30 de set. de 2017

 Legitimo de Braga

                               Elizeu Felix de Lima

Aos 24 dias deste mês de Setembro, faz 23 anos que faleceu meu tio Edmilson Correia Braga. Na minha infância, era comum, tratarmos com seus filhos, meus primos, da morte do Elizeu Felix, do Calabaço, tio da mãe deles, a Sra. Ledamir, filha de uma das irmãs do Elizeu, a dona Elza.  Ouvíamos falar dele com orgulho, falavam dele como um homem valente, que foi atraiçoado pelo Estado. O clima, gerado pela prepotente atuação sócio politica do coronelismo, era para as populações de absoluta insegurança e intranquilidade. No sertão não havia lei, nem direito, nem justiça. Cada um se garantia como podia, os soldados, nos sertões, se identificavam com seus parceiros de armas, seus antigos amigos, cangaceiros, camaradas e até parentes. A crônica sertaneja registra violências inomináveis praticadas por soldados da policia. Eis por que o sertanejo preferia hospedar um bando de cangaceiros há uma volante policial. Os civis escolhidos para cargos de delegado e sub delegados, quando no exercício do cargo se transformavam em pau mandado para toda obra a serviço do chefe politico. Foi neste cenário, no início da década de 50 que aconteceu este fato, que passo a narrar agora.
Numa festa lá pras bandas do sitio Jatobá, o Elizeu Felix em companhia do Belquior, andou dando uns tiros pra cima. No mesmo período o caminhoneiro Batistinha, foi intimado a delegacia de Acopiara para prestar esclarecimentos de algo que ficou sepultado no tempo. Na ocasião, fez este comentário:
- É isso mesmo, eu por ser pobre, assim por nada, acabo ficando preso. Já o Elizeu Felix, porque é rico, anda desfeiteando todo mundo, atirando pra cima e não da em nada.
   O desfeitear todo mundo. Que o caminhoneiro Batistinha havia afirmado referia-se a outro caminhoneiro morador da Praça Caxias em Iguatu, o Marcos Vieira, que avia comprado um caminhão fiado ao Elizeu, tendo dificuldade de honrar o compromisso, sendo ameaçado por isto, de uma pisa.
   Paraibano, tendo fama de desassombrado, o Sargento Olímpio, logo intimou o Elizeu a comparecer em sua delegacia em Acopiara, para prestar algumas declarações a respeito de sua conduta naquelas terras, saber que ali naquele terreiro quem cantava de galo era ele. O Elizeu fez pouco caso da intimação, não comparecendo à delegacia, isso feriu e muito os brios do delegado.
   Uns quinze dias depois, o Elizeu tinha vindo da mata fresca onde participou do casamento de uma irmã de Belquior, já era noite, e decidiu junto com o Joaquim Fernandes trocar o feixe de mola de um de seus dois caminhões que estava quebrado, pois na madrugada tinha que começar o trabalho, que se resumia a pegar terra na chapada do Moura e levar para o serviço de terra planagem que esta sendo feito no nosso futuro campo de aviação. Já passava das 10 horas da noite, o motor de energia elétrica já havia sido desligado, o Elizeu estava com o lampião na mão, iluminando para que o Joaquim Fernandes fizesse o trabalho de mecânica. Tinha 26 anos, era solteiro, quando de repente, um tiro. Ele  afirmou:
- Me acertaram.
E foi logo caindo. Colocaram-no numa espreguiçadeira e o levaram ao consultório do Dr. Durval Mendonça, bem próximo, na praça da matriz. Em pouco tempo estava cercado por médicos, ainda chegaram a retirar a bala que havia se alojado bem próximo a veia femoral, mas por volta das cinco horas da manhã ele veio a óbito, em decorrência do sangramento constante. Sua missa de sétimo dia foi rezada na fazenda Baixa Verde de propriedade do amigo Belquior, pois este não compareceu ao enterro, impossibilitado que estava de andar no Iguatu.
   Na versão oficial colhida pelo escrivão de plantão. Havia sido um tiro acidental, que ocorreu quando o soldado Isac que estava de sentinela na Cadeia Velha, Isac filho do meu tio avô, Ezequiel do sitio Santa Luzia, Acopiara, quando o soldado Isac, cochilou deixando cair o fuzil que disparou, tendo a bala ricocheteado numa pedra que mudando a direção atingiu o Elizeu Felix a uma distancia considerável. Muita pouca sorte dele, mais uma bala perdida.
   Um fato curioso, que na época passou despercebido pelas autoridades que investigaram tal crime, foi que o delegado de Acopiara, Sarg. Olímpio, havia viajado para o Iguatu no dia anterior, pernoitando na casa do caminhoneiro Marcos Vieira e passado o dia aqui pela cidade conversando com algumas autoridades.
   Do senhor Paulo Davi, ouvi a afirmação:
- De onde o soldado estava de sentinela não tinha como acertar o Elizeu, não, era uma reta.
   Do senhor Joãozinho de Azol também caminhoneiro, ouvi esta frase:
- Meu pai tinha uma oficina no Quixelô, eu fui armeiro, consertava e ate fabricava armas tinha muita proximidade com elas. Naquela noite eu estava no galpão do Azol, na Floriano Peixoto, com o fundo para a João Pessoa bem próximo de onde estava o Elizeu e o Joaquim Fernandes, aquele tiro foi dado bem de perto, se tivesse sido um disparo de longe lá da cadeia velha, eu saberia.
   Passado mais de sessenta anos deste acontecido, ouvindo na minha calçada pessoas que vivenciaram aquele momento, encontro sem muito custo um elo de ligação.
*Os tiros dados pelo Elizeu foram no sitio Jatobá, Acopiara.
*A afirmação que o Elizeu andava desfeiteando todo mundo, atirando pra cima e não dava em nada foi feito pelo caminhoneiro Batistinha, residente em Acopiara.
*O Elizeu, também caminhoneiro, havia jurado uma pisa no caminhoneiro Marcos Vieira.
*O Sarg. Olímpio era delegado de Acopiara.
*O delegado de Acopiara pernoitou na casa do caminhoneiro Marcos Vieira, um dia antes de o Elizeu ser assassinado.
*O soldado Isac, responsável pelo tiro, era natural do sitio Santa Luzia, Acopiara.
   A morte do jovem Elizeu Felix, filho do Sr. Zé Felix, proprietário de grandes extensões de terra no Calabaço, jovem tido e havido como valente e amigo do Belquior Gomes de Araújo, foi um golpe terrível nos correligionários da UDN. Coisas da politica feita pelo bacamarte na época.


              
                                                  Tenho dito

                                           Cicero Correia Lima

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