Biomas e Caatinga

27 de abr. de 2017

Legitimo de Braga

Biomas e Caatinga
                                             


“Todos cantam a sua terra
Vou também cantar a minha.
Nas verdes cordas da lira ei
De torna-la rainha.”
(Gonçalves Dias)

- Três francês e cinco carioca.
- Cinco carioca e dois francês.
- Um carioca e um francês.
- Oito francês e dois carioca.
Estas frases são repetidas numa constância comum no balcão do amigo Horácio, proprietário de uma padaria que se localiza no cruzamento da José de Alencar com a 13 de Maio, exatamente onde funcionou em minha infância o bar do Ozaías, em frente ao bar do Tó, era geralmente num desses dois bares, que em minha juventude, juntamente com outros amigos tomávamos uns tragos alentados de aguardente, antes de seguirmos para o banho de rio no Bugi, nos Torrões. No outro lado da rua a residência do Sr. José Enéas Cavalcante, pai dos gigantes Didier, Liraço e Demontier, em frente à casa de jogo do Sargento Demétrio, pai do Pele. Este cruzamento sinaliza a extremidade do bairro Tabuleiro, São Sebastião, Brasília e Centro. Estou em casa, foi neste torrão que nasci, então afirmo orgulhoso e desafiador:
- Três beatos e dois cangaceiros.
Manhã de sábado, 25 de março, estou na calçada da Associação dos Idosos de Santa Edwiges, quando recebo o convite do meu filho José:
- Pai vamos tomar uma sopa de costela.
Seguimos a pé, cumprimentando alguns transeuntes, paramos um instante na oficina do Oliveira, um dedo de prosa no frigorifico do Wilsinho, quando entramos na lanchonete do Bolinha, recordo  a figura do velho Antônio Bezerra e seus filhos Ivan, Dodó, na verdade  aquela lanchonete  agora reformada pelo Bolinha já foi a mercearia do seu pai, era ali o último ponto nosso , quando partíamos  para nossas caçadas, levando sempre uma baladeira no pescoço e uma arapuca na mão seguíamos para o Cruiri, Gameleira, Tambiá. O motivo da parada ali era para comprarmos um pedaço de fumo em rola, para oferecer a Caipora para que tivéssemos uma boa caçada. Sou trazido a realidade pela voz cheia de Angústia do Bolinha:
- Seu Chico Enfermeiro morreu.
...

 Na última viagem dele ao Juazeiro, foi agora no mês de Novembro, ele confessou a Aparecida, ela sempre nos auxiliou nestes trabalhos e estar a frente da Capela de Santa Luzia:
 - Aparecida eu já me despedi da minha mãe das Dores e do meu Padrinho Cícero, eu disse a ele: Meu Padim eu quero lhe agradecer por ter atendido o meu pedido de nunca, jamais deixar acontecer algo de trágico nas estradas com os romeiros do meu Iguatu que eu trago para lhe visitar. Mas, está é a minha última viagem, por isso vim lhe agradecer e me despedir do senhor.
  Na sexta-feira à noite eu vim, como de costume, cuidar dele:
 - Pai o senhor quer jantar?
- Não minha filha.
- O senhor aceita um chá? Toma o remédio junto.
- Aceito. Mas este remédio não vai resolver nada.
- Pai, o senhor se for ao banheiro, chame a Socorro ou a Fatima.
  No sábado cedinho, na hora do banho, notei que a frauda estava enxuta:
  - Papai o senhor foi ao banheiro?
  - Fui minha filha.
  - O Senhor chamou Fatima ou Socorro?
  - Chamei meu padrinho Cicero, ele me deu forças, eu peguei no punho da rede, me levantei e fui pegando na parede até o banheiro.
   - Pai, o senhor podia ter caído, quebrado algum osso.
  - Meu tempo se cumpriu minha filha.
  - Ah lá vem o senhor falando em morte, todo mundo vai morrer.
  - Eu sei minha filha, eu sei.
  E estava consumado.

 Com toda fé, respeito, zelo devido ao Santo Natural da cidade de Assis, na Itália, de quem o nosso Chico Enfermeiro era devoto inconteste, percebi neste depoimento de sua filha Maria de Lourdes, que quem o acompanhou neste momento extremo, não foi São Francisco, mas o nosso Padrinho Padre Cicero Romão. Não por ter maior merecimento, maior valor, mas para que se cumprir-se a palavra: Tudo que ligares na terra, será ligado no céu.
 E a ordem do nosso Papa Francisco é que cantemos o nosso Bioma, a nossa Caatinga, para que conhecendo-a, passemos a ama-la. Qual de nós tem ciência que nosso Bioma abriga 178 espécies de mamíferos, 591 espécies de aves, 177 espécies de repteis, 79 de anfíbios, 241 espécies de peixes e 221 espécies de abelhas.
 Não, o nosso povo foi levado a cantar sempre o estrangeiro, numa estupidificada cultura de que nada somos, de que nada valemos. Aqui canta-se o Leão Africano, o Tigre Europeu, o Camelo Árabe, mas ninguém tem ciência das espécies que estão perecendo em nossa caatinga em decorrência do tratamento que estamos dando ao nosso rio. Quem se lembra do Jaguar, do Maracajá, do Guará, da Asa Branca. Das 221 espécies de Abelhas naturais da nossa Caatinga, ninguém conhece uma se quer, só ouvimos falar da Italiana, que alguns chamam também de Europa.

  Nesta última semana o Governo Federal montou uma força tarefa para combater a ganancia dos “grandes” frigoríficos. O ministro Maggi cobrou explicações do diretor da PF para o fato de os investigadores não terem recorrido ao corpo técnico do ministério antes de alardear ao mundo que a carne brasileira era podre ou cheia de papelão. Afirmam que o caso é grave, porque envolve a saúde dos consumidores Norte-Americanos, Japoneses, Chineses, Europeus. Já a maneira criminosa com que todos nós enquanto sociedade, temos tratado nosso Jaguaribe, jogando em suas águas todo tipo de podridão, não espanta a seu ninguém. Mas uma notícia triste corre na internet, que foram encontradas curimatãs com as entranhas repletas de larvas.

 Quando surgirá a força tarefa para salvação de nossa saúde, da nossa vida, do nosso rio, de nosso bioma, de nossa Caatinga? Porque a força tarefa que sempre nos socorreu, morava no Tabuleiro e foi estar com o senhor jesus a exatos trinta dias, deixando a todos nós órfãos. Era o médico dos pobres, o orientador espiritual de todos nós, o santo do Tabuleiro, chamava-se Chico Enfermeiro e nesta terra só fez o bem, praticou a caridade, amou o SER humano em detrimento de TER inumano, cantando sempre o padroeiro da ecologia, São Francisco. Preparou na terra com suas ações uma argamassa cuja liga constrói castelos no céu, pois sabia que a porta certa para a verdadeira riqueza, não é aumentar a fazenda, e sim diminuir a cobiça.





Fazer o bem sobre a terra
 É a grandeza suprema
 Vale mais do que um poema
 Tem mais luz do que um troféu.


 Por uma dadiva ao pobre
 Que é de Deus o grande eleito.
 Podeis comprar o direito
 Que ele goza no céu.




Muito Obrigado seu Chico!!!
   
  Vamos pro rio!!!


 Cicero Correia Lima.

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