Legítimo de
Braga
Heitor
Um dia para senhor é como mil anos, e mil
anos, como um dia
(II Pedro
cap 3 vercs. 8)
Aproximadamente meio dia de um sábado,
estamos numa tropa em media de 40 cavaleiros, debaixo de um sol inclemente no
leito do rio Jaguaribe, nos aproximamos do corredor do Mundeza, corredor que
corta o leito do grande rio seco, ligando as comunidades do Jenipapeiro e Cavaco. Era ali o ponto firmado, para que
acontecesse o entrevero com as forças que viriam da Santa rosa, numa simulação
do combate em que foi morto Tristão Araripe, a alma afoita da Confederação do
Equador, presidente da província do Ceará naquele período. Na nossa frente a
figura de um Centauro da Caatinga nos espera impávido, não ri e a sua natureza
contemplativa revela-se no olhar fixo e
Vago, os seus pensamentos logo se Manifestaram em palavras. Chama-se Antonío
Biôs, vestido com gibão, perneiras e chapéu de couro, revela-nos:
Sou filho do velho José Biôs e de Dona
Pezinha, nasci aqui do sitio Tambiá, a 29 de Janeiro de 19 37, me criei com mais oito irmãos aqui do Cavaco para o Tambiá. Hoje
estou só para recebe-los, profissão de Vaqueiro esta morrendo na minha
juventude isto aqui era uma mata rica, Canafistas, Mutambeiras, mufumbo, unha
de gato, oiticica, a sombra da oiticica é mais fresca que o orvalho da noite,
pois a sombra conserva o molhado, havia muitas nas margens do rio, onde famílias
pobres tinham a sua safra das amêndoas
desta arvore, que eram negociados na CIDAO para fabricação do oleio. Éramos
oito, dez, quinze vaqueiros quando saiamos a campear o gado, quando entravamos
na Caatinga ficava era a esteira de mata no chão, quando dávamos uma carreira
num boi, alguns vaqueiros também caíam.
Enquanto cavalgamos, o pensamento me levava ao
passado, a pouco mais de cem anos, ainda no ano de 1916 o Iguatu inaugurava
sobre o rio Jaguaribe, a ponte ferroviária, estavam naquele momento ali mais de
mil Iguatuenses entre eles o monsenhor Coelho, e o Prefeito municipal Eduardo
Lavor. Ainda na manhã daquele sábado, estivemos todos assistindo a celebração
que deu inicio a cavalgada cívica ecológica, ao lado da ponte ferroviária,
momento dirigido pelo Padre Anastácio, ao meu lado o Prefeito Ednaldo Lavor.
Mergulhei mais fundo nos meus devaneios, me vi as margens do rio Escamândrio
que banhava a cidade criadora de cavalos, cidade também conhecida pelos seus
ricos ganhos no comercio portuário, pelas roupas pomposas dos seus habitantes, pela
produção de ferro e por suas maciças muralhas, cidade de Troia. Troia, defendida pelo
príncipe Heitor, que lutava por sua pátria e por tudo que ela representava,
general das tropas troianas, também chamado pelo apelido de domador de cavalos,
Heitor que por sua força, coragem, e eficácia na guerra derrotou com seu braço
28 heróis gregos, Heitor que reconhecendo a importância daquele rio para sua
amada Troia, deu ao seu único filho o nome de Escamândrio. Mas que o seu povo,
por amor a ele, o chamava de Astíanax.
Fui trazido a realidade por gritos
apreensivos e cuidadosos:
-Heitor!
Força Heitor! Por ai não Heitor! Por aqui! Por aqui Heitor!
Era o
prefeito Ednaldo Lavor que orientava uma criança que o acompanhava naquela cavalgada.
Fiz com que meu cavalo se aproxima-se do dele
e interpelei-o:
- Quem é o
menino?
-É meu filho
Heitor.
Agradeci
intimamente a Deus por aquele presente, a mais de um mês que tinha convidado o
Bêu Paulino para estar no final do evento prestigiando com o seu talento aquele
momento, e que levasse consigo seu filho Heitor, pois eu precisava muito de um
Heitor ao meu lado, para através dele, lembra o príncipe Troiano, e a formação
do Homem antigo. Por motivos outros, não consegui o meu intento, agora o senhor
Deus me colocara um Heitor ali do meu lado, cavalgando junto com seu pai. Ainda
no dia anterior eu fui com meu filho José ao Tambiá buscar um cavalo. Que o
Chiquinho Almino havia me emprestado para que meu filho também estivesse ali.
Abri bem os olhos e os ouvidos e comecei a identificar alguns pais que tinham a
graça, naquele momento, de contar com se filho ali do seu lado, fortalecendo
aquele contato, Homem, cavalo, natureza, amizade e liberdade. Logo localizei
Pele com seu filho Aurélio, o Babau com
seu filho Railan, o Josias Lucas com seu pai Chico de
Zuca, o
Breno Teixeira com seu filho Raí, o Erivaldo do sindicato dos trabalhadores
rurais com seu filho Herbert.
