Pode ao teu pai pra comprar um cavalo raciado, bonito, pra você.
- Meu pai foi eleito foi para diminuir o sofrimento do povo, não foi  para comprar cavalo para mim.
Naquele momento, recordei um instante presenciado por mim, no Rotary Club quando convidado para um jantar enquanto Lions Club João Alves Bezerra, estava sentado com outros companheiros, quando o Prefeito Ednaldo Lavor entrou e saiu cumprimentado a todos ali presente, mesa por mesa. Depois sentou-se no centro de um mesa cumprida com varias cadeiras, seu filho sentou ao seu lado. Naquele momento o Júlio Cesar chega para ele e afirma:
- Esta cadeira não é para o filho do prefeito, é para o cheleléu.
O menino diante daquela afirmação, levanta-se, cedendo a cadeira para o Júlio Cesar. Minutos depois  entra o Cel. Adjair, que depois de cumprimentar a todos, senta na cadeira a direita do prefeito. Estava com seu traje de gala, repleto de medalhas e brilho. Isto, chamou a atenção da criança que para ele se dirigiu e perguntou:
- E quem é o senhor?
- Eu! Eu sou o Coronel.
- E quem manda mais, é o Coronel ou cheleléu?
Ao finalizar o evento na comunidade do Jenipapeiro, durante confraternização patrocinada pelo gestor público municipal, a secretaria de cultura, Lucinha Felipe, trouxe algumas prendas para presentear aos participantes, o vaqueiro mais velho, o mais jovem, a mais bela amazonas. Quando pediu que  apresenta-se o mais jovem, surgiu a figura de um vaqueiro nato, valente como as armas, filho de Babau, lá do sítio Fomento, que tinha durante o percurso dado algumas demonstrações de coragem indômita em cima do seu cavalo:
- Qual seu nome?
- Railan Almeida silva.
- Qual sua idade?
- 12 anos.
Alguém  grita do meio do povo:
- O Heitor tem 10 anos, é dele o premio, é dele o chapéu.
O Heitor e logo levado para mesa, e é lhe entregue o mimo. Sai com o premio na mão e se dirigindo ao menino Railan, afirma, enquanto lhe entrega o chapéu:
- É seu o premio e foi bem merecido.
  Naquele momento fiz a leitura deste prenuncio do céu, a causa maior do rio da onça (Jaguaribe). Estava diante de mim, Astianax, o príncipe da cidade e havia abraçado a nossa causa.
Tenho dito.

Feliz Natal! Feliz ano novo!

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