Legitimo de Braga
Elizeu Felix de
Lima
Aos 24 dias deste mês de Setembro, faz 23 anos que faleceu
meu tio Edmilson Correia Braga. Na minha infância, era comum, tratarmos com
seus filhos, meus primos, da morte do Elizeu Felix, do Calabaço, tio da mãe
deles, a Sra. Ledamir, filha de uma das irmãs do Elizeu, a dona Elza. Ouvíamos falar dele com orgulho, falavam dele
como um homem valente, que foi atraiçoado pelo Estado. O clima, gerado pela
prepotente atuação sócio politica do coronelismo, era para as populações de
absoluta insegurança e intranquilidade. No sertão não havia lei, nem direito,
nem justiça. Cada um se garantia como podia, os soldados, nos sertões, se
identificavam com seus parceiros de armas, seus antigos amigos, cangaceiros, camaradas
e até parentes. A crônica sertaneja registra violências inomináveis praticadas
por soldados da policia. Eis por que o sertanejo preferia hospedar um bando de
cangaceiros há uma volante policial. Os civis escolhidos para cargos de
delegado e sub delegados, quando no exercício do cargo se transformavam em pau
mandado para toda obra a serviço do chefe politico. Foi neste cenário, no início
da década de 50 que aconteceu este fato, que passo a narrar agora.
Numa festa lá pras bandas do sitio Jatobá, o Elizeu Felix em
companhia do Belquior, andou dando uns tiros pra cima. No mesmo período o
caminhoneiro Batistinha, foi intimado a delegacia de Acopiara para prestar
esclarecimentos de algo que ficou sepultado no tempo. Na ocasião, fez este
comentário:
- É isso mesmo, eu por ser pobre, assim por nada, acabo
ficando preso. Já o Elizeu Felix, porque é rico, anda desfeiteando todo mundo,
atirando pra cima e não da em nada.
O desfeitear todo mundo.
Que o caminhoneiro Batistinha havia afirmado referia-se a outro caminhoneiro
morador da Praça Caxias em Iguatu, o Marcos Vieira, que avia comprado um
caminhão fiado ao Elizeu, tendo dificuldade de honrar o compromisso, sendo
ameaçado por isto, de uma pisa.
Paraibano, tendo
fama de desassombrado, o Sargento Olímpio, logo intimou o Elizeu a comparecer
em sua delegacia em Acopiara, para prestar algumas declarações a respeito de
sua conduta naquelas terras, saber que ali naquele terreiro quem cantava de
galo era ele. O Elizeu fez pouco caso da intimação, não comparecendo à delegacia,
isso feriu e muito os brios do delegado.
Uns quinze dias
depois, o Elizeu tinha vindo da mata fresca onde participou do casamento de uma
irmã de Belquior, já era noite, e decidiu junto com o Joaquim Fernandes trocar
o feixe de mola de um de seus dois caminhões que estava quebrado, pois na
madrugada tinha que começar o trabalho, que se resumia a pegar terra na chapada
do Moura e levar para o serviço de terra planagem que esta sendo feito no nosso
futuro campo de aviação. Já passava das 10 horas da noite, o motor de energia
elétrica já havia sido desligado, o Elizeu estava com o lampião na mão,
iluminando para que o Joaquim Fernandes fizesse o trabalho de mecânica. Tinha
26 anos, era solteiro, quando de repente, um tiro. Ele afirmou:
- Me acertaram.
E foi logo caindo. Colocaram-no numa espreguiçadeira e o
levaram ao consultório do Dr. Durval Mendonça, bem próximo, na praça da matriz.
Em pouco tempo estava cercado por médicos, ainda chegaram a retirar a bala que
havia se alojado bem próximo a veia femoral, mas por volta das cinco horas da
manhã ele veio a óbito, em decorrência do sangramento constante. Sua missa de
sétimo dia foi rezada na fazenda Baixa Verde de propriedade do amigo Belquior,
pois este não compareceu ao enterro, impossibilitado que estava de andar no
Iguatu.
Na versão oficial
colhida pelo escrivão de plantão. Havia sido um tiro acidental, que ocorreu
quando o soldado Isac que estava de sentinela na Cadeia Velha, Isac filho do
meu tio avô, Ezequiel do sitio Santa Luzia, Acopiara, quando o soldado Isac,
cochilou deixando cair o fuzil que disparou, tendo a bala ricocheteado numa
pedra que mudando a direção atingiu o Elizeu Felix a uma distancia considerável.
Muita pouca sorte dele, mais uma bala perdida.
Um fato curioso, que
na época passou despercebido pelas autoridades que investigaram tal crime, foi
que o delegado de Acopiara, Sarg. Olímpio, havia viajado para o Iguatu no dia
anterior, pernoitando na casa do caminhoneiro Marcos Vieira e passado o dia
aqui pela cidade conversando com algumas autoridades.
Do senhor Paulo
Davi, ouvi a afirmação:
- De onde o soldado estava de sentinela não tinha como
acertar o Elizeu, não, era uma reta.
Do senhor Joãozinho
de Azol também caminhoneiro, ouvi esta frase:
- Meu pai tinha uma oficina no Quixelô, eu fui armeiro,
consertava e ate fabricava armas tinha muita proximidade com elas. Naquela
noite eu estava no galpão do Azol, na Floriano Peixoto, com o fundo para a João
Pessoa bem próximo de onde estava o Elizeu e o Joaquim Fernandes, aquele tiro
foi dado bem de perto, se tivesse sido um disparo de longe lá da cadeia velha,
eu saberia.
Passado mais de
sessenta anos deste acontecido, ouvindo na minha calçada pessoas que
vivenciaram aquele momento, encontro sem muito custo um elo de ligação.
*Os tiros dados pelo Elizeu foram no sitio Jatobá, Acopiara.
*A afirmação que o Elizeu andava desfeiteando todo mundo,
atirando pra cima e não dava em nada foi feito pelo caminhoneiro Batistinha,
residente em Acopiara.
*O Elizeu, também caminhoneiro, havia jurado uma pisa no
caminhoneiro Marcos Vieira.
*O Sarg. Olímpio era delegado de Acopiara.
*O delegado de Acopiara pernoitou na casa do caminhoneiro
Marcos Vieira, um dia antes de o Elizeu ser assassinado.
*O soldado Isac, responsável pelo tiro, era natural do sitio
Santa Luzia, Acopiara.
A morte do jovem
Elizeu Felix, filho do Sr. Zé Felix, proprietário de grandes extensões de terra
no Calabaço, jovem tido e havido como valente e amigo do Belquior Gomes de
Araújo, foi um golpe terrível nos correligionários da UDN. Coisas da politica
feita pelo bacamarte na época.
Tenho dito
Cicero
Correia Lima
0 comentários:
Postar um comentário