A missão que
me havia imposto estava cumprida, com a graça de Deus, tinha feito ressurgir
Troia. Como nos conta Virgílio, no Eneida
...
Entretanto, o Patriarca Enéias, antes que terminasse o certame, chama para
junto de si o guardião e companheiro do menino Iulo, Epitides, e diz-lhe ao
ouvido: Vai dizer a Ascânio se tem consigo à tropa Juvenil e se já preparou as
corridas de cavalo. Que ele traga as turmas para homenagear seu Avô... Os
meninos avançam, e diante dos olhos do pais resplandecem nos cavalos dóceis ao
freio. Toda a Juventude da Sicília e de troia murmura de admiração ante os que
chegam... Uma coluna de jovens avança com orgulho comandada pelos jovem Priamo,
que revive o nome do avô... Outro é Atís, de onde veio a estirpe Latinados
Acios. O ultimo que sobrepuja a todas pela beleza, é Iulo, montado num cavalo
Sidônio, que a bela Dido lhe oferecera como lembrança a prova de afeto...
Ascânio teve a iniciativa de reviver a tradição... quando rodeou Alba longa de
muralhas e ensinou os antigos latinos a celebrar estes jogos, como fazia, como
ele próprio a juventude Troiana. Os albanos os ensinaram aos seus descendentes,
dali recebeu a grande Roma e a conserva como tradição nacional.
Eram estas
imagens que eu estava vendo ali, naquele momento, no leito grande rio seco, quando
de mim se aproximou montado num cavalo de duas cores, com manchas brancas, e
que mostra, fogoso, a ponta branca dos pés e magnifica cabeça branca, Breno
Teixeira:
- Eu escutei
tua conversa com o Prefeito, a respeito do filho dele.
- Gostei do
menino, estar expulsando os seus medos, no lombo de um cavalo, magnifico.
- Vou te
contar uma do Heitor. Tu sabe que eu gosto muito de cavalo. Na exposição ele
apareceu lá no parque, montado num cavalo sem muita beleza, eu então querendo
brincar com ele, afirmei:
- Você Heitor, filho do prefeito, montado num
pangaré deste. Pode ao teu pai pra comprar um cavalo raciado, bonito, pra você.
- Meu pai
foi eleito foi para diminuir o sofrimento do povo, não foi para comprar cavalo para mim.
Naquele
momento, recordei um instante presenciado por mim, no Rotary Club quando
convidado para um jantar enquanto Lions Club João Alves Bezerra, estava sentado
com outros companheiros, quando o Prefeito Ednaldo Lavor entrou e saiu
cumprimentado a todos ali presente, mesa por mesa. Depois sentou-se no centro
de um mesa cumprida com varias cadeiras, seu filho sentou ao seu lado. Naquele
momento o Júlio Cesar chega para ele e afirma:
- Esta
cadeira não é para o filho do prefeito, é para o cheleléu.
O menino
diante daquela afirmação, levanta-se, cedendo a cadeira para o Júlio Cesar.
Minutos depois entra o Cel. Adjair, que
depois de cumprimentar a todos, senta na cadeira a direita do prefeito. Estava
com seu traje de gala, repleto de medalhas e brilho. Isto, chamou a atenção da criança
que para ele se dirigiu e perguntou:
- E quem é o
senhor?
- Eu! Eu sou
o Coronel.
- E quem
manda mais, é o Coronel ou cheleléu?
Ao finalizar
o evento na comunidade do Jenipapeiro, durante confraternização patrocinada
pelo gestor público municipal, a secretaria de cultura, Lucinha Felipe, trouxe algumas
prendas para presentear aos participantes, o vaqueiro mais velho, o mais jovem,
a mais bela amazonas. Quando pediu que apresenta-se o mais jovem, surgiu a figura de um vaqueiro
nato, valente como as armas, filho de Babau, lá do sítio Fomento, que tinha
durante o percurso dado algumas demonstrações de coragem indômita em cima do
seu cavalo:
- Qual seu
nome?
- Railan
Almeida silva.
- Qual sua
idade?
- 12 anos.
Alguém grita do meio do povo:
- O Heitor
tem 10 anos, é dele o premio, é dele o chapéu.
O Heitor e
logo levado para mesa, e é lhe entregue o mimo. Sai com o premio na mão e se
dirigindo ao menino Railan, afirma, enquanto lhe entrega o chapéu:
- É seu o
premio e foi bem merecido.
Naquele momento fiz a leitura deste prenuncio
do céu, a causa maior do rio da onça (Jaguaribe). Estava diante de mim,
Astianax, o príncipe da cidade e havia abraçado a nossa causa.
Tenho dito.
Feliz Natal!
Feliz ano novo!
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