24 de mar. de 2014



CENTENARIO.
“ Em meu pai se revia a mansidão, mas também a firmeza inabalável nas decisões estudadas com peso e atenção; a indiferença a gloria tirada do que o mundo chama de honrarias, o amor do trabalho e a perseverança; a atenção que era prestada aos que eram capazes de trazer algum aviso útil ao bem publico. A justiça sempre feita a cada qual inflexivelmente consoante o mérito; a experiência que tinha para ajuizar quando se precisava de um esforço grande ou se bastava um agir mais frouxo” . (Pensamentos – Marco Aurélio )

Há alguns dias estive na ouvidoria do município, em visita ao responsável por aquele órgão, meu companheiro de partido, o petista F. Alves. Lá a Chica do Padre me fez este pedido:
_ Escreva uma crônica sobre a Vila Centenário?
_ Para quando?
_ Para ontem! Estou brincando, mas é para agora para o aniversario da vila, dia 1º de maio, dia do trabalhador.
Com essa missão aceita, fiquei a recordar minha juventude ,ainda na infância daquela vila, toda noite eu ia em visita, a alguns dos seus primeiros moradores: O casal Fidelis e a Bastinha, o Francisco Amaro, o José Duarte, o “ Fortaleza”,  a Mirian, Dona Pedrina e seu filho Augustinho, o bar Zero Hora, noites do “ Bicho”. Falar da Vila Centenário para mim, é recordar estes amigos do meu pai, como o pasteleiro Osmar e sua esposa Socorro, afilhada do meus pais, filha do velho Nelhiço, pessoas que eu aprendi a respeitar, os amigos do meu pai são meus amigos duas vezes. Neste momento recordo de um poeta de Espanha, que ao cantar a grandeza da frota naval daquela pátria, afirmou que:  para encher tanta vela faltou vento.Por isso sucumbo , deixarei que um rezador, poeta cantador que trazia esta vila no sangue, no coração, mesmo tendo passado os últimos anos de sua velhice na Vila Coqueiro, em companhia de sua filha Nice. Todos os domingos, madrugada ainda, sempre as 5.30minutos, tomava seu banho, vestia uma calça branca, a camisa sempre azul, calçava o sapato, colocava o chapéu de massa na cabeça, peixeira na cintura e pronto, estava completo, para visitar os amigos na Vila Centenário ( Kia, Neto, Luiza...), depois a missa as oito da matina . Este roceiro,  trabalhou muitos anos na vigilância da praça da referida vila, criando nela uma prole de onze filhos, e netos. Nasceu a 12 de outubro de 1919, viu sua casa na Vila Neuma ser engolida pela serpente que se transformou o grande rio seco, na trágica enchente de 1974, era conhecido por  Sr. Tino, mas na pia batismal, recebeu o nome de Quintino Moreira Melo, tendo falecido a 04 de abril do ano de 2012, são de sua autoria estes versos:
Eu sinto uma grande tristeza/
Toda hora e qualquer dia/
Obrigando a minha natureza/
Não posso ter alegria/ E me obrigo
A escrever/ Do prefeito Adil Mendonça/ resolveu com
Sua ação/ dando o nosso material/ vendo
Nossa precisão/ Desta vez ele provou para todos/
Que não havia distinção.

Se vivia nas barracas, temendo a escuridão/
Todo mundo assombrado, aperreado com os ladrão/
Todo mundo na vila, lamentava aquele horror/
Passava dias e dias e nunca que a luz chegou/

Eu digo, e ninguém ache ruim/
Agradeço ao Dr. Gondim/
Que pela luz, muito lutou/
Veja que o Dr. Gondim tem muito trabalhado/
Fazendo a nossa defesa/
Foi urgente a Fortaleza/
E hoje estamos iluminados.

Tem um posto de saúde / e um matadouro encostado/
Pois todos tem alegria/ e muita satisfação/
Com a nova lavanderia/dirigida pelo  Romão do Alemão/

Apresentei o meu verso/
Eu digo e ninguém me priva/
Para o ano, se eu não for vivo/
Adeus ate nunca mais/
Mas a minha parte eu fiz.
Agora me dêem licença para falar dos meus, chamava-se Assis Vieira e era morador do nosso quarteirão, desde tempos que a minha idade não conta, basta dizer que, da minha casa pra dele tinha um riacho no meio, ligava-nos um pequeno pontilhão, que a administração Elmo Moreno dinamitou. Seus filhos, o José, o Francisco (Tico), o Nailton, foram meus companheiros de infância, suas filhas Judete, Lucineide, Francileide, Maria José, bem presentes. Natural do Sitio Várzea da Lama, trabalhou tanto na agricultura, como na profissão de pedreiro, bom chefe de família, sentou por décadas, toda noite, com sua senhora Dona Joanira, na calçada de sua residência a rua José de Alencar. No seu velório, todos os seus sete filho presentes, a Lucineide( Miau), que sempre o acompanhou, em todos os momentos, fazia a este declarações de amor:
_ Papai eu ti amo! Eu amo vocês tudo. Amo todo mundo.
A Maria José, morando a muito em São Paulo ao saber da doença do pai, não titubeou um instante, marchou para casa, e aqui viu findar nos seus braços, o velho pai, que tudo valia.
A Francileide recorda que, agonizando, ainda juntava forças para se preocupar com a  união da família:
_ Meus filhos, tão tudo aqui? Eu cheguei no fim, não posso fazer mais nada.
Mas o que desejo testificar aqui, que muito me enriqueceu, foi a lição que aprendi naquela casa. Sentados ao lado do caixão do irmão falecido aos 92 anos de idade, seu primogênito Bento Batista, com 94, sua irmã, Dona Mimosa aos 93 anos, e o senhor Neto Vieira, que me afirmou:
_ De nós tudo, eu sou o caçula.
_ Quantos anos Sr. Neto?
_ Eu!? 89 na cacunda e 13 filhos.
Somados ali, naquele momento, as idades daqueles quatro irmãos, 368 anos, quase quatro centenários. Recordei o primeiro mandamento com promessa na lei de Deus: Honra a teu pai e a tua mãe, como o senhor teu Deus te ordenou, para que se prolonguem os teus dias, e para que te vá bem na terra que te dar o senhor teu Deus.
Com certeza a promessa do bom e misericordioso Deus, estava se cumprindo ali, naquele momento, naquela casa. Riquezas verdadeiras, que nem a traça come, nem o cupim corroi, os filhos do casal, Pai Zuca e Mãe Pelonia.

                  Tenho Dito.

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